247 – A capa da revista Veja deste fim de semana explicitou um jogo que se trava nos subterrâneos da Justiça. Com a capa ‘Os segredos do empreiteiro’, Veja antecipa o que o empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, supostamente pretende falar aos investigadores da Operação Lava Jato.
Preso há mais de 90 dias, mesmo sem qualquer condenação, Pessoa vem sendo pressionado a fechar um acordo de delação premiada. É o que faz a própria reportagem de Veja, quando afirma que sua pena pode variar de 90 a 180 anos de prisão.
Com esse tipo de ameaça, tenta-se obter, à fórceps, uma delação premiada, que, no entender da Editora Abril, poderá implicar o ex-presidente Lula, a presidente Dilma Rousseff, os ministros Jaques Wagner e José Eduardo Cardozo, o governador baiano Rui Costa e, ainda, o ex-ministro José Dirceu.
O único problema é que Pessoa não falou, nem firmou qualquer acordo de delação premiada. Veja apenas antecipa o que, supostamente, ele “quer contar sobre a Lava-Jato”. O que poderia ser traduzido de outra forma: o que se quer que ele conte sobre a Lava-Jato.
As revelações seriam as seguintes: (1) os R$ 30 milhões registrados como doação de campanha da UTC em 2014 seriam propina, corroborando a tese de que partidos políticos, como o PT, seriam lavanderias de recursos; (2) o ministro José Eduardo Cardozo tentou interferir na Lava Jato, tentando evitar sua delação premiada; (3) nas últimas três campanhas vencidas pelo PT na Bahia, com Jaques Wagner e Rui Costa, contou-se com apoio da UTC; (4) o empreiteiro pagou despesas pessoas de José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil, contratando-o como consultor.
Na prática, é a revista Veja quem tenta, de forma desesperada, convencer Ricardo Pessoa a se submeter à delação premiada, insinuando que ele poderá ser condenado a até 180 anos de prisão, como se a chantagem fosse um instrumento legítimo de persuasão.
Ontem, em artigo publicado no 247, a jornalista Tereza Cruvinel, revelou que toda a celeuma em torno do “escândalo Cardozo” se deve à frustração de um escritório de advocacia, que deixou de faturar R$ 15 milhões depois que um potencial cliente desistiu de se submeter a esse processo de delação forçada (leia mais aqui). Em artigo, o jurista Tercio Sampaio Ferraz Júnior argumentou que o ordenamento jurídico brasileiro não permite que a prisão preventiva seja usada como instrumento de tortura na busca de delações premiadas