Sem lançar candidato a presidente da República desde 1994, o PMDB ensaia quebrar esse jejum nas próximas eleições. Defensores da candidatura própria afirmam que lançar um nome seria essencial para dar vitalidade ao partido, conhecido por tradicionalmente apoiar o governo de plantão. A dificuldade é unificar a legenda, composta por caciques regionais, em torno de um candidato. O nome citado como “natural” é o do prefeito do Rio, Eduardo Paes, mas também são lembrados o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Lideranças peemedebistas veem uma janela de oportunidade em 2018, devido ao desgaste que provavelmente enfrentará o PT quando chegar a 16 anos no comando do governo federal. A presidente Dilma Rousseff já teve dificuldade para se reeleger. Os peemedebistas consideram improvável que o ex-presidente Lula seja candidato, e, até o momento, o PT não tem outro nome forte.
— Sou defensor de que o PMDB tenha candidatura própria em 2018, senão o eleitor vai cansar da gente — questionou o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE).
Essa também é a linha do líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ):
— Time que não joga não tem torcida, então o PMDB precisa apresentar um projeto para o país e um nome.
O nome defendido por Picciani é o de Eduardo Paes:
— Atualmente, o nome que reúne melhores condições é o do Eduardo Paes, pelo perfil, pelo governo que vem realizando no Rio. Ele teria o que mostrar, uma vitrine. Ele conclui o mandato em 2016, então teria o ano de 2017 inteiro para percorrer o país e consolidar esse projeto internamente.
O prefeito do Rio, porém, não tem trânsito no partido. Líderes nacionais do PMDB dizem que, se quiser ser candidato, Paes terá que trabalhar internamente, buscar apoio, conversar. Também são apontados como fragilidades de Paes sua “imaturidade” e o discurso “belicoso”. Recentemente, Paes declarou ter “quebrado o pau loucamente” com o ministro Joaquim Levy (Fazenda) por causa do indexador da dívida do município. Ele também depende do sucesso das Olimpíadas, em 2016, para viabilizar eventual candidatura.
— O Rio nunca fez política para dentro do partido. Cabral e Pezão nunca fizeram, e Eduardo Cunha é cristão novo — disse um cacique, citando o ex-governador Sérgio Cabral e o atual, Luiz Fernando Pezão.
Leonardo Picciani refuta a avaliação:
— Quem se dedicou ao partido nos últimos anos? Ninguém, tanto que desde 1994 não temos candidato a presidente da República. O problema é que o PMDB tem uma estrutura horizontal, e os projetos regionais sempre sepultaram os nacionais.
A DIFICULDADE DE UNIFICAR O PARTIDO E SEU DISCURSO
Encontrar um nome que unifique o partido é a primeira dificuldade para o PMDB, mas não a única. Para o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), não será simples construir um discurso, e há um risco grande de o partido ficar perdido em meio a uma disputa que desde 1994 se polariza entre dois nomes — um representando o governo e o outro, a oposição:
— Você tem espaço para uma candidatura de governo e outra de oposição. A terceira via não deu certo. O Temer foi para o coração do governo agora, ao assumir a articulação política. A vontade do partido é essa, mas tem esse dificultador: com que discurso você vai concorrer? O PT não abre para ninguém. O PMDB teria que ir para a oposição, e você não constrói isso da noite para o dia. E esse espaço também já está ocupado.
Além de Paes, o nome de Temer é citado como possibilidade, mas sua eventual candidatura está atrelada ao sucesso do governo Dilma. Já Eduardo Cunha teria dificuldade, segundo integrantes do PMDB, devido a conflitos assumidos com trabalhadores, como o projeto que regulamenta a terceirização para atividades-fim, e com o movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis). Ele é contra, por exemplo, a união homoafetiva. O presidente da Câmara teria o apoio, no entanto, de evangélicos.
Pessoas próximas a Temer afirmam que se lançar candidato a presidente da República não está em seu horizonte neste momento, mas que ele também não pode descartar essa possibilidade.
O primeiro passo para a viabilização de uma candidatura própria será a eleição para a presidência do partido, no ano que vem. O grupo que conquistar a direção da sigla terá mais chances de construir maioria para a convenção partidária em 2018. Se Temer for bem-sucedido na articulação política, ele se fortalece para se reeleger presidente do PMDB ou indicar alguém de sua confiança para o cargo.
Integrantes do PMDB afirmam que as eleições municipais do ano que vem serão um teste para 2018.
— O PMDB vai fazer em 2016 seu grande teste para ver se manterá a hegemonia política nacional. Temos o maior número de prefeitos e vereadores. As eleições de 2016 nos darão a dimensão para trabalhar 2018 — afirmou o ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil).
No caso das eleições estaduais, a avaliação é que não ter um candidato a presidente enfraquece os palanques regionais.
— Não ter candidatura nacional dificulta a candidatura nos estados, porque você acaba sendo o segundo palanque (do candidato a presidente) — disse Lúcio Vieira Lima.
O Globo