Rubens Nóbrega: "Nem o natal escapa de uma Paraíba tão violenta"

"Puxo pela memória e não lembro, sinceramente, de uma Paraíba tão violenta como a de hoje"

jovem morto

Rebobinando a fita de mais de 40 anos de jornalismo, puxo pela memória e não lembro, sinceramente, de uma Paraíba tão violenta como a de hoje. E nunca vi na minha vida tamanha carnificina no período natalino. Segundo registros da própria Polícia, pelo menos 22 pessoas foram assassinadas nas 48 horas que cobriram da véspera ao Dia de Natal em nosso Estado. Pra vocês terem uma ideia do ponto a que chegamos, no mesmo espaço de tempo São Paulo registrou metade do número de homicídios consumados entre nós.

Mas, já dizia o venerado Barão de Itararé, nada é tão ruim que não possa piorar. Pois não é que alguns policiais e seus clones na imprensa atribuíram a mais recente matança paraibana ao indulto natalino! Mesmo que apenas dois dos trucidados na base da bala ou da peixeira tenham sido identificadas com alguma precisão como presidiários em liberdade temporária. Acreditem, contudo, que o festival de sandices em torno do assunto não se limitou a culpar a soltura temporáriapela maioria das mortes ‘natalinas’. Teve gente que, antes, fez pior.

Digo assim porque no começo da semana, em entrevista à TV Arapuan, o governador Ricardo Coutinho teria criticado duramente a espetacularização das notícias sobre violência na Paraíba. Na análise de quem é do ramo e gravou a declaração, a crítica veio mesmo no tom de quem tenta convencer a população de que a responsabilidade pela crescente onda de crimes no Estado pode ser debitada também na conta de certos programas de rádio e de tevê e de jornais e portais de Internet que, realmente, espetacularizam a cobertura dos crimes de morte.

FILHA DA INJUSTIÇA

É fato que eventualmente ou permanentemente alguns meios de comunicação e seus produtos mais vendáveis recorrem mesmo à ‘espetacularização da violência’, expressão supostamente usada pelo governador. É o expediente mais surrado à disposição da audiência fácil. Mas é fato também que só existe tal espetacularização, com toda a sua carga de distorções, porque existe a violência. E como existe! E como se expandiu preocupantemente sob o atual governo! Justamente o governo daquele que na campanha para se eleger não se acanhou de prometer acabar ou reduzir drasticamente a violência nos seis primeiros meses de mandato. Um governo que deveria saber que no atacado a criminalidade é filha da desigualdade, da exclusão e da injustiça social e, no varejo, irmã siamesa da incompetência de gestão para conter e enquadrar a bandidagem.

Ineficiência e insuficiência

Se a violência pode ser entendida como um problema estrutural, é inegavelmente conjuntural o seu crescimento, com surtos e picos enlutando injustamente os momentos mais festivos e movimentados da população em determinado território. Entre as causas circunstanciais mais visíveis, temos a ineficiência, a insuficiência ou até mesmo a inexistência de políticas públicas – dignas do nome – para segurança coletiva e defesa social. No caso da Paraíba, parece-me evidente que a questão é mais de ineficiência e insuficiência. Ineficiência que se reflete na impressionante escalada de homicídios e tentativas de, somados às agressões de toda ordem contra pessoas de bem, vítimas de facínoras que atacam cada vez mais à vontade tanto a integridade física como o patrimônio alheio. Já a insuficiência está muito bem representada no efetivo policial pouco e mal remunerado, consequentemente, mal preparado e mal aparelhado em sua maioria para enfrentar o crime em todas as suas modalidades.

Marinho Mendes e Gaeco

Nas duas últimas colunas, dedicadas aos Melhores do Ano, deveria ter incluído a atuação de dois grandes destaques do Ministério Público da Paraíba: o trabalho do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado do Ministério Público da Paraíba (Gaeco/MPPB) e o Promotor de Justiça Marinho Mendes Machado. Esclareço que não foram citados até aqui porque estavam reservados para abrir uma terceira e última edição da série, programada para a próxima terça-feira (30). Mas aí… Ontem, atilado colaborador cobrou-me com justificada ênfase a suposta omissão ou exclusão.

Motivado pela questionadora e oportuna intervenção, resolvi me antecipar e dizer que o MPPB tem, entre outras iniciativas merecedoras dos maiores elogios e incentivos, o desempenho do Doutor Marinho Mendes e de seus colegas de Gaeco no combate à corrupção. O Promotor, pelo trabalho educativo que desenvolve em palestras sobre o assunto para centenas de pessoas que frequentam ambientes como terminais rodoviários, shoppings centers e praças públicas. O Grupo, pelas operações de grande impacto e resultados comemorados pela cidadania e probidade.

Duas operações de impacto

O Gaeco liderou a famosa Operação Pão e Circo, que ano passado desarticulou um esquema de superfaturamento nos contratos de bandas musicais para festas em diversos municípios paraibanos. Este ano, no mês de abril para ser mais preciso, foi a vez da Operação Papel Timbrado, desencadeada contra fraudes em licitação e lavagem de dinheiro. Crimes cometidos em prefeituras do interior do Estado, envolvendo escritórios de contabilidade e 15 empresas de construção civil. As investigações e os mandados judiciais decorrentes estancaram uma sangriade nada menos que R$ 45 milhõesdos cofres públicos para bolsos privados em apenas um ano.