Deveria dedicar a coluna de hoje ao troca-troca de terrenos que ontem encerrou a sua etapa legislativa do jeitinho que queriam o Dono de Tudo e o governador Ricardo Santiago, digo, Ricardo Coutinho.
Refiro-me à ‘etapa legislativa’ por estar convencido de que essa guerra não se esgotou no front da Assembléia. Acredito que uma nova batalha, ainda mais renhida, aguarda o troca-troca na Justiça.
Porque ao Judiciário deverão recorrer os indignados com esse negócio da China em benefício de um e prejuízo de muitos. À Justiça deverão apelar os verdadeiros defensores do caráter público que devem ter os negócios de Estado.
De qualquer forma e sorte, o que aconteceu até aqui já é suficiente para me convencer também de que essa história lembra muito aquela outra, da moça que casou virgem com um rapaz de virilidade posta em dúvida pela sogra.
A ‘véia’ infernizava tanto a filha que propôs um tira-teima: a moça deveria comunicar por telegrama, logo após a primeira noite de lua-de-mel, se o maridão conseguira ‘consumar o ato’. Para tanto, combinaram um código.
– Minha filha, se o infeliz for mesmo macho e cumprir com as suas obrigações, você me manda um telegrama dizendo apenas assim: “Consumatum est” – orientou.
Pois bem, 24 horas após o casório, a mãe recebeu o esperado telegrama, mas com a seguinte e surpreendente mensagem: “Mãe, consumatum est. E oeste!”.
O que isso tem a ver com o troca-troca? Ora, caríssimos e caríssimos, o que fizeram até agora para consumar essa permuta equivale a um defloramento completo da moralidade pública e da biografia de certos envolvidos no negócio.
E tudo isso agravado por atentado violento ao pudor, literalmente falando. Ou seja, no causo da moça ou no caso dos terrenos, podem ter certeza de que a parada foi ‘consumatum est e oeste’.
‘Fichinha’ diante do que pode vir
Poderia – mas não vou – me estender na perplexidade diante da firme decisão do governador de não submeter o terreno da Acadepol à concorrência pública, o que sem dúvida seria mais vantajoso para os cofres públicos.
Poderia – mas não vou – detalhar a repulsa à forma como o governador ofende a inteligência alheia quando insiste em dizer que ficou “contra o povo” quem quis melhorar e dar transparência ao projeto e ao processo dele decorrente.
Poderia – mas não vou – avaliar a frustração de quem não conseguiu sequer vencer o governismo para amarrar o compromisso de construção do shopping e impor à avaliação dos terrenos o laudo menos lesivo ao erário.
Poderia – mas não vou, enfim – alertar uma vez mais que se a Justiça não derrubar a lei que autoriza o troca-troca do jeito que a maioria governista aprovou ontem, o Dono de Tudo pode fazer o que quiser com o terreno da Acadepol.
Ele pode, por exemplo, construir uma casa de shows. E nada de shopping! Pode também construir prédios de apartamentos de luxo. E nada de shopping! Pode ainda fazer um loteamento, faturar no mínimo R$ 70 milhões e… Nada de shopping!
Poderia cuidar de tudo isso na coluna de hoje, com novos detalhes e nuanças ainda inexploradas, mas fui convencido ontem por categorizada fonte de que o troca-troca dos terrenos é fichinha perto do que pode vir por aí.
E o que pode vir por aí é a ampliação do milionário esquema de terceirização dos serviços públicos de saúde a cargo do Estado, que começou no Hospital de Trauma da Capital e pode se estender Paraíba afora e adentro.
A Cruz Vermelha das ambulâncias
O novo capítulo dessa nebulosa história pode ter como protagonista a Toesa Service, uma empresa com sede no Rio e filiais no mesmo Estado, em São Paulo, Goiás, Distrito Federal e – tan-tan-tan-tan… – Recife!
A Toesa se diz especializada em atendimento médico pré-hospitalar, mas parece ser muito boa também em operação e manutenção de ambulâncias UTI e terceirização de força de trabalho médica e para-médica para entes públicos.
O Ricardo I teria iniciado recentemente negociações com a Toesa para contratar ortopedistas e neurocirurgiões de fora que substituiriam a maioria dos médicos filiados às cooperativas que prestam serviços ao HT e outros hospitais públicos.
Equipes inteiras da Toesa – formadas por motoristas, socorristas, técnicos de enfermagem, enfermeiros, resgatistas, médicos e pessoal de apoio – seriam contratados tanto pelo Estado como pelo Município de João Pessoa.
No esquema Toesa, as pessoas que buscam os serviços do Samu são atendidas no próprio local do acidente, o que em tese aumenta as chances de salvamento e alivia a carga do hospital para os quais forem levados os pacientes.
A suposta eficiência não esconde, contudo, o fato de que se trata de uma intermediação de serviços e de mão-de-obra e, como toda intermediação, eleva consideravelmente os custos de algo que o Estado deve e pode realizar diretamente.
Como se não bastasse a possível transferência de mais serviços públicos de saúde à exploração privada e super lucrativa, é importante saber que o Ricardo I ameaça trazer para servir ao Estado mais uma empresa envolvida em escândalos.
A Toesa é alvo de investigação do Ministério Público fluminense por suposta fraude na Secretaria de Saúde do Rio e também foi flagrada na Operação Caixa de Pandora, que destruiu o esquema Panetone de José Roberto Arruda em Brasília.
Quem quiser saber mais sobre essa empresa, entre outras fontes pode acessar o Gabeira.com, do admirável jornalista, deputado, ex-guerrilheiro e ex-candidato a governador do Rio pelo PV.
Em artigo intitulado “Mistérios da Toesa” e ilustrado com fotos de dezenas de ambulâncias ‘armazenadas’ na sede da Toesa em Bonsucesso, Fernando Gabeira questiona porque elas não circulam, se custariam em aluguel o dobro do necessário para a compra dos mesmos veículos.
Atentai e vigiai, portanto. Essa Cruz Vermelha das ambulâncias pode baixar por aqui a qualquer momento, se forem levadas a cabo e êxito as tratativas iniciadas por emissários de Sua Majestade, a quem enviei i-meio sobre o assunto desde 15 de junho passado sobre a provável vinda da Toesa para a Paraíba.
Mais uma vez, o governador não deu a menor. Mesmo assim, ao tomar conhecimento ontem de que os entendimentos entre Toesa e o Ricardo I estariam adiantados, solicitei novas informações e esclarecimentos a Sua Majestade.
Que, de novo, não deu qualquer atenção ou resposta. Mas ele sabe que nenhuma indiferença ou desprezo real me fará desistir de buscar a manifestação do governo sobre qualquer tema que julgue de interesse público. Enquanto vida e espaço tiver…