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41 mil famílias passam fome na Paraíba

Pnad mostra que a falta de comida ou de recursos para comprá-la ainda preocupa 1,5 milhão de paraibanos

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O número de pessoas que vivem em situação de insegurança alimentar na Paraíba caiu 4,6% entre 2009 e 2013. No ano passado, 1,59 milhão de paraibanos apresentava alguma restrição alimentar ou, pelo menos, alguma preocupação com a falta de recursos para adquirir alimentos, sendo que 41 mil famílias passam fome. Em 2009, esse número era de 1,67 milhão. O percentual de domicílios particulares com insegurança alimentar também caiu, saindo de 41% em 2009 para 36,5% em 2013. Apesar da redução percentual, houve aumento de 4 mil domicílios com o problema, em números absolutos. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), sobre insegurança alimentar, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que também registrou queda nos índices nacionais.

Os dados da Pnad mostram que, na Paraíba, a insegurança alimentar é maior para as mulheres do que para os homens. Em 2009, 862 mil mulheres tinham dificuldade de conseguir alimento, enquanto que os homens somavam 817 milhão. No ano passado, mesmo com as reduções, as mulheres continuaram em maioria, com 811 mil e 782 mil homens. Os números também mostram que houve aumento na insegurança alimentar classificada como leve, entre 2009 e 2013. Entre os homens o percentual subiu de 25% para 27,5% e entre as mulheres, subiu de 34,7% para 27,2%. A redução, no mesmo período, foi registrada na insegurança alimentar moderada ou grave, saindo de 19,3% para 14,4% entre os homens e de 19,5% para 12,3% entre as mulheres.

Entre os domicílios paraibanos, a pesquisa registrou aumento dos que tinham insegurança alimentar leve e moderada, entre 2009 e 2013. Na classificação leve, o número de domicílios passou de 252 mil para 286 mil. No tipo moderada, o aumento foi de 5 mil unidades, passando de 112 mil para 117 mil. A redução foi registrada na classificação grave, que tinha 75 mil domicílios em 2009 para 41 mil em 2013.

Dos 65,3 milhões de domicílios particulares no País, 77,4% estavam em situação de insegurança alimentar em 2013. Eram 50,5 milhões de residências com 149,4 milhões de pessoas. O problema era maior no Norte e Nordeste, atingindo, respectivamente, 36,1% e 38,1% dos domicílios, bem como na área rural (35,3%). A insegurança alimentar também era maior em domicílios onde residiam menores de 18 anos (28,8%), entre os pretos e pardos (33,4%) e aqueles com um a três anos de estudo (13,7%).

Insegurança alimentar moderada ou grave

As prevalências de insegurança alimentar na área rural eram maiores que as verificadas nas áreas urbanas. Em 2013, enquanto 20,5% dos domicílios da área urbana tinham moradores em situação de insegurança alimentar (6,8% moderada ou grave), na área rural, a proporção foi 35,3% (13,9% moderada ou grave). Nos domicílios particulares urbanos em insegurança alimentar moderada ou grave viviam 7,4% da população urbana, enquanto nos rurais viviam 15,8% da população rural.

Enquanto na área rural, em relação a 2009, houve queda na proporção de domicílios em situação de insegurança alimentar moderada ou grave (15,6%, em 2009, para 13,9%, em 2013), para os domicílios em situação de insegurança alimentar leve houve aumento na proporção (19,5% para 21,4%). Deste modo, a prevalência de segurança alimentar não registrou variação significativa (64,8% para 64,7%) entre esses anos. Entretanto, na área urbana, a proporção de domicílios em segurança alimentar aumentou, passando de 70,7%, em 2009, para 79,5%, em 2013. A prevalência de domicílios em insegurança alimentar moderada ou grave na área urbana, em 2013, era 6,8% (10,8% em 2009).

As cinco grandes regiões apresentaram prevalências de domicílios em situação de insegurança alimentar de forma diferenciada. As regiões Norte e Nordeste apresentaram as maiores proporções (36,1% e 38,1%, respectivamente). Nas demais regiões, o percentual de domicílios em situação de insegurança alimentar ficou abaixo dos 20%: 14,5% na Sudeste; 14,9% na Sul; e 18,2% na Centro-Oeste. Considerando a insegurança alimentar grave, o panorama de desigualdade regional permanece. Nas regiões Norte e Nordeste, as proporções de domicílios onde algum morador passou pela experiência de fome foram 6,7% e 5,6%, respectivamente. Nas regiões Sudeste e Sul, a prevalência ficou em 1,9% e, na Centro-Oeste, 2,3%.

Comprar fiado

Pela primeira vez, a Pnad investigou qual a estratégia utilizada pelas famílias em situação de insegurança alimentar. Comprar fiado foi a principal atitude adotada (43,3%), seguida por pedir alimentos emprestados a parentes, vizinhos e/ou amigos (27,8%); deixar de comprar alimentos supérfluos (7,2%); pedir dinheiro emprestado (5,0%); comer menos carnes (3,5%); receber alimentos da comunidade, vizinhos, parentes e amigos (3,3%), prestar pequenos serviços a parentes e amigos em troca de alimentos (2,8%) ou outras atitudes (7,1%). Nas grandes regiões, comprar fiado foi a principal atitude no Nordeste (53,8%), Norte (50,2%) e Centro-Oeste (37,3%). Pedir alimentos emprestados a parentes, vizinhos e/ou amigos foi a principal atitude no Sul (34,2%) e Sudeste (33,5%).

Geladeira

Em relação à posse de bens, 98,3% dos domicílios em segurança alimentar possuíam geladeira, ao passo que, entre os com insegurança grave, 85,8% possuíam este bem. Estas diferenças ocorreram para todos os bens investigados e, quanto mais intensa a situação de insegurança, menor era a proporção de domicílios que possuíam o bem em questão, para a maioria dos bens.

As maiores diferenças entre a proporção de domicílios em situação de segurança alimentar e a de insegurança alimentar grave, de acordo com a posse de bens, ocorreram para a máquina de lavar roupa (64,5% contra 21,8%), o microcomputador (54,8% contra 13,8%) e o microcomputador com acesso à internet (48,2% contra 10,0%).

Necessidade

Na casa de número 72 da Rua Severino José do Nascimento, na comunidade S, vive a família de Francisco Mathias Filho. O homem de 46 anos tem aparência de mais de 60 e mora numa pequena casa com a esposa, quatro de seus cinco filhos e seis netos – a mais velha com 12 anos e a mais nova com dois meses. A renda mensal familiar é de R$ 470, pouco mais de R$ 40 por pessoa. Isso faz com que a família faça uma refeição pensando se vai ter a próxima. “Prefiro passar necessidade do que ser morto porque roubou e fez coisa errada. Cato papel e vendo a R$ 0,20 o quilo. Quando trabalho direitinho, da pra tirar R$ 350 por mês. Minha filha recebe bolsa família, mas é R$ 120, não dá nem pra dar de comer aos cinco filhos dela. Por isso tenho que trabalhar muito”, contou. Ele disse que há dias que as refeições não são completas. “Falta o açúcar, no outro falta o café. Tem dias que falta o feijão, mas a gente vai fazendo o que dá, comendo menos pra dar para as crianças”, revelou.

Correio da Paraíba