A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quarta-feira no México que é “extremamente estável” a posição dos ministros Joaquim Levy, da Fazenda, e Nelson Barbosa, do Planejamento, em seu governo e que não existe conflito entre os dois integrantes de sua equipe econômica. Ela lamentou “profundamente as declarações do senador Lindbergh Farias” (PT-RJ), que segundo a presidente “equivoca-se bastante” ao pedir o fortalecimento de Barbosa, que representaria a ala desenvolvimentista do governo, contra Levy. O ministro da Fazenda queria cortes maiores até R$ 10 bilhões no contingenciamento de R$ 69,9 bilhões anunciado sexta-feira passada, ao qual ele faltou.
Lindbergh – próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apontado nos bastidores como fonte de fogo amigo contra Levy – discursou contra o ajuste fiscal ontem no Senado e foi um dos três senadores petistas que votaram contra a MP 665, que muda as regras do seguro-desemprego e de concessão do abono salarial. A medida provisória é um dos pilares do ajuste fiscal.
– A posição do Joaquim Levy e de Nelson Barbosa no governo é extremamente estável. Nunca houve, desde que assumiram as suas funções, nenhum problema com eles – afirmou Dilma.
Para a presidente, “o senador Lindbergh Farias equivoca-se bastante quando faz essa diferenciação entre o ministro Levy e o ministro Nelson Barbosa”:
– Eles têm uma posição de unidade em torno do ajuste fiscal. Acho que o senador está tentando construir um conflito onde não existe.
Dilma salientou que participou de todas as discussões do contingenciamento do Orçamento da União e elogiou o trabalho de sua equipe econômica.
– O ministro Levy é um ministro dedicado, batalhador e trabalhador. Ninguém pode tirar isso do ministro Levy e também não pode tirar isso do ministro Nelson Barbosa. Ambos fizeram os cortes no Orçamento. Eu participei da discussão com os dois. Acho que estão querendo criar um conflito que não existe – enfatizou a presidente.
Dilma rechaçou ainda a existência de um movimento dentro do PT contra seu governo ou pela substituição de Joaquim Levy:
– Vocês (jornalistas) me disseram que (a opinião contrária a Levy e pelo fortalecimento de Barbosa) vem do senador Lindbergh. Eu vou pedir encarecidamente que não se tome a parte pelo todo. Não é correto. Porque o senador é responsável pela sua compreensão do processo. O PT jamais, em momento algum, externou esse tipo de posição para mim.
A presidente disse que ela e seus ministros ficaram “muito felizes” com a aprovação da MP 665 e que o governo espera que o trâmite da MP 664 (que muda as regras do auxílio-doença) “seja o mais rápido possível”. A votação está prevista para esta tarde.
– A nós interessa superar esta questão das votações das medidas provisórias e da lei de desoneração, porque nós queremos entrar num outro capítulo. Nós, no dia 9, por exemplo, iremos lançar o nosso programa de concessões. Também vamos lançar o Minha Casa, Minha Vida 3 na sequência e uma série de outras iniciativas para fazer uma retomada dos investimentos no Brasil.
LINDBERGH: QUESTIONAMENTOS SÃO PRÁTICA HISTÓRICA DO PT
Lindbergh Farias mediu as palavras nesta quarta-feira ao responder as declarações da presidente. Ele lembrou que as críticas aos planos de austeridade são uma prática histórica dentro do PT, e isso será comprovado nas próximas semanas, no congresso nacional da legenda.
— Vamos ter o Congresso nacional do PT daqui a três semanas e o partido vai tirar uma posição única. Eu sempre vi a esquerda e o PT questionar os planos de austeridade, sempre defendemos um modelo diferente, mais desenvolvimentista, baseado no crescimento econômico e na geração de emprego como centro da política econômica — respondeu Lindbergh.
Em sua resposta, o senador petista dá a entender que Dilma ficou irritada por não estar acostumada a prática das divergências de pensamento no PT, que aconteceu isso também no governo Lula, quando o perfil da política econômica mais ortodoxa do ministro Antônio Palocci trombava com a ala mais desenvolvimentista ministro Mantega.
— Volto a insistir: esse debate sempre aconteceu no PT e Dilma não tem que encarar isso como uma coisa ruim. Esse é um governo de coalizão que tem Katia Abreu e Patrus Ananias. Gostamos mais do trabalho do ministro Patrus, isso é natural — disse Lindbergh.
O Globo