Respeitem Marcela! - Rubens Nóbrega

Marcela Sitônio é uma pessoa de bem, do bem, que faz bem. Para além de sua natural excelência humana, profissionalmente, como jornalista, ela é exemplo de seriedade e competência.
Somemos agora as qualidades de Marcela Sitônio e chegaremos a um paradigma de cidadã, de mulher respeitada e admirada pelos bons, pelos homens e mulheres de bem, do bem, que fazem bem.

Por esses e muitos outros atributos, Marcela Sitônio é a presidente da Associação Paraibana de Imprensa (API), para a qual foi eleita pela quase unanimidade dos filiados à entidade.
Mas não tem sido fácil a presidência de Marcela, sobretudo porque o seu mandato coincide com um dos períodos mais conturbados na história das relações entre a imprensa e o poder no Estado.

E a missão de Marcela fica a cada dia muito mais difícil ainda porque ela não admite desviar-se um milímetro sequer da história da API.
Que é uma história de lutas e resistência a toda e qualquer forma de arbítrio, de autoritarismo, de intolerância, de ameaça ou agressão às liberdades civis, com destaque para a liberdade de imprensa e de expressão.
Por essas e tantas outras, se alguém vir, ouvir ou ler alguma censura ao desempenho de Marcela… Tenha a certeza de estar diante da manifestação de quem defende exatamente o oposto do que ela defende e representa.

No momento, ou mais precisamente há dois dias, Marcela vem sendo intensamente bombardeada porque – vejam só! – redigiu e divulgou nota da API em favor e defesa dos mesmos valores que sempre pautaram sua conduta.
O problema é que ao proceder dessa forma Marcela o fez por ter sido procurada e instada a se manifestar por filiados à API que se sentem perseguidos e ameaçados pelo governo que aí está. Aí, como diria o filósofo José Horácio, o bicho pega. Pegou.

Pegou porque Marcela não faltou aos que se sentem perseguidos porque discordam e criticam atos de governo e ameaçados porque estão sendo processados judicialmente pelo governo que criticam.

Diante do problema por que estão passando esses colegas, pergunto: como poderia a presidente de uma API ficar omissa, indiferente ou – absurdo dos absurdos – ficar contra os seus filiados e do lado do governo?

Reparem que ficar ao lado dos colegas não significa – como não significou – que Marcela e a API tenham ficado contra o governo, muito menos contra o governador.

Mas, ainda assim, ela está sendo atacada e desrespeitada por uns poucos, entre esses alguns que não merecem – inclusive porque não têm – o menor respeito.

O que está ‘pegando’
O que se discute e se condena são gestos e atitudes, comportamentos e iniciativas de governo ou do governante, todas ostensivamente voltadas para abafar ou esmagar quem dele diverge ou perante ele não se curva.
Mesmo assim, Marcela não cometeu na nota da API uma palavra, uma linha, frase ou período sequer em que negue ao governador o direito de recorrer à Justiça quando se sentir ofendido ou verdadeiramente alcançado por alguma calúnia.
A questão não é essa. A questão é política, no pior sentido, no sentido político de quem inequivocamente busca a Justiça como método de intimidação, de inibição e até de eliminação do direito de opinião contrária aos seus interesses.
Marcela e a API não apenas têm o direito, mas, sobretudo, o dever de se manifestar sobre o nebuloso e tenso quadro político que formou na Paraíba ringue bastante visível aos olhos de praticamente toda a nossa comunidade pensante.
Temos hoje, de um lado, o governo, o governador, seus porta-vozes oficiais, oficiosos, batedores e bajuladores; do outro, os críticos do governo e do governador que ocupam espaços de opinião em jornais, rádio, televisão e internet.
Diante de um duelo como esse, que presidente seria Marcela se restringisse o seu posicionamento aos bastidores ou ao interior da sede da API, que ameaça desabar por falta de apoio do seu próprio corpo de associados e do poder público?
Poderia a presidente agir de modo diverso? Poderia omitir-se? Como poderia ficar cega, surda e muda diante de tão evidente esforço para judicializar o exercício do jornalismo crítico e criminalizar a prática do jornalismo investigativo?

Confira a nota da API
A nota da API divulgada anteontem por Marcela Sitônio (leia na íntegra, adiante) segue um padrão e uma tradição na entidade. Difere em nada do texto que já se tornou quase um clichê para esse tipo de pronunciamento.
A diferença é que um pronunciamento do gênero jamais havia batido de frente com governistas tão raivosos como esses que assumiram o poder na Paraíba e fazem desse poder uma arma, além de um fim em si mesmo.

Associação Paraibana de Imprensa

Nota

A respeito da carta de jornalistas que se sentem perseguidos pelo Governo, entregue a esta API e à OAB-PB, reafirmamos nossa luta em defesa da liberdade de Imprensa, da livre manifestação de pensamento e de divulgação de fatos político-sociais de interesse coletivo.
A Associação Paraibana de Imprensa (API), ao assim se pronunciar, conclama cidadãos e cidadãs, profissionais da imprensa, entidades e organizações da sociedade civil e pública, a uma vigília permanente por uma Imprensa independente, que propicie ao povo uma mídia plural e democrática.
O direito à informação de todos e de todas, assegurado pela Constituição Brasileira, é inegociável e indelével, o que constará sempre na pauta de nossas ações, assim como o repúdio a qualquer tipo de perseguição, ameaça e assédio. Também decide combater chantagens processuais ou intimidação por parte dos poderes públicos ou privados, incomodados pelo altivo desempenho profissional do jornalismo que contraria ou não interesses particulares ou políticos ou que critique, construtivamente, fatos e ações na vida política da nossa cidade, do nosso do nosso Estado ou do nosso país.

Marcela Sitônio
Presidente da API