Rogério Gentile – Folha de São Paulo
Aécio Neves (PSDB) recorreu à chamada “desculpa esfarrapada” para justificar o uso que fez de aeronaves do governo de Minas Gerais –pagas, portanto, pelo dinheiro público– depois de ter deixado o comando do Estado.
Em 2011 e 2012, Aécio, segundo reportagem publicada pela Folha no último domingo, utilizou, em cinco ocasiões, helicópteros do Estado para se deslocar por Belo Horizonte e um jato para viajar a Brasília. O mandato do tucano em Minas, não custa lembrar, havia acabado em 2010.
O decreto que regula o uso das aeronaves do Estado, assinado pelo próprio Aécio, em 2005, afirma que os veículos do grupo especial “destinam-se ao atendimento do governador, em deslocamento de qualquer natureza, por razões de segurança”.
Ao justificar a regalia, o senador, que na eleição presidencial do ano passado costumava reclamar da “visão patrimonialista do PT”, afirmou que o decreto foi respeitado na medida em que as aeronaves foram cedidas a ele para “atender” a um pedido do governador.
Os tucanos já foram menos compreensivos com eventos desse tipo. Em 2005, quando foi noticiado que Lula usou um avião da FAB para trazer 14 amigos de seu filho mais novo para passar umas férias no Palácio do Alvorada –ocasião em que uma lancha da Presidência também foi emprestada para um passeio da turma no lago Paranoá–, o PSDB classificou a prática como “mordomia”.
Em 2013, quando Renan Calheiros (PMDB) se deslocou para Recife em um jato da FAB –a fim de fazer um implante capilar–, o tucano Álvaro Dias (PSDB) declarou que o fato feria a imagem do Congresso e que a restituição dos valores era o “mínimo” que se poderia esperar.
Olhando em retrospectiva, à luz do caso Aécio, o PSDB talvez ache necessário mudar seu entendimento sobre esses episódios. Afinal, nos dois casos, os cofres públicos apenas “atenderam” aos desejos de Lula e Renan.