Política

Dilma ganhou fôlego por melhorar articulação política junto ao Congresso

Manifestações devem ser observadas com cautela

LM_Dilma_Cerimonia_Programa_Investimento_Energia_Eletrica_11082015_006Cientista político da FGV, Claudio Couto afirma que as manifestações deste domingo demonstram que a presidente Dilma Rousseff conseguiu ganhar fôlego. O motivo, para ele, se deve a articulação política da presidente realizada na última semana junto ao Congresso. Ainda para Couto, mesmo com a adesão menor que em 15 de março, as manifestações estão concentrando um grande número de pessoas, e devem ser observadas com cautela.

O GLOBO: Qual é o reflexo dos atos para o governo?

Claudio Couto: Dilma ganhou fôlego, não por causa da manifestação, mas porque melhorou a articulação política junto ao Congresso. Ela conseguiu melhorar o clima, afinal de contas, temos hoje um homem bomba na Câmara, que é o Eduardo Cunha. A crise começa na Dilma, claro, ela é o centro da política nacional. Mas, o grande nome da crise é o Cunha.

As manifestações perderam força?

A questão numérica tem que ser olhada com cautela. Os números criaram uma armadilha, que é o paradoxo do sucesso. Como a de 15 de março foi muito grande, tudo que vem depois acaba sendo percebido como fracasso, o que não é correto. Não são do mesmo tamanho, mas ainda são muito grandes. O alívio para o governo vem menos do refluxo das manifestações, mas do fato de ele se articular melhor dentro das instituições públicas.

Foi a primeira vez que o Aécio Neves (PSDB) participou. Qual o significado?

É consistente com aquilo que ele defende na tribuna. Se ele acredita no afastamento da presidente, era de se esperar que se fizesse ali. Não ter sido mal recebido é sinal de que os movimentos não veem de maneira tao negativa, como no passado, a presença de liderança política.

Qual é o beneficio para ele?

Ele fala para convertidos. Mas se tornar o escolhido dos convertidos não é ruim, pode posicioná-lo na disputa interna no PSDB. É um jogo de risco, depende do que acontece daqui pra frente.

Há espaço de diálogo, ainda que mínimo, dos movimentos com o governo?

Nenhum. O grupo pede a saída do governo.

Foi a primeira vez que houve manifestação no Instituto Lula. É contraponto?

Querem trazer a militância para perto e chamar a atenção para um episódio muito sério, que foi a bomba jogada contra o instituto. Mas, perto das manifestações, foi muito pequeno. Não tem capacidade de fazer contraponto real.

Qual é o fôlego dos movimentos?

Se a presidente conseguir um acerto dentro do sistema político institucional que lhe garanta sobrevivência, as mobilizações de rua tendem a esfriar. Isso, é claro, se não tivermos grande revelação nas investigações da Lava-Jato que represente reviravolta.

O Globo