VITÓRIA DE CUNHA: Vai ser mais uma dor de cabeça para Dona Dilma - Por Rachel Sheherazade

Se há uma pedra no meio do caminho do Governo, essa pedra agora se chama Eduardo Cunha

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Por: Rachel Sheherazade

Apesar da reeleição do aliadíssimo Renan Calheiros – o Governo não conseguiu emplacar seu candidato na Câmara dos Deputados.
Não se pode dizer que o PT não tentou. Como na corrida presidencial, o partido fez o diabo para eleger um parlamentar alinhado, ou melhor, subordinado à presidente Dilma.

Emissários do Planalto ofereceram cargos em troca de apoio. Dizem, as más línguas, que houve até ameaça de retaliação contra os insurgentes. Não deu certo. Os cargos não seduziram, as bravatas não intimidaram a maioria dos deputados.

Também não prosperaram as tentativas de linkar a figura de Cunha ao escândalo do Petrolão. Até uma gravação tragicomicamente encenada foi vazada às vésperas da eleição no intuito de prejudicar a candidatura do favorito.

Não teve jeito. Cunha deu um xeque-mate no adversário, o petista Arlindo Chinalia, e agora ocupará a presidência da Câmara pelos próximos dois anos.

Venceu com casa lotada, em votação secreta e por uma diferença de 131 votos em relação ao adversário petista.
Vai ser mais uma dor de cabeça para Dona Dilma, que, desde a reeleição, vem sendo massacrada pelo fogo amigo que parte de gente graúda do PMDB e do próprio PT.

Eduardo Cunha, apesar de pertencer ao maior partido aliado do governo, tem sido um incômodo para a presidente nos últimos anos.

Tentou travar a votação do Marco Civil da Internet, e articulou a derrubada do decreto presidencial que criava Conselhos Populares em Órgãos públicos. Recentemente, Eduardo Cunha se declarou radicalmente contrário à qualquer projeto que tente regular a mídia de qualquer forma.

Com um aliado assim, quem precisa de oposição?

O discurso de Cunha, ontem à noite, foi uma amostra do que o Governo encontrará pela frente nos próximo anos. O presidente anunciou que colocará em pauta, assim que possível, o projeto que obriga o Governo Federal a liberar verbas para as emendas dos parlamentares. E já sinalizou seu apoio a uma nova CPI para investigar a corrupção na Petrobrás.

A vitória de Cunha é salutar. Ele pode não ter sido o candidato perfeito, mas foi a melhor opção entre o submisso Chinaglia, do PT, o peessebista Júlio Delgado e o apático do Chico Alencar do PSOL, que só conseguiu angariar míseros 8 votos.

A liderança de Eduardo Cunha na Câmara pode ser o início de uma retomada de autonomia numa casa que há muito vem se submetendo bovinamente às vontades do Executivo.

Ainda que o Legislativo tenha agora dois peemedebistas na Presidência, um deles não vai se curvar tão facilmente ao Palácio do Planalto.

Se há uma pedra no meio do caminho do Governo, essa pedra agora se chama Eduardo Cunha.