Carta aberta - Rubens Nóbrega

Senhor Empresário,

Esta é para lhe apresentar algumas sugestões que considero válidas e oportunas. Salvo melhor juízo e ingenuidade de minha parte, elas podem aumentar exponencialmente os lucros dos seus negócios futuros e já consolidados.

Tomo essa liberdade pelo fato de ser público e notório que Vossa Senhoria será um dos mais ou o principal beneficiado pelo primeiro – e até aqui praticamente único – grande projeto do governador Ricardo Santiago, quer dizer, Ricardo Coutinho.

Refiro-me ao projeto de lei que se encontra na Assembléia para legalizar o troca-troca do terreno da Acadepol por um bem mais barato e menor localizado no Geisel, de propriedade de empresa de um sócio seu.

Adianto-lhe que escreveria essa carta aberta, nestes termos, com ou sem desfecho a seu favor na Assembléia.

Esclareço, de logo, que não acompanhei durante todo o tempo e até o fim a sessão legislativa que tratou do projeto, ontem. Desliguei o rádio e dispensei a tevê antes de qualquer votação.

Fiz isso, senhor empresário, porque determinados pronunciamentos, posicionamentos e procedimentos me causam ânsias de vômito. Comecei a engulhar ao ouvir certas coisas e lembrar outras.

Tenho estômago fraco. O que é um problema enorme neste meu ofício, pois muitas vezes sou obrigado a abordar alguns temas que me são profundamente nauseantes. Mas… Vamos ao que interessa.

Bem, já que o assunto é troca-troca, recomendo ao senhor trocar a segurança do seu estabelecimento por homens da Polícia Militar. Armados, fardados, tudo bonitinho. Policiamento ostensivo dentro do shopping, em vez de guarda particular.

Já pensou na economia que o senhor faria? Tenho certeza de que o governador não lhe negaria ou não lhe desobedeceria, se o senhor pedisse ou ordenasse.

Da mesma forma, sugiro trocar a sua Brigada de Incêndio por uma equipe do Corpo de Bombeiros. Seria outra economia grande que o senhor faria.

Para o posto de saúde que o senhor instalou no subsolo, requisite médicos e enfermeiros do Estado, preferencialmente pessoal do Hospital de Trauma que tenha se habituado aos métodos gerenciais da ‘Cruz Vermelha’.

Peça também ao governador ou ao prefeito da Capital – tanto faz – que ceda equipes da Zona Azul para operar o seu estacionamento. Seria mais um custo razoável que o senhor eliminaria, não é verdade?

Quanto aos estacionamentos do lado de fora, ou melhor, nas ruas de Manaíra que são feitos rios desaguando no mar do seu shopping, aí não tem problema.

Pode continuar o mesmo esquema, ou seja, sob vigilância dos amarelinhos a postos para multar quem tenta não usar o estacionamento pago do shopping.

Afinal, pra que servem todas aquelas placas de estacionamento proibido nas ruas de acesso perpendiculares ao shopping?
Quanto ao terreno de Mangabeira que o governo quer porque quer lhe passar, e como o projeto do governo não obriga construir shopping ou coisa alguma no local, eu, sendo o senhor, loteava a área. Loteava e vendia.

Pelas contas de quem é do ramo, senhor empresário, fatiando em lotes de 10 por 30 metros dá pra apurar mais de R$ 70 milhões em uma área que, segundo a avaliação oficial mais generosa, vale R$ 21 milhões.

E tudo isso livre, líquido e certo. Com uma grande vantagem: preocupação zero com construção. Já pensou o quanto economizaria de aborrecimentos?

Agora, se o senhor quiser mesmo construir uma casa de shows ou – vá lá! – um shopping, não se precipite em gastos desnecessários. Não precisa, por exemplo, contratar engenheiros nem arquitetos, pelo menos.

Exija que o governo lhe coloque à disposição os melhores engenheiros e arquitetos do quadro do Estado. E contra quem se recusar a colaborar mande logo abrir processo disciplinar, que é pra essa galera saber quem manda!

Se brincar, é até possível que o governo lhe arranje também a peãozada da obra. Só pra lhe agradar. Afinal, prestígio e moral o senhor já provou que tem de sobra junto a esse governo.

Por fim, senhor empresário, já que a sua Lamborghini aprendeu o caminho da Granja Santana, que tal fazer também o troca-troca das residências oficiais?

Isso mesmo: o senhor vai morar na Granja e cede a sua mansão no Bessa para o governador. Aposto como vai ficar bacana.
Bem, eu teria mais sugestões pra fazer, mas vou deixar pra outro dia.

Desculpe se não faço todas elas de uma vez. Mas, sabe como é… Com esse meu estômago fraco, até quando me demoro escrevendo sobre esse assunto começo a ficar enojado, quer dizer, enjoado.
Cordialmente, Rubens Nóbrega.
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PS: cada vez me convenço mais da validade do slogan que lancei semanas atrás. É aquele que diz assim: “Chega de intermediários! Roberto Santiago para prefeito ou governador”.

Licitação sob suspeita

Eleva-se cada vez mais o conceito do jornalista Clilson Júnior. O colega é a principal – e no momento talvez a única – referência de bom jornalismo investigativo e instigativo da Paraíba.

Ontem, por exemplo, Clilson botou pra ver a banda passar na história da licitação de R$ 87 milhões que o Ricardo I quer fazer para gastar essa fortuna do contribuinte, do dinheiro do povo, para promover publicitariamente o reinado.

Segundo Clilson postou em sua coluna no portal Clickpb, esgotou-se anteontem o prazo para o governo publicar – e o governo não publicou – os nomes da subcomissão técnica da licitação que seriam submetidos a sorteio.

Agora, além de não saberem quem julgará suas propostas, os potenciais interessados também não sabem quais valores serão contratados com as empresas vencedoras da licitação.

O edital da Secretaria de Comunicação Social do Estado omite esses ‘detalhes’ que, lembra Clilson, são exigências legais.
O jornalista aponta outras questões que reputa como irregularidades no edital e no processo. E tudo com argumentos sempre muito consistentes e convincentes. Recomendo a todos que acessem a coluna do Clilson no Click.

No mais, resta dizer que as constatações do jornalista impõem, no mínimo, duas iniciativas ou atitudes: esclarecimentos da própria Secom e uma averiguação urgente da auditoria do Tribunal de Contas do Estado.