Sonhos e clichês - Rubens Nóbrega

Já temos candidatos certos a prefeito da Capital, mas até aqui não vi, li ou ouvi falar de qualquer proposta certa para melhorar verdadeiramente a cidade e, principalmente, a vida de quem nela vive.

Nenhuma surpresa. É costume de nossa política as pretensões antecederem as intenções, incluindo as sinceras. Fazem parte natural do meio político as postulações desprovidas de compromissos reais com o eleitor.

O amigo aí acha cedo para cobrar alguma coisa dos pretendentes, considerando que falta mais de um ano para a eleição e daqui pra lá muita água e candidatura vão correr debaixo da ponte?

É, pode ser, mas não vejo dessa forma. O que vejo é campanha começando e nome se lançando adoidado. Não hoje, mas desde quando a Justiça Eleitoral proclama os resultados e diploma os eleitos.

Não esperam sequer a posse, embora esperem sem pressa a campanha formal começar para, enfim, esboçar algum projeto, algo que chamam de programa, botam no papel e no papel geralmente fica.

Por conta disso, ou em razão de, enquanto não começa o ‘moído’ pra valer não se tem notícia de qualquer grande proposição, muito menos um grande debate sobre o que queremos, como queremos e o que podemos fazer pela cidade.

Dizendo melhor, o que podemos fazer por nós mesmo. Afinal, com licença do clichê, o que está em jogo é o nosso futuro e a possibilidade de estarmos nele com muita, pouca ou nenhuma qualidade de vida.

Qualidade de vida que se constrói e se alcança com mudanças e inovações bem articuladas num conjunto benfazejo para todos e não para uns poucos, como quase sempre e infelizmente vem acontecendo em sucessivas gestões.Estou dizendo tudo isso para dizer que tenho, como tantos outros, idéias e sugestões que o próximo alcaide poderia pelo menos colocar em discussão e, se aprovadas, tentar viabilizá-las materialmente.

São coisas simples, algumas óbvias. Acredito, contudo, que uma vez postas em prática, essas idéias e sugestões poderão fazer boa e produtiva diferença na vida dos meus concidadãos e conterrâneos.

Começo por sugerir que o nosso próximo governante assuma e cumpra a promessa de aumentar progressivamente os salários do pessoal da educação e da saúde até que se possa exigir desses servidores dedicação exclusiva ao serviço.

Meu sonho é ver professor, médico e policial ganhando no mínimo igual ao maior salário do serviço público, seja ele municipal, estadual ou federal.

Sonho que vou viver o suficiente para um dia aparecer um líder de verdade que, eleito pelo povo, compreenda que só existe chance de progredirmos coletivamente se tivermos educação pública e saúde pública da melhor.

Não tem mistério nem segredo. O mundo e a história estão aí para provar que tenho razão. Quem investiu com força e vontade em educação e saúde foi pra frente, criou riqueza e a distribuiu com mais justiça entre os seus.

Educação e saúde públicas de qualidade exigem, em primeiríssimo lugar, remuneração digna. Não só para casa e comida. Tem que pagar bem para permitir ao servidor dos setores essenciais condições de qualificação profissional e acadêmica.

Qualificado e motivado, não há quem não faça direito e melhor, não produza mais, não se dedique mais. Na sala de aula, na creche, no hospital, no posto de saúde…
Se evoluirmos para bons serviços de educação e saúde, em dez anos teremos uma cidade mais segura e mais próspera, inclusive porque a força de trabalho que formaremos certamente atrairá investimentos produtivos para o nosso município.

Teremos mais jovens empregados e não drogados ou traficando, assaltando, matando. Teremos pais seguros de que seus filhos menores terão vez quando chegar a vez deles e nenhum medo de que venham a ser aliciados por quem não presta.

João Pessoa é um lugar bom de viver, não há dúvida. Mas poderia ser bem melhor se a gente pudesse, finalmente, fazer das velhas e clássicas prioridades uma realidade.
Tenho a mais absoluta certeza de que podemos fazer muito mais do que alargar ruas para caber mais carros ou, então, construir escolas bonitas de numerosas matrículas, freqüência razoável e   escasso aprendizado.

Em próximas colunas dessa linha, alinharei e compartilharei com os leitores algumas idéias e sugestões para a cidade. Pelo enquanto, como diria o filósofo Lenilson Guedes, só a reprise da mais antiga e firme convicção.

Espero que os leitores-colaboradores também me mandem as suas, pra que a gente possa em futuro próximo reuni-las e repassá-las aos candidatos, oferecendo-lhes contribuição de primeira da nossa honesta e proativa cidadania.

‘Na contramão’
A propósito de iniciativas do poder público que podem melhorar ou piorar a vida urbana, recomendo uma visita ao pontocriticopb e lá dentro a leitura da reportagem intitulada ‘Na contramão: PMJP aposta em sistema de transporte poluente para João Pessoa’.

Assinada por Emanuelle Cabral, Emelyne Lisboa, Marriett Albuquerque, Naiane Almeida e Thales Lima, a matéria mostra que o lançamento do projeto ‘Caminho livre’ nada mais é do que uma autocrítica da gestão municipal ou atestado público de que os investimentos em mobilidade de massa humana na Capital até agora não foram além de maquiagem e obras pontuais.

“O curto corredor da Avenida Pedro II e parte da Universidade Federal da Paraíba são os exemplos mais emblemáticos da falta de planejamento e tendência de investir em obras que não resolvem o problema de escoamento do tráfego, mas que se traduzem em pontos percentuais em pesquisas e votos em processos eleitorais. Passados alguns anos a população já percebe com claridade que o investimento na ampliação da Pedro II significou apenas uma transferência do problema, que era intenso na chegada da UFPB, para a entrada do Conjunto dos Bancários”, avaliam os autores da reportagem.

Pois é, é justamente para evitar a repetição de equívocos ou coisas mal planejadas como essa que daqui do meu canto vou procurar ajudar, fazendo deste espaço um ponto de discussão sobre o que nos aguarda e de coleta de boas propostas para o nosso bem.

Do Blog com Jornal da Paraíba