Congresso Nacional: homens brancos são a maioria
Com maior dificuldade para arrecadar dinheiro nas campanhas eleitorais, negros (pretos e pardos) ocuparão, a partir deste domingo (1º), apenas uma em cada quatro cadeiras do Congresso Nacional e das 27 assembleias legislativas do País.
Hoje, tomam posse 513 deputados federais e 27 senadores eleitos no ano passado. Pelos Estados, assembleias que não trocaram seus integrantes no primeiro dia do ano também dão posse a seus novos parlamentares.
Os eventos completam o ciclo eleitoral que elegeu, além da presidente Dilma Rousseff e dos 27 governadores, quase 1.600 legisladores.
Levantamento inédito feito pelo R7, com base em números do Repositório de Dados Eleitorais do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), aponta que, levando em consideração a relevância do financiamento de campanha para o sucesso nas urnas, a disputa pelos cargos é desigual tanto no Congresso Nacional como nas assembleias estaduais.
Os 113 candidatos brancos a uma das 27 vagas em disputa no Senado, por exemplo, receberam, em média, R$ 2.134.061,84, enquanto os 49 negros (pretos e pardos) conseguiram arrecadar, também em média, somente 28% desse valor — ou R$ 596.428,58. Apenas cinco negros se elegeram.
Dinheiro é voto
O cientista político Fernando Henrique dos Santos, pesquisador da Unicamp, afirma que a relação entre dinheiro e voto é alta.
— Diversos estudos mostram que essa correlação é altíssima. Na política, mais dinheiro significa mais voto (confira entrevista com Fernando Santos).
Um dos indicativos de que a verba é altamente relevante para a eleição de um candidato é o fato de que, na comparação apenas entre os eleitos, a diferença de arrecadação entre negros (R$ 2.354.885,61) e brancos (R$ 5.351.026,95) cai pela metade: ainda assim, os cinco negros (pretos e pardos) eleitos angariam em média apenas 44% do dinheiro recebido em média pelos 22 brancos eleitos.
Esta é a primeira eleição em que o TSE disponibiliza, entre seus dados, a raça/cor declarada pelos candidatos.
Na Câmara dos Deputados, a desigualdade entre os candidatos foi semelhante. Os 3.485 brancos arrecadaram uma média de R$ 272.225,10, e os 2.330 negros (pretos e pardos), apenas 32% dessa quantia — ou R$ 88.020,47. Ao fim da disputa, 411 brancos e 102 negros se elegeram.
O geógrafo Sergio Henrique de Oliveira Teixeira, da Unicamp, afirma que a diferença na arrecadação indica que as principais financiadoras de campanha não têm interesse nas questões propostas pelo movimento negro.
— A pauta do movimento negro não é uma pauta interessante para as grandes empresa, para as grandes financiadoras (confira entrevista com Sergio Teixeira).
Considerando a arrecadação média apenas dos eleitos, a queda na diferença é brusca: negros (pretos e pardos) eleitos receberam R$ 1.006.578,64, enquanto brancos eleitos arrecadaram R$ 1.544.673,42.
O quadro publicado abaixo desta reportagem detalha ainda a diferença de financiamento na disputa por vagas em cada uma 27 assembleias legislativas. Considerando todas as Casas, os candidatos negros (pretos e pardos) arrecadaram só 38% do valor angariado por brancos.
A maior defasagem ocorreu em Santa Catarina, onde os 367 brancos receberam, em média, seis vezes mais que os 28 negros (pretos e pardos) — R$ 138.864,39 ante R$ 20.958,17. Nenhum negro foi eleito no Estado.
Candidato cantor
Mesmo na Bahia, onde, segundo o Censo 2010, 76% da população — e 70% dos candidatos — é negra (preta ou parda), os 388 candidatos negros arrecadaram, em média, menos da metade do arrecadado pelos 161 brancos (R$ 61.479,42 ante R$ 140.109,71). E conquistaram apenas 25 das 63 (40%) cadeiras da Casa.
Sargento Isidório (PSC), negro e segundo mais votado no Estado, diz apelar para o corpo a corpo de campanha, cantando músicas de sua autoria para os eleitores, para compensar a falta de dinheiro (confira reportagem sobre Sargento Isidório).
Mulheres
O levantamento do R7 aponta desigualdade também na comparação entre o financiamento de campanha de mulheres e de homens.
Na corrida pela Câmara, por exemplo, os 4.143 candidatos homens arrecadaram, em média, R$ 252.266,74, enquanto as 1.723 candidatas mulheres angariaram, também em média, R$ 65.461,29 (confira reportagem sobre desigualdade nas campanhas de mulheres e de homens).
O demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, afirma que a legislação que prevê cota para mulheres na disputa eleitoral não resolveu o problema da representatividade no legislativo por causa, entre outros motivos, da existência de candidatas ‘laranjas’ — com financiamento mínimo e, muitas vezes, com voto zero (confira entrevista com José Eustáquio Alves).
Critérios
Os número do Repositório de Dados Eleitorais do TSE tabulados pelo R7 levam em consideração a prestação de contas apresentada pelos candidatos à Justiça. Os números estão sujeitos a retificações.
O R7 considerou eleitos os candidatos apontados como “eleito” ou “eleito com recurso” no banco de dados do TSE. Alguns dos eleitos ganharam cargos no poder Executivo — como os de de ministro ou secretário, por exemplo — e serão ou já foram substituídos pelos suplentes. Mas não perdem a vaga: ao longo da legislatura, poderão assumir suas cadeiras, como titulares, caso deixem seus postos.
Assim como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o TSE usa a denominação “preto” e “pardo”, em vez de “negro”.