GRATUIDADE NA WEB: Roberto Carlos e Ana Carolina reclamam de letras e cifras na web enquanto Robertinho de Recife manda tirar vídeos seus do YouTube

Depois de Ana Carolina e Roberto Carlos desautorizarem a publicação de letras e cifras de músicas suas em determinados sites, um xará do Rei, que usa o nome no diminutivo, se indispõe com a gratuidade da web. De volta com seu grupo Metalmania, que lança o EP digital ‘Back For More’ e abre para os veteranos Judas Priest e Accept no Vivo Rio dia 23 de abril, o guitarrista Robertinho de Recife apela aos fãs para que tirem do YouTube vídeos não oficiais postados com músicas suas.

Artistas se indispõem com a gratuidade de conteúdos musicais na internet
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RICARDO SCHOTT
Rio – Depois de Ana Carolina e Roberto Carlos desautorizarem a publicação de letras e cifras de músicas suas em determinados sites, um xará do Rei, que usa o nome no diminutivo, se indispõe com a gratuidade da web. De volta com seu grupo Metalmania, que lança o EP digital ‘Back For More’ e abre para os veteranos Judas Priest e Accept no Vivo Rio dia 23 de abril, o guitarrista Robertinho de Recife apela aos fãs para que tirem do YouTube vídeos não oficiais postados com músicas suas.

“Estou entrando em contato com todo mundo. Tem fã que não é de verdade. Acha que é fã. O cara nem se preocupa com você”, reclama Robertinho. Entre os vídeos que mandou retirar, alguns tinham até 100 mil views, como afirma. “Não me sujeito ao YouTube. Eles ganham com meus views e eu não recebo nada. Dizem que eu estou dando um tiro no pé. Mas eu sei atirar, cara, sou ‘the best gun in the west’”, graceja.

Roberto Carlos e Ana Carolina: implicância com letras e cifras publicadas em sites, algumas delas com vários erros
Foto:  Divulgação
O mesmo tiro, para direções variadas, vem sendo dado por alguns outros artistas. Entre os casos mais recentes estão o de Roberto e o de Ana Carolina. A assessoria do cantor de ‘Amigo’ afirma que o Rei acompanha onde está sendo publicada sua obra, e exige solicitação de autorização. As músicas que não aparecem nos sites estão esperando a aprovação “real”. Ana, que coloca as cifras de suas canções nos encartes dos seus discos, queixa-se que muitas delas aparecem com erros em vários lugares, segundo sua assessoria de imprensa.

O problema de Ana, Roberto e Robertinho não é encarado da mesma forma por outros nomes da música, por sinal. Inclusive entre grandes arrecadadores. “Não faço canções pelo lado comercial. Faço pela paixão pela música. A internet ajuda na divulgação de qualquer artista”, acredita Zezé Di Camargo, acostumado a ver letras de sucessos seus como ‘É o Amor’ popularizadas em portais de cifras e de vídeos. “E recebemos muitos vídeos de fãs. Sabemos que isso só fortifica. Acabam virando virais”, completa o irmão e parceiro Luciano.

Mu Carvalho, tecladista do A Cor do Som, diz que já se aborreceu com quem posta vídeos de seu trabalho no YouTube. Hoje, deixa rolar. “É impossível controlar. No show, a plateia grava e faz upload quase que simultaneamente na internet. Como diria Tom Jobim, é bom, mas é uma merda”, brinca.

Leoni, que “vende e dá ao mesmo tempo” suas músicas para os fãs, já teve um contratempo por causa de uma cifra errada postada num site. “Mandei e-mail a eles explicando como era o correto. Aí escreveram que não aceitariam minha resposta, porque não mandei na fonte certa para publicação”, conta. Ele já viu um vídeo de sua música ‘Garotos II’, postado por um fã, chegar a quatro milhões de views. Não tiraria nada do ar, embora tenha ressalvas.

