Venerando o chefe, preservando o cargo. O saco-puxado dói.

Amadeu Robson Cordeiro – Auditor do Fisco

Ao longo da minha vida profissional conheci pessoas boa índole e outras tantas de personalidade dúbia. Faz parte do jogo, mas é difícil saber viver e conviver com diferenças tão gritantes.

Lendo um artigo de Francisco Passos se constata que não é privilégio da modernidade, mas desde primórdios que estudiosos da evolução humana tentam decifrar o desvio de comportamento que acomete alguns bajuladores que têem verdadeira devoção por seus superiores.

Daí, pergunto: Você, caro leitor, conhece algum puxa-saco? Com certeza sim, e fica difícil enumerá-los.

O motivo da confecção do presente artigo é fruto da sagacidade, da mediocridade e da escondida falta de competência de alguns, que mesmo na convivência do século XXI, teimam em atormentar a vida de profissionais para se manterem no colo manso do poder.

E viva a hierarquia dos puxa-sacos.

Como a repartição pública é o habitat natural dessa praga, ali ele nasce e muitas vezes reproduzem aos borbotões, se adaptando com facilidade as convivências e conveniências do patrão.

O articulista ao fazer citação do livro “Carinho e Devoção”, uma espécie de manual do bajulador, escrito no século IV a. C; faz ver que o cérebro do puxa-saco é muito pequeno, fato que dificulta seu raciocínio para tarefas que exigem certas habilidades, tais como: fazer com a razão e por obrigação institucional projetos sob seu comando; ser verdadeiro; olhar nos olhos do seu interlocutor, ou simplesmente, andar de bicicleta, jogar dama e porrinha. Ele geralmente é um sujeito solitário, não tem muitos amigos, por isso assedia o chefe com fidelidade canina. Se alguém comete algum desatino contra o seu tutor ou padrinho político, o mesmo é capaz de se transformar no mais hercúleo dos homens. Não é tão apegado ao dinheiro, mas adora o poder. Uma das características mais melosa do bajulador é não primar pela fidelidade, apegando-se abruptamente ao sucessor de seu superior hierárquico no momento em que este mais precisa de sua devoção, o que me induz a crer que tudo depende do osso que lhe derem para roer.

Concluindo o pensamento do citado articulista, pode-se observar que a maioria dos puxa-sacos é formada por homens; as mulheres que são puxa-sacos costumam ter intimidades com seus superiores e que todo puxa-saco é arrogante.

Colocando-me, na ala dos críticos, também creio que podemos até menosprezar a capacidade do puxa-saco, no entanto sem retirar uma de suas qualidades máximas: a dedicação à família. Talvez por isso Nelson Rodrigues tenha comentado com tamanha convicção que “geralmente o puxa-saco dá um marido e tanto”. É muita hipocrisia.