Bom de briga - Rubens Nóbrega

Passados sete primeiros meses de governo (?), atitudes e posturas do governador Ricardo Coutinho reforçam cada vez mais a munição de quem mira nele e vê alguém com forte propensão ou vocação para o conflito.

Os atos governamentais evidenciam em Sua Excelência enorme disposição para o confronto, indisfarçada inclinação pro enfrentamento e clara preferência pelo tensionamento. Sob esse perfil teríamos, enfim, um governador bom de briga.

Nesse rojão, enquanto Doutor Ricardo briga com médicos que reivindicam melhores salários e condições de trabalho, por exemplo, alguns serviços públicos de saúde a cargo do Estado entram em estado coma.

Que o diga a população de Lagoa de Dentro, privada desde ontem de recorrer ao único hospital público da cidade, mantido (?) pelo Estado, agora interditado pelo Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB).

Mas, também, de que adianta ter um hospital aberto sem médico todos os dias para atender? Como poderia o CRM não interditar se em mais de três vistorias anteriores os mesmos problemas foram levantados, apontados e nenhum resolvido naquele hospital?

Assim, por excesso de falhas, falta de gerência ou competência de governo, a única unidade pública de saúde de Lagoa de Dentro encontra-se indisponível para a população local, agora obrigada a recorrer a outros hospitais da região, onde também sobram precariedades.

Mas o governador não briga só com médicos e outros profissionais da saúde. Ele briga também com professores, alunos e diretores, preferencialmente os eleitos e mais queridos pela comunidade escolar e depostos porque em tese ousaram divergir do governo.

Com isso, volta e meia, como fizeram ontem, estudantes protestam diante do Palácio da Redenção, o mesmo palácio invadido há três meses por professores grevistas que lá dentro da sede do governo brigaram com e apanharam de seguranças do governador.

Mas o governador não briga apenas com médicos, professores, alunos e diretores de colégios estaduais. Ele briga também com os outros poderes, capando-lhes o duodécimo, castrando-lhes a capacidade operacional e até o moral.

Com isso, poderes como o Judiciário já estariam acumulando perdas superiores a R$ 20 milhões, graças a um briguento governador que ainda acha pouco e tenta mudar a LDO para cortar ainda mais o orçamento dos outros, ano que vem.
Por conta dessa e de outras mais, Sua Majestade meteu-se numa impensável briga com a presidência da Assembléia, que criou coragem e promulgou a LDO sem os vetos governamentais opostos fora de prazo.

Em razão disso, o governador resolveu brigar com também os juristas que lhe flagraram a intempestividade e alcunhou a promulgação de ‘ilegal’.

Mas o governador não briga apenas com médicos, professores, alunos, diretores, juristas e poderes tão constituídos quanto o que       ele dirige.

O governador briga também com magistrados que ousem contrariá-lo prolatando sentenças favoráveis aos direitos de servidores estaduais, ameaçando retaliar juízes com representações à Corregedoria e ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Com isso, o governador estende a briga com os poderes e juízes aos próprios serventuários da Justiça, que ontem foram à praça pública manifestar seu repúdio aos cortes no duodécimo que limitam suas condições de bem servir aos jurisdicionados, igualmente atingidos pelos sopapos da refrega.

Mas o governador não briga tão somente com médicos, professores, alunos, diretores, poderes, juristas, juízes e servidores do Judiciário.

O governador briga também com os policiais, sonegando-lhes reajuste salarial que o governo anterior concedeu, a Assembléia aprovou e o antecessor sancionou.

Com isso, o governador enfraquece a própria Polícia e, por extensão, toda a sociedade. Que desse jeito fica tremendamente fragilizada na briga contra a bandidagem, que nunca se sentiu tão à vontade para roubar, assaltar, seqüestrar, arrombar, violentar, estuprar e matar na Paraíba.

Que o digam os familiares do pescador assassinado anteontem em Mandacaru, Capital, surpreendidos à noite em pleno velório da vítima por um bando armado que chegou atirando contra todos e tudo.

Que o digam os proprietários, funcionários e clientes de mais uma casa lotérica do Miramar e de mais uma farmácia do Expedicionários, ambas na Capital, que ontem à tarde foram alcançadas por mais um arrastão de ladrões armados.

Que o digam funcionários e clientes de dezenas de outras lotéricas, agências dos Correios e caixas eletrônicos, todos candidatos ao Guiness, o Livro dos Recordes, pelo estoicismo com que suportam a violência continuada na Nova Paraíba.
Que o diga, da mesma forma, o cidadão identificado como Francisco José, outro que ontem perdeu R$ 70 mil para os meliantes que lhe aprontaram uma saidinha de banco na movimentada Avenida Cruz das Armas.

Que o diga ainda Luciano Rodrigues de Paiva, 23 anos, morador de rua, baleado ontem no começo da manhã em plena via pública, perto do Clube dos Médicos (Bessa, Capital). Ele foi ferido por facínoras que se conduziam e fugiram em um Gol preto.

Diante de tal situação é triste dizer, mas digo: apesar dos pesares, Luciano teve mais sorte do que outro cidadão morador do Bessa, na Avenida Afonso Pena.

Esse não escapou do atentado a tiros que sofreu domingo passado dentro da própria casa e vitaminou as estatísticas macabras da violência sem precedentes que a cada final de semana assola, apavora e enluta dezenas de famílias da Big Jampa.

Ah, como seria bom se em vez de brigar com médicos, professores, estudantes, diretores de colégio, juristas, juízes, policiais, poderes e até jornalistas, o governador se aplicasse com toda a sua inteligência e energia às boas brigas que a Paraíba precisa brigar.

Brigar por um grande investimento estruturante em nosso Estado, feito o complexo aeroportuário de Goiana (PE)…
Brigar de verdade para atrair grandes indústrias, em vez de brigar pela sobra dos outros…

Brigar por um ramal da Transnordestina em nosso território…

Brigar pela retomada das obras que bombearão águas do São Francisco para os nossos rios, adutoras e barragens…

Brigar, enfim, por todos e meios e condições para que ele e seu governo sejam aliados de todos os segmentos e categorias, não os antagonistas nem os contendores que estão sendo desde o início da gestão.

A partir daí, quem sabe, talvez a pessoa do governador volte a ser bom de luta e deixe pra lá essa história de ser tão bom de briga.