A morte de Luciano Agra, aos 62 anos, é apenas o desfecho presumido e prematuro de um longo sofrimento na vida de um homem bom que não se lamuriava das dores do corpo e da alma que lhe reduziam a vida e a vontade de viver.
A vida por si mesma já o agredia em razão da fragilidade da saúde, mas nunca o impediu de trabalhar e produzir a favor da sociedade a que pertencia. Cuidou com esmero da cidade que amava, antes de ser autoridade, modelando seu perfil arquitetônico como se ela fosse sua obra prima e imortal de arquitetura.
Quanto a vontade de viver, nos últimos tempos, não parecia demonstrar ter por ela grande apego, talvez porque nunca pensou em ser político mas terminou sendo puxado para esse abismo, que calculava não lhe servir de calvário e sepultura em tão breve tempo.
Sim, foi a política e os políticos, especialmente aqueles a quem mais serviu, que criaram no espírito de Agra a sensação de que a política é uma arte perversa, enganosa, fria, traiçoeira, covarde, capaz de destruir os melhores encantos da alma de um arquiteto criativo e sonhador que construía uma cidade como o pintor que pinta paisagens e o poeta que inventa uma natureza dentro da outra.
Foi assim que Agra morreu, menos de seus problemas crônicos e mais de desilusões e desencantos, frustrações, decepções, amarguras e agressões violentas contra a sua alma pacata e iludida com relação às atenções e a gratidão devidas pelos lideres políticos.
Mas haverá uma compensação tardia e sem nenhum efeito eficaz: todos os que contribuíram para Agra morrer e nada fizeram para ele recuperar o gosto pela vida, serão os mesmos que colocarão flores em seu túmulo e incenso verbal sobre a sua memória. A hipocrisia é que vai sobreviver, ele não.
Por Gilvan Freire