A divulgação do relatório final da Comissão Nacional Verdade (CNV) foi o mote decisivo para a retirada de uma estátua do presidente Arthur da Costa e Silva do principal ponto turístico de Taquari, cidade natal do ditador. Com auxílio de uma máquina retroescavadeira, a prefeitura derrubou o busto que ficava na Lagoa Armênia, desde 1976, na tarde desta terça-feira.
Segundo o prefeito Emanuel Hassen (PT), conhecido como Maneco, o relatório comprovou as “atrocidades” cometidas pelo presidente, que não merece uma homenagem na Lagoa.
— É o principal ponto de manifestações culturais da cidade, e a gente sabe que a ditadura foi contra qualquer manifestação, seja de música, dança ou arte. Não tinha mais sentido ficar ali — justifica Maneco.
Junto do busto, uma placa explicava que foi na Lagoa Armênia que Costa e Silva, ainda na infância, organizou seu primeiro pelotão de meninos e que, quando presidente, “comandou com altruísmo o Brasil e o povo brasileiro”.
Um vídeo que registrou a retirada da estátua foi compartilhado mais de 300 vezes em um período de três horas.
Embora tenha sido derrubada, a estátua está intacta, garante o prefeito, e foi levada para a Casa Costa e Silva, um museu em homenagem ao ditador e que fica na casa onde Costa e Silva morou no início da vida. Ao lado do busto, a prefeitura vai colocar uma cópia do relatório da CNV.
— Não temos intenção de esconder a história, mas vamos, então, mostrá-la por completo. Quem for lá pode tirar as próprias conclusões — esclarece Maneco.
Quem foi Costa e Silva
Arthur da Costa e Silva nasceu em Taquari, no Vale do Taquari, no RS, em 3 de outubro de 1899. Seus estudos sempre foram realizados em escolas militares, ele participou da revolta tenentista em 1922, foi aprisionado e indultado. Um dos principais organizadores do golpe de 1964, ele tomou parte do Comando Supremo da Revolução. Durante o governo de Castelo Branco, foi seu ministro da Guerra, deixando o cargo para concorrer às eleições indiretas para a Presidência da República pela Arena. No dia 3 de outubro de 1966, foi eleito presidente, tendo como vice Pedro Aleixo.
Nos dois primeiros anos de seu governo, a atividade política foi muita enérgica. Surgiu a Frente Ampla, criada por políticos de diversas inclinações, tendo como chefe Carlos Lacerda e o assentimento de Juscelino Kubitschek e de João Goulart. A Frente Ampla apoiava a luta pelo retorno da democracia, perdão por crimes políticos, a escolha de presidente por meio de eleições diretas e a formação de uma nova Constituinte.
O período de 1968 entrou para a história como o ano dos grandes protestos e das reações violentas por parte do governo. Os estudantes declararam-se contrários à falta de verbas para a educação, além de se oporem à transferência do ensino público para o setor privado.
A morte do estudante do ensino secundário Edson Luís, em um confronto com a polícia militar, provocou uma reação em massa dos estudantes, que anunciaram uma paralisação estudantil de âmbito nacional, ocorreram várias reuniões políticas e manifestações públicas, das quais fizeram parte várias esferas sociais.
A fase mais crítica para o governo deu-se com a passeata dos cem mil – ato ocorrido no Rio de Janeiro –, a tensão política aumentou e no mês de abril o governo coibiu a Frente Ampla – as reuniões, as expressões públicas e qualquer espécie de divulgação tornaram-se contrárias à lei. Ocorreram greves em Contagem, no estado de Minas Gerais e Osasco, em São Paulo, local no qual ocorreu uma intervenção do Governo no Sindicato dos Metalúrgicos.
No mês de outubro a UNE – União Nacional dos Estudantes – efetuou em Ibiúna, São Paulo, uma reunião secreta. Apesar de todo cuidado tomado, os estudantes foram descobertos e presos. Surgem os primeiros atos guerrilheiros na cidade de São Paulo, o Consulado americano é alvo de uma bomba, ocorre o famoso assalto ao trem pagador na cidade de Jundiaí, o hospital militar do Cambuci é alvo de um ataque armado.
Um deputado do MDB, de nome Márcio Moreira Alves, fez um discurso na Câmara dos Deputados culpando os militares pelas atrocidades perpetradas em oposição aos estudantes. Suas palavras foram consideradas um afronto às forças armadas, e teve como conseqüência o pedido de cassação de seu mandato pelo governo, o qual foi negado pela Câmara dos Deputados.
O governo, sentindo-se derrotado e tendo que se defender dos atos contrários ao regime militar, tornou oficialmente público, por meio de seu ministro da Justiça, Gama e Silva, o AI-5, cujas principais características foram: aumento dos poderes do Presidente – os quais permitiam a este encerrar os trabalhos do Legislativo no momento que lhe aprouvesse, aproveitando para formalizar a cassação de vários parlamentares -, a paralisação dos direitos políticos e a perda dos privilégios proporcionados pela Constituição, a intercessão da Federação nos estados e municípios, a destituição e aposentadoria de trabalhadores públicos, entre outras providências.
Paralelamente a este caos social que o governo enfrentava, havia coisas boas acontecendo na área econômica, sob o comando do ministro Delfim Neto. Houve a reconciliação entre o desenvolvimento industrial e a concessão de crédito, a política salarial encontrava-se sob controle, assim como a inflação, que girava em torno de 23% ao ano.
Criou-se o MOBRAL – Movimento brasileiro de Alfabetização. O Serviço de Proteção ao Índio – antigo SPI – passou a se chamar FUNAI – Fundação Nacional do Índio. Nesta mesma época surgiram também a EMBRAER e a CPRM.
No dia 31 de agosto de 1969, o presidente Arthur da Costa e Silva afastou-se do cargo em decorrência de uma trombose cerebral, sendo substituído por uma Junta Militar. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 17 de dezembro de 1969.
Brasil Escola