O faturamento de uma agência de viagens que funciona na Rocinha, maior favela da zona sul do Rio, cresceu 80% depois que o dono começou a vender passagens aéreas no carnê, uma solução para quem não tem acesso ao cartão de crédito. Com opção de pagamento em até 12 vezes sem juros, “sem comprovação de renda”, a modalidade se tornou o carro-chefe da agência. É responsável por 60% da atual receita bruta.
Mais de 90% das passagens são vendidas para moradores da comunidade que desejam visitar familiares em suas cidades de origem como João Pessoa (PB), Fortaleza (CE) e Teresina (PI), que lideram a preferência.
A agência, RC Viagens, funciona desde dezembro de 2009. Os primeiros pacotes e passagens eram vendidos no sótão da casa dos pais do turismólogo Adriano Costa, de 41 anos. “Vi que havia uma demanda. A população daqui é enorme”, diz.
No ano passado, percebeu que poderia estar faturando mais. “Muita gente deixava de comprar por não ter cartão. Fiz uma pesquisa na internet e descobri essa empresa de São Paulo, a Vai Voando, que oferece a possibilidade do carnê. Em janeiro, começamos a trabalhar com eles”, diz. No mesmo mês, mudou a agência para uma loja, com ar-condicionado e TV de LCD, no Caminho do Boiadeiro, na parte baixa da Rocinha.
O faturamento mensal, com a venda dos carnês, passou de R$ 20 mil, em janeiro, para R$ 36 mil, no mês passado. “A renda das pessoas melhorou muito nos últimos anos. Hoje, vem gente aqui para comprar pacotes de cruzeiros, querendo passar o fim de semana na Região dos Lagos, Região Serrana”, afirma Costa, que no mês que vem deve lançar pacotes para Buenos Aires.
O negócio, diz, é quase sem riscos: a passagem só é emitida quando todas as parcelas são quitadas. “Funciona como um cartão pré-pago de telefone, você só usa se comprar os créditos”. Em caso de desistência, o cliente tem de volta 75% do valor.
Para o manipulador de alimentos Herinaldo Gomes, de 32 anos, a viagem com a esposa, em 5 de outubro, terá um significado especial: será a primeira visita a Fortaleza desde que chegou ao Rio, em 2001. Sem cartão de crédito, parcelou as passagens em duas vezes no carnê. “Admito que estou um pouco nervoso, nunca viajei de avião”, afirma.
Segundo o dono da agência, casos como o de Herinaldo são comuns. “Muita gente quer saber como é o embarque, se o avião balança muito, como é quando ele sobe. Explico tudo com a maior atenção. Quando a data da viagem se aproxima, muitos passam por aqui quase todos os dias para saber se está tudo certo”.
Segundo Costa, moradores de outras regiões da cidade, como Rio das Pedras e Freguesia, na zona oeste, e Pavuna, na zona norte do Rio, têm ido até a agência. “Até de Copacabana já recebi uma cliente. Comprou passagens de ida e volta para Paris”, conta.