ESTADÃO: Analistas agora projetam dois anos de recessão da economia

Além da piora para este ano, recuperação em 2016 perde força, aponta o Relatório Focus

MERCADO FINANCEIROPela primeira vez no Relatório de Mercado Focus, analistas do setor privado estimam queda da atividade também em 2016. Além disso, os analistas mais pessimistas também renovaram suas apostas para baixo no caso da inflação e dólar. A estimativa mais negativa agora mostra uma inflação na casa de dois dígitos em 2015 e o dólar em R$ 4, também pela primeira vez no relatório.

De acordo com o documento divulgado pelo Banco Central, a mediana das previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) do ano que vem passou de 0% da semana passada para um recuo de 0,15%. Há quatro semanas, a taxa vista era de alta de 0,33% para esse indicador.

Para este ano, a deterioração das previsões do mercado financeiro para a atividade no País também está cada vez mais forte. De acordo com o boletim Focus, as projeções para o PIB de 2015 foram revisadas de uma queda de 1,97% para uma baixa de 2,01% agora. Há um mês, a previsão estava negativa em 1,70%.

O BC, apesar de também ter revisado para pior sua projeção para este ano, de queda de 0,6% para retração de 1,1%, segue mais otimista que o mercado. No Relatório Trimestral de Inflação de junho, a instituição informou que a mudança ocorreu em função de piora nas perspectivas para a indústria, cuja expectativa de PIB recuou de -2,3% para -3%.

No boletim Focus, a projeção para a produção industrial passou por uma melhora: voltou para uma baixa de 5%, onde estava quatro semanas antes. Já para 2016, a mediana das estimativas segue em alta, mas perdeu a força mais uma vez, passando de 1,15% para 1%.

Para este ano, a deterioração das previsões do mercado financeiro para a atividade no País está cada vez mais forte

Inflação. O esforço em levar as projeções de inflação do mercado financeiro a convergirem para a meta de 2016 deu outro passo atrás no Relatório de Mercado Focus. Na semana passada, a mediana das projeções para o IPCA do ano que vem já havia subido de 5,40% para 5,43%. Agora, a mediana das previsões, de acordo com o documento, sofreu um novo ajuste e está em 5,44%.

O BC promete levar a inflação para a meta de 4,5% no fim do ano que vem, mas recentemente, a autarquia vem chamando a atenção para “novos riscos” que surgiram para o comportamento dos preços. Pelos cálculos da instituição revelados no Relatório Trimestral de Inflação de junho, o IPCA ficará em 4,8% em 2016 no cenário de referência e em 5,1% no de mercado.

No caso da inflação de 2015, houve estabilidade nas estimativas após 17 rodadas seguidas de elevação no boletim Focus. A previsão para o IPCA deste ano seguiu em 9,32%. Pela primeira vez, a projeção para o IPCA deste ano bate a marca de dois dígitos entre os analistas mais pessimistas. A estimativa máxima para este indicador em 2015 saltou de 9,84% na semana passada para 10,02% agora

No RTI de junho, o Banco Central havia apresentado estimativa para inflação de 9% no cenário de referência e de 9,1% usando os parâmetros de mercado. Na última ata do Copom, porém, o BC informou que suas projeções para 2015 também subiram mais.

Para a inflação de curto prazo, não houve mudanças. A projeção para o IPCA de agosto permaneceu em 0,30% no período. No caso de setembro, a taxa esperada é de 0,40%, a mesma do levantamento anterior.

Parte da elevada inflação é explicada pelas previsões do mercado para os preços administrados ou monitorados pelo governo – como gasolina, energia e água -, que continuam a ter uma escalada. As projeções para 2015 no Relatório Focus revelam que a mediana passou de 15,14% da semana passada para 15,20% agora. Para 2016, a expectativa no boletim Focus apresentada hoje apresentou um aumento de 5,90% para 5,92%. Quatro semanas atrás essa projeção era de 5,96%.

Juro. O mercado financeiro começa a rever suas projeções para as decisões do Copom para o ano que vem. A estimativa de que a taxa básica de juros, Selic, encerraria em 12% ao ano no fim de 2016 foi substituída no Relatório de Mercado Focus por uma taxa de 11,88% ao ano. Isso significa que ainda não há um consenso sobre a manutenção dos 12% no encerramento de 2016 ou mais uma queda, para 11,75% ao ano.

Para este ano, as expectativas ficaram inalteradas. A previsão do boletim Focus de que a Selic chegue ao final deste ano em 14,25% ao ano foi mantida pela terceira semana seguida.

Dólar. Os analistas mais pessimistas do setor privado também aumentaram sua expectativa para a taxa de câmbio ao final deste ano, que, pela primeira vez, encostou em R$ 4. Até a semana passada, a projeção mais salgada para o dólar estava em R$ 3,90. Na pesquisa geral, as estimativas para o indicador também se deterioraram, mas com menor força: esta semana, a mediana das projeções passou de R$ 3,40 para R$ 3,48, no caso de 2015, e de R$ 3,50 para R$ 3,60, para 2016.

Para este mesmo grupo de profissionais mais pessimistas, o dólar permanecerá acima de R$ 4 nos próximos anos. Para 2016 e 2017, a maior projeção encontrada na série de expectativas de mercado, está em R$ 4,10. Para 2018, a estimativa mais alta do grupo aponta para um câmbio de R$ 4,20 e, para o ano seguinte, de R$ 4,76.

Recentemente, o diretor de Política Monetária, Aldo Mendes, veio a público se pronunciar sobre o comportamento da taxa de câmbio, avaliando que a cotação do dólar estava muito acima do que apontavam os fundamentos brasileiros. Em seguida, o BC decidiu fazer uma intervenção maior no mercado, com a volta da rolagem integral dos contratos de swap cambial.

Estadão