NOBLAT: 'Guido Mantega é insultado em restaurante. Não gosto disso. Mas compreendo'

Mantega pedalou, pedalou, deixou que o governo gastasse além do que podia só para reeleger Dilma, e foi embora humilhado. Soube de sua demissão pela imprensa

imageEm restaurantes de Brasília, ouvi desaforos gritados contra mim quando dirigia a redação do Correio Braziliense entre 1994 e 2002. E quando Joaquim Roriz governava o Distrito Federal.

O jornal denunciava as tramoias de Roriz. E ele, mais de uma vez, pregou um boicote à leitura do Correio. Seus correligionários eram maioria na cidade. E atacavam o jornal sempre que podiam.

O Correio acabou por se render às promessas de Roriz de encher-lhe os cofres com dinheiro. Saltamos do jornal eu e seu presidente, o jornalista Paulo Cabral.

Eleito, depois, senador, Roriz acabou renunciando ao mandato para não ser cassado por quebra de decoro. Metera-se no caso esquisito da falsa e milionária compra de esperma de gado. Danou-se.

Nunca chamei de fascistas os que me desacatavam. Não que aprovasse o gesto deles. Mas por entendê-los. Mesmo não gostando, eu me tornara uma pessoa pública. Para o bem e para o mal.

Virou moda para notáveis servidores e ex-servidores do PT chamarem de fascistas os cidadãos que protestam publicamente quando os encontram. Imagino o incômodo que sofrem.

Ontem, em um restaurante de São Paulo, o ex-ministro Guido Mantega, da Fazenda, ouviu poucas e boas enquanto almoçava. Não aprecio coisas do gênero.

Desacatos não derivam só do temperamento rude dos seus autores. Têm a ver também com a arrogância dos seus alvos. Em geral, os políticos não pedem desculpas pelos erros que cometem.

Dos partidos, o PT é o campeão da arrogância. Ao estourar o escândalo do mensalão, que ameaçou derrubar o governo, o então presidente Lula foi à televisão e pediu desculpas aos brasileiros.

Mentiu, é claro, por dizer que de nada sabia e que fora traído. Jamais deu nomes aos traidores. E uma vez que se reelegeu, passou a negar que o mensalão existira. Cinismo de primeira.

Mantega pedalou, pedalou, deixou que o governo gastasse além do que podia só para reeleger Dilma, e foi embora humilhado. Soube de sua demissão pela imprensa.

Pela segunda vez, foi insultado em São Paulo, fortaleza do antipetismo. Não digo que fez por merecer. Ninguém merece ser destratado. Mas compreendo.

Blog do Noblat