O ANO DO FACEBOOK
Por Lelê Teles
O Facebook é como aquela casa em que vivia Michael Jackson.
Todo mundo teve um ano maravilhoso, ninguém perdeu a mãe, ou o emprego, ou a namorada, ou uma pasta cheia de dólares.
Ninguém têm dívidas, ninguém tem dúvidas, só dádivas; mesmo os que foram hospitalizados tiravam selfies no leito do hospital dando joia, tipo: tô aqui todo entubado, mas tô bem.
Todo mundo tá feliz, todo mundo quer brincar, todo mundo pede bis.
Abandonaram o Be Yourself pelo Be Your Selfie. O importante é mostrar os dentes.
Não conheço um que tem medo de fantasma, que levou chifre, que tem unha encravada.
Ninguém toma Demerol pra dormir. Só o Michael Jackson!
Não teve um que falou que humilhou um garçom, subornou um guarda ou pediu para um amigo músico pra entrar de graça em seu show.
No Facebook só tem vencedores.
Se tivesse um aplicativo para fazer uma regressão virtual, todos teriam sido reis, rainhas, imperadores e papas.
Até o Aécio diz que foi ele quem venceu as eleições.
Até os eleitores de Aécio sumiram.
Isso é efeito Facebook, aqui o cabra não pode perder, nem tirar foto sem mostrar os dentes.
No Facebook não tem banguelas, não tem espinhas no nariz, não tem rugas nem verrugas.
Antigamente, antes do ano acabar, a gente desejava um feliz ano novo para os outros; com o Facebook, a gente diz aos outros que nós tivemos um feliz ano velho.
É, Suckerberg, você venceu.
Viramos uns vaidosos deslumbrados e exibicionistas.
Mas na vera, olho no olho, no tato, cara a cara, na vida real, nego continua na mesma boçalidade de sempre
Ninguém lhe oferece a mão, apenas lhe desejam boa sorte; ninguém lança uma corda pra te tirar do buraco, só gritam na boca do fosso “força aí, cara”…
As pessoas tão ocupadas demais em sorrir e ninguém mais têm tempo pra ser feliz.
Todo mundo quer estar cercado de amigos, mas ninguém quer ser solidário.
Agora, aproveita o passeio no shopping e senta lá no colo do Papai Noel, confessa que você fez xixi na cama, cara.
Ainda dá tempo.
Palavra da salvação.
Lelê Teles