Com corte de R$26 milhões no orçamento anual, UFCG só paga as contas até Setembro

Professores grevistas reivindicam mais recursos ao governo federal

UFCGO Comando Local de Greve da ADUFCG realizou um levantamento das informações até agora divulgada pela Reitoria sobre os cortes, mesmo que muitas sejam parciais, e montou um cenário da crise gerada pelos cortes já aplicados pelo Governo Federal na UFCG. No dia 06 de agosto, o reitor Edilson Amorim compareceu ao campus de Cajazeiras para uma audiência convocada pelo Comando Local de Greve da ADUC e Comando de Greve Estudantil (CGE) de Cajazeiras. O reitor apresentou que o corte atinge 10% dos cerca de R$60 milhões em custeio e 50% dos cerca de R$ 40 milhões de investimento, totalizando o valor aproximado de R$26 milhões. Segundo o reitor, caso não haja a reversão dos cortes e suplementação orçamentária, não será possível pagar as contas de outubro, novembro e dezembro.

O CLG da ADUFCG enviou uma representação e estudantes do CGE do campus de Campina Grande. A audiência se iniciou com a cobrança de informações claras e detalhadas sobre o impacto dos cortes na UFCG.

Além dos cortes, há atraso nos repasses. Segundo o Reitor Edilson Amorim, na gestão anterior, havia dois repasses por semana, sem atrasos, “hoje há um repasse por mês e temos que disputar na tapa os recursos do MEC”. Há uma dívida de R$ 1,6 milhão com a Imprensa oficial, atrasos no repasse a empresas terceirizadas, às empreiteiras, no pagamento de fornecedores de combustível, das contas de água, luz e telefone.

CORTES ATINGEM VIGILÂNCIA, ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL E PÓS-GRADUAÇÃO.

As verbas de custeio referem-se às despesas rotineiras da universidade, com água, luz, telefone, combustível, diárias, passagens, pagamento de terceirizados, bolsas e assistência/permanência estudantil. Com os cortes, a administração está contingenciando a ampliação de postos de serviço terceirizados, mantendo a defasagem que leva à sobrecarga dos atuais trabalhadores e desvio de função. Há postos de vigilância recém inaugurados inutilizados por falta de pessoal.

Apesar de a reitoria repetir que garantirá 100% da assistência estudantil existente, assume que não corrigirá as insuficiências. Havia um planejamento de equiparar em 2015 o valor de todas as bolsas, o que não será cumprindo, prejudicando os estudantes que continuarão a ter de se virar com valores reconhecidamente insuficientes. “A bolsa de manutenção está muito defasada, é de R$250, se tivéssemos custeio iríamos equiparar até chegar ao valor do PIBIC (R$400)”, disse o Reitor.

Em relação aos programas como PARFOR e PIBID, o crescimento da demanda não foi acompanhado pela ampliação de bolsas de 2014 para 2015.

Com o corte de 75% dos recursos do PROAP, a reitoria está retirando verbas de custeio para garantir a realização de bancas e participação em eventos. Já foram executados 65% do recurso do PROAP, enquanto apenas 25% dos recursos foram liberados, sem nenhuma garantia ou previsão de pagamento dos 75% restantes.

UFCG NECESSITA DE 72 OBRAS, MAS NÃO VERBAS.

O corte em investimentos afeta o andamento das obras. Hoje há 25 obras em execução, três estão sob embargo judicial (prédio de petróleo, de física e centro de extensão 2). Segundo o Reitor, há demanda para 72 novas obras que não poderão ser iniciadas, como o acesso ao biotério e uma nova residência estudantil no campus de Cajazeiras. Em Pombal, a Usina necessária ao curso de Engenharia de Alimentos não será construída. O reitor não informou detalhadamente quais são aos outras 69 obras que não serão iniciadas. Falta também mobiliário, há três ambientes recém-inaugurados em Cajazeiras sem móveis e o Reitor informa que não cumprirá o que foi prometido, no início do ano, aos estudantes quanto ao Serviço-escola de Psicologia.

