O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) confirmou nesta segunda-feira, 26, que a tripulação que transportava o presidenciável do PSB Eduardo Campos não havia realizado treinamento para operar o modelo Cessna 560 XLS e ignorou a rota determinada pelos manuais para aproximação da Base Aérea de Santos, no município de Guarujá, no litoral paulista. As informações haviam sido antecipadas pelo Estado. O avião caiu no dia 13 de agosto, em Santos, matando sete pessoas: além do candidato, assessores e a tripulação.
“O piloto fez de forma diferente do que está previsto na carta, tanto na descida quanto na arremetida”, afirmou o tenente-coronel Raul de Souza, investigador do caso. De acordo com ele, o desrespeito às recomendações de aproximação não é comum. As orientações são dadas justamente para garantir maior segurança de voo. As informações prestadas pelo piloto pelo rádio não condiziam com a imagem apresentada pelo radar, analisada pelo Cenipa.
O avião de Campos havia saído do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, rumo à Base Aérea de Santos, no Guarujá. A previsão era a de que, depois de realizado um compromisso de campanha, o candidato fosse para Congonhas. O acidente ocorreu às 10h03, 40 minutos depois da decolagem. De acordo com Souza, as condições meteorológicas pioraram entre a decolagem e a chegada em Santos, mas nada que comprometesse a segurança da operação.
Sem data. Investigações preliminares indicam não haver indícios de falha técnica no avião. A partir de agora, a ênfase será dada na análise de fatores humanos e operacionais que possam ter levado ao acidente. Embora nenhum problema tenha sido encontrado no avião, o Cenipa evita falar em falha humana, neste estágio das investigações. A equipe, composta por 18 integrantes, concluiu a fase de coleta de dados. Um novo relatório deverá ser apresentado, mas a data não está definida.
Tanto o piloto Marcos Martins quanto o copiloto Geraldo Magela Barbosa não tinham a proficiência requisitada para conduzir o avião. O investigador, no entanto, diz que é necessário avaliar o quanto essa deficiência foi determinante para o acidente. “A não habilitação é um fator de contribuição. Não podemos atribuir o fato ao acidente, mas é uma situação de incerteza.”
Prova dessa incerteza foi a recomendação, feita pelo Cenipa à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac)para que verifique se as tripulações habilitadas para voar o modelo Cessna 560 XLS no Brasil tenham recebido o devido treinamento. “Cabe à Anac adotar os procedimentos para eliminar qualquer condição de risco”, disse
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Em agosto de 2014, a Anac divulgou uma recomendação em que diferenciava o treinamento necessário para pilotar o avião do mesmo modelo usado por Eduardo Campos. Para fazer a adaptação, o piloto deveria fazer um teste de proficiência e o copiloto, um curso de adaptação. Uma das mudanças estava na própria configuração do painel do avião.
Para o tenente-coronel, o importante é verificar se piloto e copiloto tinham treinamento compatível com o avião. “Estamos coletando informações, verificando o treinamento que tiveram.”
Durante a coleta de dados, a equipe procurou reunir informações de várias fontes. Foram ouvidas testemunhas, um filme de câmara de segurança foi analisado e foi feita análise de gravações do avião e de informações de radar. Está descartada a possibilidade de choque com animais, com naves não tripuladas ou fogo na aeronave.
Habilitação. Em nota divulgada na noite desta segunda, a Anac declarou que o piloto e copiloto “estavam com licença e habilitação válidas para voar o Cessna 560 no momento do acidente, “o que permitiria operar todas as aeronaves desta família para as quais eles estivessem treinados”.
Estadão