Gerente de uma pousada de Olinda, em Pernambuco, Diego Fernandes, 26, não dorme direito. O município enfrenta um inesperado racionamento de água em plena época de chuvas e a pouco mais de um mês do Carnaval.
Oficialmente, o racionamento prevê que os moradores fiquem três dias por semana sem água. Mas, como diz Diego, não dá para confiar no sistema. “Já chegamos a ficar até cinco dias sem água.”
Bem em janeiro, quando a chuva costuma não dar trégua em várias partes do país, a escassez de água atinge municípios de Minas Gerais, do Espírito Santo e dos nove Estados do Nordeste.
São 93 cidades oficialmente em racionamento -mesmo número do ano passado. Mas agora a medida atinge não só os pequenos municípios, mas também os médios -inclusive fora do semiárido. No total, são 3,9 milhões de pessoas afetadas.
Em São Paulo, que vive a maior seca em 84 anos, não foi decretado racionamento, mas a pressão da água tem sido reduzida à noite e, nesta semana, foi aprovada uma sobretaxa na conta de água para quem aumentar o consumo. Ela está em vigor desde a última quinta-feira (8).
Já em Juiz de Fora (MG), os moradores ficam sem água uma vez por semana. Na Grande Recife, Olinda, Paulista e Abreu e Lima (PE) enfrentam cortes de água que chegam a três dias por semana.
Em Campina Grande, segunda maior cidade da Paraíba, o fornecimento de água está suspenso aos fins de semana -medida rara também para esta época do ano. A previsão é de que a situação persista até novembro de 2015.
Segundo o Ministério da Integração Nacional, 907 municípios estão em situação de emergência ou calamidade pública em razão da seca.
Mesmo onde não há oficialmente racionamento, a falta de água é rotina. É o caso de Guarapari (ES), cidade de 118 mil moradores que recebe cerca de 1 milhão de visitantes nas férias, onde as torneiras secam sempre, apesar de não haver racionamento.
Os moradores já saíram às ruas para protestar duas vezes desde o Natal. A seca de três rios da região reduziu em 20% a captação de água para abastecer o município.
“É melhor ficar sem luz que sem água. Gosto de ver tudo limpo. Sem luz, só ia ficar chateada se não tivesse o celular”, diz Ravania Santos, 29.
Na Bahia, cidades como Vitória da Conquista, Itabuna e Juazeiro têm interrupções constantes no fornecimento, mas, oficialmente, também não há racionamento.
com Folha