REUNI DEIXOU CARÊNCIA DE 170 PROFESSORES.

Segundo o reitor, as vagas para docentes e técnico-administrativos são renovadas em fluxo contínuo. As vagas flutuantes de docentes pertencem ao centro, mas raramente se deslocam de uma unidade para outra, pois, segundo o próprio Reitor, “todo mundo já está no limite”. No último período houve a abertura excepcional de oito vagas novas a mais para um dos cursos de engenharia no campus de Pombal. Em 2014, a partir de levantamento em 2012 e 2013 para suprir o déficit de professores deixado pelo Reuni, a UFCG solicitou ao MEC a ampliação de 170 novas vagas para docentes, o que depende de autorização do MEC e decreto por parte do governo federal. Hoje há cerca de 20% de professores substitutos e há 10 vagas para professor visitante. Não temos informação sobre quanto professores voluntários existem, lembrando que a resolução 01/2013 da Câmara Superior de Gestão Administrativo-financeira estabeleceu a figura do professor voluntário que, em vez de salário recebe uma “honraria acadêmica”. Em junho do mesmo ano, ante a falta de docentes, foi aberto edital com 24 vagas para o curso de Enfermagem no CCBS em Campina Grande.

A ADUC denunciou que no campus de Cajazeiras, há vagas de técnicos que não foram extintas, mas que estão sendo ocupadas por terceirizados, o que vem acompanhado pelo desvio de função destes trabalhadores.

AMEAÇA DE CONTRATAÇÃO DE DOCENTES TERCEIRIZADOS VIA ORGANIZAÇÕES SOCIAIS

O reitor Edilson Amorim continua a afirmar: “Nunca ouvi falar no interior do MEC ou Andifes em contratação via Organizações Sociais”. Esta ameaça, que em 2014 foi anunciada em fala do presidente da CAPES, torna-se mais concreta com o julgamento de STF, em abril de 2015, considerando a lei das OS com constitucional. Exigimos um posicionamento formal da reitoria condenando esta tentativa de terceirização do trabalho docente.

DOCENTES QUEREM ASSEMBLEIA UNIVERSITÁRIA PARA DISCUTIR CORTES

O reitor informou que foram compostas duas comissões, uma para rever a matriz orçamentária e outra com os diretores de centro para redefinir o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI). O resultado das comissões seria levado ao Colegiado Pleno. O CLG considera que não se trata de nos adaptarmos aos cortes, mutilando as já precárias condições de estudo e trabalho, mas sim fortalecermos o movimento contra os cortes, o que hoje significa o fortalecimento da greve. Por isso exige que após o fim da greve, seja feita a convocatória da Assembleia Geral Universitária, com estudantes, professores e técnicos-administrativos, a comunidade defina medidas para exigir do governo federal a reversão dos cortes e suplementação orçamentária necessária.

REITORIA ATUA CONTRA GREVE

Na audiência, o Reitor Edilson Amorim classificou como “ambígua” a postura do Colegiado Pleno de aprovar uma moção de apoio e não suspender o calendário. O movimento respondeu que esta foi a postura defendida pela administração central, contando com o voto do próprio Reitor. A administração insiste em convocar reuniões das câmaras, desconsiderando a greve das três categorias, uma vez que a falta dos integrantes é passível de punição ou prejuízo ao não se interferir nas decisões tomadas. O desrespeito mais recente foi a circular enviada pela Pró-reitoria de Ensino (PRE) cobrando dos coordenadores o quadro de disciplinas para a matrícula no semestre letivo seguinte. Trata-se de uma violação do direito de greve, pois implica necessariamente na realização de reuniões para formar o quadro de disciplinas. O Reitor se mostrou surpreso e comprometeu-se publicamente a orientar a PRE a suspender as matrículas, porém, até o momento não houve suspensão da orientação da PRE.

Foi cobrado que o reitor apresente estas informações oficialmente, posicione-se contra os cortes e a ameaça de contratação de professores terceirizados, via Organizações Sociais. Ademais, o movimento exigiu resposta às reivindicações das pautas locais dos estudantes, técnicos e docentes.

ADUF