O delegado de Defraudações, Lucas Sá, que investiga o ‘golpe da UTI’ no Hospital de Trauma de João Pessoa, disse, ontem, que ainda não sabia se o dinheiro depositado na conta dos bandidos por duas vítimas foi sacado. Segundo ele, a informação só estará disponível quando sair a quebra do sigilo. “Por enquanto, a conta não pode ser movimentada, mas o bloqueio definitivo destas contas e a quebra do sigilo telefônico só quando for para a Justiça”, afirmou. Ele solicitou ao Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa a lista dos pacientes que estavam na UTI na última segunda-feira (20) e está aguardando para intimar os parentes a prestarem esclarecimentos.
Os golpistas atuaram na última segunda-feira (20), pedindo depósitos em dinheiro para a liberação de exames e procedimentos em pacientes internados na UTI, abordando cerca de 20 familiares, sendo que duas vítimas desembolsaram R$ 1,5 mil. A quebra dos sigilos bancário e telefônico dos criminosos ainda não foi solicitada judicialmente. O prazo para conclusão do inquérito é de 30 dias. A pena para o crime de estelionato varia de um a cinco anos de reclusão.
O bloqueio, conforme o delegado, é uma medida administrativa que o banco pode fornecer, mas é provisória porque só tem fundamento quando é judicial. Neste caso, o juiz determina não só o bloqueio como a quebra do sigilo. “Tem duas contas que tiveram depósitos e foram bloqueadas, segundo a assessoria jurídica da Caixa. Caso o dinheiro tenha sido sacado, os titulares das contas serão obrigados a ressarcir”, informou o delegado.
“Quando tivermos as informações necessárias, vou representar pela quebra dos sigilos bancário e telefônico e pedir, judicialmente, o bloqueio das contas. A partir daí, vamos identificar se a conta está sendo movimentada de outro Estado, que é o que normalmente ocorre”, acrescentou. Segundo ele, esta é uma fraude comum, que já foi praticada em outros Estados.
“Ligam de vários números”
O diretor técnico do Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa, Edvan Benevides, relatou que cerca de 20 pessoas foram abordadas, quatro tentaram fazer o depósito e duas conseguiram. “Assim que soubemos, acionamos a Secretaria de Segurança, que tomou providências através dos delegados de Defraudações e Gerência Executiva de Polícia Civil. Nós demos assistência familiar e estamos fazendo ampla divulgação para que não haja novas vítimas”. Segundo ele, não houve novas tentativas.
As ligações aconteceram na segunda-feira a partir das 11h e o hospital tomou conhecimento por volta das 12h30. “Foram todas quase ao mesmo tempo. Eles ligam de vários números. Assim que ficamos sabendo, passamos a orientar familiares e pacientes a não fazerem depósito, porque todo o tratamento é custeado pelo SUS”. A orientação é que em qualquer tentativa de extorsão, os familiares procurem a direção do hospital ou a delegacia.
Golpe aplicado de presídios
O golpe funciona da seguinte forma: para cada vítima, o golpista fornece uma conta diferente e liga de um número diferente. Dentro de poucos minutos, eles ligam para várias pessoas. Em pouco tempo também o golpe é descoberto. O objetivo deles é entrar em contato rápido e pedir o dinheiro com a maior urgência possível.
A vítima, conforme o delegado Lucas Sá, sempre está vulnerável, e o golpe é aplicado no sistema prisional, na área de saúde. Em outros Estados, segundo ele, os criminosos ligaram para quem tem parente cumprindo prisão provisória, pediram uma quantia possível de ser conseguida em pouco tempo, informando que soltariam as vítimas. No caso do hospital, alegaram que havia um exame urgente a ser feito.
“Nosso objetivo é identificar estas pessoas que serão indiciadas por estelionato. É um golpe que se repete e os estelionatários são especializados nisso. Eles só mudam o modo. A mesma pessoa que faz o golpe do exame faz o golpe do carro quebrado, do seguro. Neste caso, que ganhou repercussão, as vítimas estão colaborando. Mas, normalmente as pessoas se sentem envergonhadas e não denunciam”, observou.
Lucas Sá disse que só a investigação poderá dizer se o grupo tem ramificações na Paraíba, mas adiantou que, com base em outros golpes, eles atuam em vários Estados e, para isso, não é necessário estarem presentes. “Vamos verificar”, prometeu.
O delegado não acredita que haja envolvimento de funcionários. “Até pela maneira como o golpe é aplicado. Eles dão um jeito de conseguir as informações, os contatos, fraudam documento público se passando por autoridade para pedir estas informações. Digo com base em outras fraudes. Às vezes, por telefone, eles já têm informações detalhadas de autoridades públicas. Então, usam isso para se passar por alguém e pedir informações. Eles se especializam no cometimento dessas fraudes e fica difícil não cair numa fraude dessa”, disse.
Correio da Paraíba