A ex-primeira dama da Paraíba, Glauce Burity, envia carta ao presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, reclamando de homenagem ao ex-governador Ronaldo Cunha Lima, que terá seu nome em um novo prédio do Poder legislativo em Brasília.
Na carta, Glauce Maria, cita a tentativa de assassinato de Ronaldo Cunha Lima contra Burity em restaurante de João Pessoa.
Leia a carta na íntegra:
Exmo. Sr. Presidente do Senado Federal
Senador Renan Calheiros
Prezado Senador;
A propósito da notícia veiculada nos meios de comunicação sobre a homenagem a ser prestada pelo Senado Federal ao ex-Governador Ronaldo Cunha Lima, numa das salas do Programa de Treinamento de Funcionários (Interlegis) desta egrégia Casa, peço transmitir a todos os congressistas a indignação da família de Tarcísio de Miranda Burity, vítima de uma tentativa de homicídio qualificado praticada por aquele cidadão quando Governador do Estado da Paraíba.
Vale relembrar o fato:
1) No dia 05 de novembro de 1993, de forma premeditada, o ex-governador Ronaldo Cunha Lima ao adentrar num restaurante da Capital do Estado, disparou três (03) tiros contra um cidadão íntegro, jurista, professor de Direito, ex-Secretário de Educação e Cultura do Estado, ex-Deputado Federal, governador por dois mandatos, que além de indefeso, estava desarmado, almoçando despreocupadamente, em companhia de amigos, deputados e jornalistas dos Diários Associados;
2) Quando gravemente ferido, e quase perdendo a consciência, ainda conseguiu forças para escrever um bilhete aos nossos filhos, pedindo-lhes que não se vingassem, é que tinha a convicção de que violência não se combate com violência…
3) O pedido de licença para processar o agressor foi encaminhado pelo Exmo. Sr. Ministro Relator José Carlos Moreira Alves, ao Senado Federal, em 1999, onde foi engavetado. A impunidade do referido réu foi uma afronta à consciência moral e jurídica dos brasileiros;
4) Infelizmente, o Sr. Ronaldo Cunha Lima, renunciou ao mandato de Deputado Federal para não ser condenado;
5) Na época, o ex- Governador Cunha Lima procurou minimizar o fato, como se o ato premeditado e consciente de tentar matar uma pessoa, com arma de fogo (révolver -38 e bala tipo hollow-point ), de alta periculosidade fosse apenas um gesto esportivo de tiro ao alvo…E foram 03 tiros consecutivos!!!
Que motivos relevantes o conduziram a tamanho desatino? Em sã consciência, podemos assegurar que até hoje desconhecemos. A opinião pública do Brasil e da Paraíba, em particular, também não percebeu as razões. A entrevista concedida por Tarcísio Burity a SBT, no dia do atentado, sequer fez menção a assuntos do governo paraibano. Teve caráter puramente acadêmico: a revisão constitucional que tramitava no Congresso. Nada mais do que isso. Efetivamente, ele atirou na pessoa errada!
Toda a Imprensa da Paraíba conhecia o estilo de Tarcísio Burity de fazer política. Ele criticava governos, criticava princípios. Nunca houve um discurso dele, mesmo em palanque, em que acusou quem quer que seja, de forma a que se identificasse uma acusação pessoal à dignidade de qualquer pessoa.
As críticas dirigidas contra a administração de seu filho Cássio Cunha Lima, ao exercer o cargo de Superintendente da SUDENE, originavam-se nos grandes meios de comunicação e empresariais do país.
Senhor Senador da República, as homenagens ao agressor do meu marido fere gravemente a consciência moral e jurídica do povo brasileiro.
Obrigada pela atenção.
Cordialmente,
Glauce Maria Navarro Burity (viúva) e filhos
João Pessoa, 04 de novembro de 2014