“São os fãs divulgando meu trabalho. Só que, quando vira uma coisa muito grande, o YouTube acaba arrumando um jeito de aquilo render dinheiro. Já ganha anúncio. Esse próprio vídeo de ‘Garotos II’ nunca me rendeu nada. O que eu ganharia é uma merreca”, conta. “Se tiver algum dinheiro circulando nessa parte de anúncios, o dono da obra tem que receber. Mas não conseguimos aprovar nem mesmo as modificações mais rudimentares na lei de direitos autorais. Imagina isso?”, questiona Leoni.

Rosi Benini, do StudioSol (que faz os conteúdos de sites como o ‘CifraClub’), diz que precisou tirar as letras de Roberto porque a Ubem (União Brasileira dos Editores de Música), com quem têm convênio, afirmou que precisariam de autorização. “Tivemos que tirar as letras do ar até que autorizassem. Até então, só tivemos esse tipo de questão com Roberto e a Ana Carolina”, explica.
Robertinho bom de briga

Dentro ou fora da internet, Carlos Roberto Cavalcanti de Albuquerque (o de Recife) nunca foi de fugir de briga. O próprio Metalmania já o envolveu em algumas, nos anos 80. “Uma louca subiu no palco em Goiânia e simulou sexo comigo. O marido dela atirou no palco. Fui dar queixa e me falaram que ele era um coronel de lá”, recorda. Suas mudanças de estilo musical já amolaram fãs e ex-fãs. Em 1988, quando acompanhava artistas de MPB (Fagner e Gal Costa entre eles) e colecionava sucessos como ‘Babydoll de Nylon’ (com Caetano Veloso) e ‘Encantador de Serpentes’ (com Jorge Mautner), fez sucesso com o metal farofa do grupo Yahoo, do hit ‘Mordida de Amor’.

“O Yahoo foi criado para isso. Na época do Metalmania, diziam: ‘O Robertinho fez isso porque é comercial!’ Aí falei: ‘Agora vocês vão ver o que é comercial!’ Era um sucesso insuportável. Eu ligava para as rádios para mandar pararem de tocar a música. Não aguentava mais!”, jura o guitarrista. “Dizem que ‘o Robertinho é louco mas não rasga dinheiro’. Cara, eu rasgo!”
Robertinho (ao centro) e o Metalmania repaginado
Foto:  Divulgação
Entre os vídeos populares de Robertinho no YouTube, figura (ou figurava, a essa altura) o do tema infantil ‘O Elefante’, que gravou em 1981 e foi um sucesso estrondoso. O hit o credenciou para colocar sua guitarra em outras músicas para crianças, como ‘É de Chocolate’, gravada pelos então petizes Luciano Nassyn e Patricia Marx em 1984. “O disco do Metalmania de 1984 só existe porque fiz essa guitarra. Cheguei na RCA (hoje Sony), ofereci o disco, e me disseram que só lançavam se eu gravasse a música. Pensei duas vezes, mas abaixei as calças”, conta ele. Pior sorte tiveram executivos da CBS (hoje também Sony), alguns anos antes. “Chutei tudo numa convenção da gravadora, só faltei subir na mesa e fazer xixi. Depois fiz um desenho no quadro-negro da empresa em que aparecia uma tartaruga enorme e estava escrito nela: CBS”, brinca. Só para registro: é pela Sony que sai o EP do Metalmania.
Para a volta do Metalmania — ao lado de Raphael Sampaio (bateria), Fhorggio, Tibor Fittel (ambos teclados) e Junior Mauro (baixo) —, Robertinho promete misturar os repertórios de 1984 e 2015 e trazer surpresas. “Jimi Hendrix vai participar do show!”, diz. “Vamos tocar ‘Wild Thing’ (sucesso do guitarrista) e usar um tape da voz dele. É por causa dele que toco guitarra.”
Procure saber!

Em e-mail para O DIA, o YouTube afirma que trata os direitos autorais com rigor e que desenvolveu uma ferramenta chamada Content ID, para gerenciamento de conteúdo. Os proprietários de direitos autorais podem rastrear os vídeos postados e decidir por sua retirada, ou pela desativação do áudio, ou pela geração de receita a partir de anúncios. A empresa afirma já ter pago, desde o começo desse sistema, mais de US$ 1 bilhão a detentores de direitos autorais — e que muitos artistas optam por deixar vídeos produzidos por usuários, por gerarem renda.