O terreno do Geisel ligou ontem pro colunista para pedir ‘direito de resposta’ às declarações do terreno da Acadepol, publicadas em ‘Depressão imobiliária’ (coluna de terça-feira última, dia 9).
Não entendi muito bem a razão do pedido, inicialmente, mas o terreno do Geisel tratou logo de me “refrescar a memória” (expressão dele), assinalando alguns pontos do artigo de terça que teriam ofendido a sua imagem.
“Primeiro, que o terreno da Acadepol me chamou de ‘menor e mais barato’, quando, na verdade, proporcionalmente devo ser muito mais caro do que ele, além de mais valorizado”, argumentou.
“Segundo, ele disse que o que fizeram comigo ‘é negócio pra botar gente na cadeia’, ou seja, só faltou dizer com todas as letras que fui objeto de alguma daquelas tenebrosas transações de que fala a canção de Chico Buarque”, emendou.
Enquanto ele falava, fiquei rodando o HD pra ver se tinha memória suficiente para baixar a composição a que se referia. Achei e parei em ‘Vai passar’, do Velho Chico. É aquela que diz assim: “Dormia a nossa pátria mãe tão distraída/sem perceber que era subtraída/em tenebrosas transações…”.
Perguntei, então, porque ele se achava assim tão valorizado e se houve alguma impropriedade na transferência dele do patrimônio público para o privado. Fez que não ouviu, o malandro. Mas aproveitou para acusar o seu congênere de Mangabeira de ser um “tremendo invejoso”, passando em seguida a especular sobre as razões da inveja.
“Primeiro, não tenho culpa de o governador querer se livrar dele de qualquer jeito, enquanto dá demonstrações públicas e inequívocas de que me quer um bem danado, ao ponto de não admitir que algum outro terreno sirva para instalar a Academia e a Central de Polícia que ele quer instalar. O Mago só quer se for eu”, começou.
“Segundo, também não tenho culpa se a cada avaliação que aparece o meu preço só faz subir e o dele descer. Acho até que se demorar mais um pouco a diferença pro terreno da Acadepol vai acabar desaparecendo e aí os meus donos não vão ter que dar troco algum ao Estado”, previu.
“Podre de chique”
Outro motivo do despeito do terreno da Acadepol seria o fato de o terreno do Geisel ter sido desapropriado por 2005 para abrigar um centro de exposição da indústria paraibana, algo que o terreno do Geisel considera “podre de chique” e, para zoar ainda mais com o rival, falou que sediar um show room “não é pra qualquer um não, visse!”.
Antes que eu pudesse comentar alguma coisa e mostrar-lhe que aquela era uma atitude boçal, antecipou-se para variar o tema sobre o mesmo assunto. Confessou-me uma desconfiança: “Desde a desapropriação, quem me desapropriou já sabia que eu valia muito mais e poderia ser repassado, adiante, por preço bem maior”.
“Tanto foi assim que não demorou e apareceram pelo menos três interessados, cada um oferecendo no mínimo R$ 4 milhões para me comprar”, lembrou.
Ao ouvir a cifra, apressei-me e manifestei que sabia que ele, desapropriado em 2005, fora vendido em 2008 a um particular por R$ 2 milhões 650 mil. “E agora você vem dizer que havia propostas de R$ 4 milhões pra cima?”, questionei.
“Ah, véio, alguém se antecipou nessa história. Alguém passou a perna em alguém, porque, pelo que me lembro, cada interessado falava com um corretor diferente”, recordou. E nesse ponto fez uma revelação que me derrubou o queixo:
– Evidente que não foram só 2 milhões e 650 mil reais. O negócio, segundo correu nos bastidores na época, rendeu também um apartamento na beira do mar, uma Mercedes novinha e uma lancha Cigarrette que é um sonho.
“Como assim?”, espantei-me. Mas o terreno do Geisel fechou-se, falou que eu estaria querendo “saber demais”, quando só precisaria saber de uma coisa: graças ao seu valor, a negociação só fecharia se incluísse “um algo mais”.
Insisti para que me desse alguma dica, alguma pista, um documento qualquer sobre as bases da transação, mas ele, para se livrar da minha insistência, despediu-se com uma frase que me tirou por completo o argumento de pedir qualquer prova:
– Ah, meu velho, tu bem sabes que corrupção não passa recibo, né? Então, vamos deixar de besteira e vamos parar por aqui que é o melhor que a gente faz.
É, pelo visto, esse negócio teve nada de chique. É podre mesmo. Mas, depois que o terreno do Geisel me disse aquilo e desligou, fiquei me perguntando, matutando, sem encontrar resposta ou rumo. Afinal, depois dessa, fazer o quê?
Falta de respeito
Encaminhei desde o último dia 3 à Secretária de Planejamento da Prefeitura da Capital um pedido de informações e esclarecimentos (nada recebi, até ontem à noite) acerca do conteúdo da seguinte mensagem do Doutor Pedro Marinho:
– Caro Rubens, há exatamente um ano a Prefeitura da Capital restaurou uma pequena praça localizada na Avenida Epitácio Pessoa ao lado do 3º Distrito Policial. Inexplicavelmente, os bancos que existiam naquele logradouro foram retirados pela Construtora Manhattan, que também construiu ali um pedestal, mas não colocou a placa de identificação, que seria de sua obrigação, tendo, porém, recebido pelo trabalho, que foi indevidamente atestado por um assessor municipal. A família do vulto que nomina aquela praça, por conta da omissão da citada construtora, mandou fazer com recursos próprios uma placa e procurou o tal servidor, que ficou de colocar a placa no local e jamais o fez, sempre dando ao longo de um ano desculpas esfarrapadas aos familiares. Considerando que o servidor é vinculado aos secretários do Planejamento e de Infra-Estrutura, os familiares prejudicados – pessoalmente, por telefone e através de correspondências – solicitaram providências contra o servidor. Mesmo reiterado seguidas vezes o pedido de providências, ambos os secretários fizeram ouvidos moucos, adotando postura que vem se tornando praxe na PMJP: o silêncio como resposta. O fato é que tais secretários poderiam facilmente resolver o impasse junto ao servidor, mas se omitiram e preferiram ficar distante do problema, porém se deram mal, pois vão ser incomodados nos próximos dias, já que a referida família enganada irá ingressar com um pedido de abertura de inquérito policial contra o servidor por peculato, já que ele recebeu a placa em razão do cargo que ocupa, devendo ainda ingressar na Justiça com processo por danos morais. E, para encerrar, uma pergunta: será que esse povo algum dia irá aprender a respeitar os munícipes?