Vaidade. Esse é o pecado capital que pode ser o maior entrave para o Congresso Nacional votar a reforma política e as medidas contra corrupção, anunciadas pela presidente Dilma Rousseff na semana passada.
No fim das manifestações de 15 de março, a petista foi convencida pelos assessores mais próximos de que o pacote anticorrupção, junto à reforma, deveriam serimediatamente apresentados como resposta às vozes da rua.
Sem tempo, o governo foi pelo mais rápido. Abandonou o slogan da campanha “Brasil sem Impunidade” e enviou o que tinha em mão ao Congresso. Ao mesmo tempo, o debate da reforma política foi inflado.
Antes mesmo de as propostas atravessarem a rua que separa o Planalto do Legislativo, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disparou que há muitas propostas semelhantes à reforma política tramitando no Congresso e que faltou protagonismo do PT e do governo para aprová-las.
O mesmo comentário, entretanto, vale para as medidas anticorrupção, apelidada deantirrugas, por combater a “velha idosa”, como a presidente definiu o problema da política nacional.
Uma das cinco propostas encaminhadas pelo Planalto, por exemplo, é o pedido de tramitação em regime de urgência de um projeto de 2005.
Outra, que torna crime enriquecimento ilícito, já havia sido apresentada uma semana antes pelo líder do PT, Humberto Costa (PE).
Antirrugas
Aliados da presidente acreditam que a atitude de Renan é apenas o princípio do tumulto que vem adiante.
“As medidas anticorrupção são mornas, não há interesse em enterrar, ainda mais agora que o ônus está com o Congresso e a responsabilidade é da Casa. O problema é que todo mundo tem algum projeto nesse sentido e todos vão querer ser o pai desse filho. A vaidade vai surgir e todo mundo vai querer dar prioridade ao seu projeto”, ressaltou um petista ao Brasil Post.
Líder da oposição, Bruno Araújo (PSDB-PE) sublinha que o governo não apresentou nenhuma novidade.
“Todas as matérias já tinha sido apresentadas por parlamentares de vários partidos, tem da base, da oposição, mas o governo nunca fez esforço por eles. Agora, querem a autoria.”
Outro petista disse ao Brasil Post que o Congresso ficou abalado com a má avaliação da sociedade, revelada pelo Datafolha. “O medo é que, nessa agonia de responder às vozes das ruas, a Casa não se organize e vote os projetos de forma irresponsável e a toque de caixa.”
Um exemplo foi a decisão do Senado de derrubar uma PEC de 2013 que dificultava a criação de partidos, que já tinha sido aprovada em primeiro turno.
No meio do furacão de egos, o governo se agarra na expectativa de aproveitar o período da tramitação para tentar aperfeiçoar as propostas.