Gilvan Freire
1 Combate sistemático à corrupção – Para o organismo estatal, a corrupção é igual ou pior que o diabetes. Ela corrói os órgãos, destrói as células sadias e invade o sistema de defesa. No aparelho do Estado, infesta como a metástase do câncer sem combate, e, assim como as drogas, estimula e encoraja os malfeitores.
Sabe, governador Ricardo, a corrupção é ainda mais perversa que você, pois ela não faz bem a não ser àqueles que dela se favorecem, e você, apesar de tudo, pode fazer o bem a muita gente. Pode e deve.
2 Encurrale os corruptos – Eles são as células cancerígenas da administração, sem os quais não haverá câncer moral e material no corpo do governo. Com eles soltos e por perto, o câncer se alastra.
Lembre-se, governador, toda a vez em que o homem e dinheiro público trafegarem juntos pelo mesmo caminho e não houver alguém vigiando, um atacará o outro. Certamente, o homem, porque pensa e age e tem instinto de apropriação, atacará primeiro aquela pobre vítima indefesa. Mas ainda que haja vigilância, não despreze o risco de o vigia atacar também, começando pela parte mais fraca, aquela que nem falar, fala.
3 Monte as Aratacas – Não, não é Arapuca, esta é para pegar passarinhos, que devemos destruí-la, e não armá-la. Monte, governador, armadilhas para felinos graúdos, famintos e ladinos, ou roedores de porte. Essas armas artesanais de caça, usadas contra predadores do patrimônio alheio, eram encontradas antigamente nas feiras de rua com os nomes populares de Arataca e Ratoeira. Elas pegam o larápio pelo pé ou pela mão, antes ou durante o bote. Mas, como não pegam pela gravata, alguns gravatudos ficariam de fora.
4 Vigie os amigos de confiança – Na administração pública, os cargos não são preenchidos por inimigos ou desafetos. São ocupados por pessoas de confiança de quem as nomeia. Significa, na prática, que o governante tem que confiar em alguém para não governar solitariamente. No caso de RC, isso é complicado porque nunca houve e nem haverá alguém mais iluminado para governar a Paraíba do que ele próprio sozinho.
Mas, além de ter que confiar, é preciso não desconfiar sem motivos e nem confiar em demasia, sem cautelas. Nesta fase atual da administração, em que o governo está com baixa imunidade visível, é importante ligar o desconfiômetro. Já está ficando tarde. Parodiando a famosa UDN¹, o preço da honestidade é a eterna vigilância.
5 Nunca dê o mau exemplo – Segure-se, governador, não abra a guarda. Muitos, fora e dentro do governo, prestam atenção a suas atitudes. Querem especular se o novo gestor está abrindo os flancos às tentações do poder e ao feitiço dos espertalhões, ou se manterá a dureza que pavimentou sua candidatura ao governo.
Tudo que você fizer, governador, tem efeito pedagógico. Se houver firmeza, não haverá safadeza. Mas se houver vacilação ou dubiedade, haverá improbidade educativa, dessas que se propagam como disciplina na rede escolar pública. Se os controles falharem, o governo vira uma indústria de laticínios que recolhe leite de pobres para fabricar queijos somente para engordar ratos.
Até o próximo.