247 – Prática rara na Folha de S. Paulo, o editorial de página inteira foi utilizado neste domingo para que o jornal explicitasse sua posição contra o atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
No texto Submissão, a Folha, conduzida por Otávio Frias Filho, bate duro no parlamentar fluminense. “O ativismo legislativo que se iniciou com a gestão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara dos Deputados, e que Renan Calheiros (PMDB-AL) não deixou de seguir no Senado, possui o aspecto louvável de recuperar para o Parlamento um padrão de atuação e de debate por muito tempo sufocado”, diz o texto. “Essa aparência de progresso institucional se acompanha, porém, dos mais visíveis sintomas de reacionarismo político, prepotência pessoal e intimidação ideológica.”
“Nos tempos de Eduardo Cunha, mais do que nunca a bancada evangélica se associa à bancada da bala para impor um modelo de sociedade mais repressivo, mais intolerante, mais preconceituoso do que tem sido a tradição constitucional brasileira”, avança a Folha.
O jornal também questiona a forma como se tem feito a reforma política. “Eduardo Cunha atropelou as próprias instâncias institucionais ao impor ideias como a do distritão na pauta de votações”, diz o texto. “A toque de caixa, questões intrincadas como a do financiamento às campanhas eleitorais sofreram apreciações seguidas, e nada comprova mais a precipitação do processo do que o fato de que, em cerca de 24 horas, inverteram-se os resultados do plenário.”
Numa frase que resume o circo, a Folha afirma que o “cidadão assiste a tudo sem sentir que foi consultado”.
Qual é o resultado disso? “No meio dessa febre decisória, há espaço para que o Legislativo comece a transformar-se numa espécie de picadeiro pseudorreligioso, onde se encenam orações e onde se reprime, com gás pimenta, quem protesta contra leis penais duras e sabidamente ineficazes”, diz o texto. “Os inquisidores da irmandade evangélica, os demagogos da bala e da tortura avançam sobre a ordem democrática e sobre a cultura liberal do Estado; que, diante deles, não prevaleça a submissão.”