A roda da fortuna - Rubens Nóbrega

Um médico que conhece o Hospital de Trauma de João Pessoa por dentro e por fora teme que o governador Ricardo Coutinho entregue à ‘Cruz Vermelha’ também o HT de Campina Grande e outros importantes hospitais mantidos pelo Estado.

Ele diz que já viu esse filme no Maranhão. Lá, em um passado recente, a terceirização foi progressivamente tomando conta de diversos hospitais públicos, até ser estancada por conta de sucessivas denúncias acerca de desvios envolvendo o esquema.

Segundo o médico, tanto lá como cá estamos diante de um negócio milionário, no qual pessoas que utilizam a ‘grife’ Cruz Vermelha ganham milhões de reais através de contratos com governos descompromissados com a saúde da população.

O médico – de quem, por motivos óbvios, preservo a identidade – não se admira se daqui a pouco “esse pessoal que veio do Rio de Janeiro” desde a greve no Trauma “entrar” em Campina, Patos, Cajazeiras, Guarabira, Itabaiana…

O pior disso tudo, observa, é que “eles trabalham numa lógica onde a palavra de ordem é reduzir custos ao máximo para otimizar também ao máximo os seus ganhos, o que explica as demissões, economia de insumos e de procedimentos”, disse.

A fonte da coluna acredita, inclusive, que sob a nova gestão o Trauma já teria passado a comprar remédios os mais baratos possíveis (antibióticos, sobretudo) que comprometem o tratamento e, por via de consequência, a vida dos pacientes.

Outra economia importante que já estaria sendo feita pelos novos gestores é a de procedimentos (cirurgias, sobretudo) que não são necessariamente emergência, mas que estavam sendo realizadas com sucesso no Hospital de Trauma; agora, não mais.

Outra conseqüência extremamente danosa que o médico prevê como decorrência da terceirização é o fim dos concursos públicos – e da capacidade profissional, como critério – para contratação da melhor força de trabalho para os nossos hospitais.

“Os contratados como celetistas sequer precisam fazer uma seleção simplificada, levando a terceirização a repetir nos hospitais o famoso QI (quem indica) dos políticos ligados ao governo interessados em empregar afilhados seus”, adverte.

O médico que conversou com o colunista diz ter ficado perplexo ao ver o governador Ricardo Coutinho propalando que o HT custaria R$ 10 milhões por mês e que, graças ao contrato com a CV, passaria a custar R$ 6 milhões.

“Impressionante a estratégia, pois muita gente acreditou na história dos R$ 10 milhões e na mágica da economia de R$ 4 milhões simultânea à melhora na qualidade e na quantidade de atendimentos no Trauma”, comentou.

Não sabe, contudo, como o governador “teve coragem” de vir a público “dizer uma coisa dessas”, quando na verdade – calcula – serão pelo menos R$ 2 milhões líquidos, livres, leves e soltos todo mês para o pessoal que veio da Baixada.

“Agora, imagine se esse esquema for levado ao HT de Campina. Serão, no mínimo, mais R$ 2 milhões a mais pra eles. Se chegar a Patos, mais R$ 1 milhão… Esse negócio vai fazer fortunas aqui na Paraíba, Rubens, pode apostar”, garantiu.

Eu não duvido de nada, meu Doutor, e me penitencio por ter achado que com essa terceirização o governo estaria admitindo publicamente sua incompetência para administrar o Hospital de Trauma. Pelo visto, não é isso. Ou não era só isso.

Governador não responde

Desde terça-feira (dia 19) da semana passada aguardo do governador Ricardo Coutinho eou do seu secretário de Comunicação Social, jornalista Nonato Bandeira, respostas para os questionamentos que reproduzo a seguir.

***

Senhor Governador,

1. O deputado Manoel Júnior mostrou, com documento timbrado do Governo do Estado, que o custeio do Hospital de Trauma de João Pessoa não chega a R$ 5 milhões por mês, na média. O que Vossa Excelência tem a dizer sobre essa informação do deputado, considerando que para justificar a terceirização o senhor vem dizendo que o custeio do HT é de R$ 10 milhões, que vai economizar R$ 4 milhões com esse contrato com a ‘Cruz Vermelha’, que vai melhorar o desempenho e ainda aumentar o número de atendimentos e procedimentos?

2. O jornalista Clilson Júnior exibiu ontem em sua coluna no ClickPB uma fotografia na qual aparece uma Lamborghini preta estacionada em frente à Casa Grande da Granja Santana. Parece-me que o empresário Roberto Santiago é o único proprietário, em João Pessoa ou na Paraíba inteira, de uma máquina como essa (o modelo 2011 custa cerca de R$ 1 milhão e 100 mil reais). Sendo assim, o senhor confirma que recebeu a visita do empresário na Granja? Quando foi? Poderia revelar o que trataram durante essa visita?

3. O blogueiro Dércio Alcântara denuncia que pessoas ligadas ao seu governo estariam utilizando clandestinamente um equipamento de uso exclusivo da Polícia para grampear telefones, também ilegalmente, de quem o senhor consideraria adversário político ou inimigo pessoal. O que Vossa Excelência tem a dizer sobre essa denúncia? Vai, pelo menos, mandar apurar? Pretende rebater publicamente o que Dércio denunciou? Ou vai ajuizar mais uma ação judicial contra o blogueiro?

No aguardo de suas informações e esclarecimentos, sou,

Respeitosamente, Rubens Nóbrega, colunista do Jornal da Paraíba.

Chega de intermediários!

Depois que vi a pista do Aeroclube destruída, como se tivesse sido alvo de um bombardeio aéreo…

Depois que vi o troca-troca de terrenos na Assembléia sem laudo de avaliação prévia, afrontando o que manda lei…

Depois que vi o quanto Sua Excelência está empenhada em aprovar o projeto por cima de pau e pedra…

Depois que não vi o governador admitir uma vez sequer submeter o negócio a uma concorrência pública…

Depois que soube de um projeto de shopping bem maior para Mangabeira encalhado na Prefeitura da Capital desde 2006…

Depois que me convenci que nenhum outro empreendimento do gênero será aprovado se não for do Manaíra Shopping…

Resolvi lançar o nome de Roberto Santiago para prefeito de João Pessoa em 2012 e para governador da Paraíba em 2014.