Silêncio na guerra
(Do Jornal da Paraíba ) – Alguém duvida que estamos em guerra. Uma batalha na periferia, em bairros populares, sem pudor de matar, sem medo de pagar aqui terra ou no céu, sem receio da polícia, de flagrante, mandado ou abordagem. Quando o número de assassinatos entre o dia 24 e 25 de dezembro chegou a 15, em todo estado, eu esperei um pronunciamento oficial de algum representante do governo. O secretário de Segurança, por exemplo. Mas Claudio Lima não convocou a imprensa para afirmar que, apesar das execuções, estava tudo sobre controle. Também esperei uma palavra de “conforto”, quando chegou a 19 assassinatos em menos de 24 horas. Cadê o estado? Cadê o recado aos bandidos? Apenas silêncio. Com os dedos cruzados, aguardei um pronunciamento quando nas redes sociais se contava mais de 20 assassinatos e tentativas. Foi difícil acompanhar. O silêncio continuou.
Quando estávamos em oito mortes, um delegado de homicídio afirmou que elas tinham a ver com o indulto de Natal concedido aos presos. Muito apenado do lado de fora. Na fala, ficou subentendido que ou eles estavam matando ou morrendo. Só morreu um preso, pelo que foi divulgado. E os assassinos, eram presidiários? Não saberemos. O Coronel Euller Chaves, comandante da PM, foi jogado as “cobras”. Alguém tinha que dar satisfação. O estudioso em Segurança Pública concedeu entrevistas às emissoras de TV, tentou dar explicações, afirmar que a polícia estava na rua, intensificando ações. Registrou ainda que as execuções em série são um “fenômeno, algo pontual”.
O Coronel entregou o problema na mão do sistema. “É bom ressaltar que a grande maioria dessas pessoas que cometem crimes ou são vítimas de homicídios já foram presas pela Polícia Militar em algum outro momento, retratando claramente que o grande gargalo da insegurança pública nacional, da violência urbana e rural, é a impunidade”, disse. Em parte, está certo. Mas, nesse momento de crise, o que a população precisa sentir é que ela não está desassistida, que o estado tem o controle, que a polícia vai se desdobrar para evitar mais execuções. O fato é que ninguém, ninguém se pronunciou de maneira oficial, com bandeira da Paraíba ao fundo, com a marca da Secretaria de Segurança Pública. Daquele jeito que se faz quando bandidos são presos e se exige pirotecnia.
Os crimes têm relação com as drogas, diz a polícia. Há também a explicação de que os homicídios são resultado de brigas de facções criminosas, grupos rivais. Não há estudos que comprovem isso, mas há coleta de dados, pesquisas, que mostram que as vítimas dessas mortes são jovens, negros e pobres. Muitos que pediram ajuda para sair das drogas, que pediram socorro às mães, mas não conseguiram um local para o tratamento, para recuperação. O estado não tem. Muitos que se arrependeram de cheirar, fumar, mas não tinham dinheiro para pagar a ajuda. Muitos foram vítimas de criminosos, traficantes, bandidos que perderam o medo de matar a qualquer hora do dia, porque sabem que não serão pegos, presos. Porque sabem que a polícia não estará por perto, aliás, que a quantidade de policiais é pequena e que eles não dão conta. Só pra se ter uma ideia, a média é de 1 PM para cada 300 habitantes, temos 1 policial para 450 paraibanos.
Óbvio que solução não virá só com a diminuição do déficit na policial. Nem, apenas, com construção de instituições de recuperação de dependentes ou desvendando crimes e punindo culpados. A mudança não é pontual. Mas estamos mal em todos esses quesitos. Aí bate um pouco de revolta, a esperança suspira e ficamos, cada vez mais, com medo dessa guerra, que amplia seus muros.