Josias de Souza – (Blog)
Num instante em que a palavra impeachment salta dos lábios dos políticos com desenvoltura coreográfica, não convém gritar incêndio dentro do teatro. Mas, para entender o que sucede, é aconselhável gritar teatro dentro do incêndio. Há mais fumaça do que fogo nesse palco.
A fumaça aumentou depois que o TCU considerou ilegais as pedaladas fiscais usadas para disfarçar a fragilidade das contas públicas no primeiro mandato de Dilma. A perspectiva de configuração de um crime de responsabilidade da presidente da República assanhou a oposição.
De repente, o PSDB decidiu convencer outras legendas oposicionistas a fazerem uma coisa da qual o tucanato não tem a menor convicção. Líderes tucanos na Câmara e no Senado preparam para maio um pedido de impeachment que até o correligionário Fernando Henrique Cardoso, sábio da tribo, considera precipitado.
Em debates internos, governadores tucanos, alguns deles com calos de vidro, ecoam as cautelas de FHC. E Aécio Neves, presidente do PSDB, equilibra-se entre as duas alas —declara que impeachment não é golpe, está previsto na Constituição. Mas evita aderir 100% à tese. Pede investigações e livre debate.
Em ritmo de vai ou racha, os líderes do PSDB no Congresso afirmam que o partido dará o próximo passo. Mesmo que rachado. Confirmando-se a formalização do pedido, o impeachment irá à mesa do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a quem cabe analisá-lo.
Cunha já sinalizou que o destino do pedido será a gaveta. No momento, interessa ao deputado, ilustre investigado da Lava Jato, manter em cena uma Dilma pendurada na beira do abismo. Dependendo da evolução da conjuntura, Cunha pode optar entre tratar a presidente com as mãos ou com os pés.
O engavetamento de um eventual pedido de impeachment daria ao pedaço engajado do PSDB a oportunidade de se reposicionar em cena. Vistos pelas ruas como oposisitores flácidos, os tucanos poderão lavar as mãos e sugerir aos manifestantes que se juntem à comunidade LGBT no coro de “Fora Eduardo Cunha.”