Agropecuária indefesa - Rubens Nóbrega

Executando óbvia estratégia de tentar convencer o distinto público de que pegou um Estado quebrado e desmantelado, o atual governo paralisou, descontinuou ou precarizou tantos serviços essenciais que agora, sete meses depois da posse, dá mostras de que não sabe como botar pra funcionar.

Na saúde, na educação, na segurança pública, no sistema penitenciário, na defesa civil… Onde bater, feito bola, rola. Que o diga a Defesa Agropecuária do Estado, que se encontraria acéfala desde a semana passada por absoluta falta de apoio, condições de trabalho e, sobretudo, prioridade para o setor.

Segundo me contou ontem um experiente técnico da área, o grande problema é o governo que não dá a menor para o serviço nem oferece condições de trabalho dignas tanto para quem chefia o setor como para os fiscais agropecuários do Estado. Com isso, entre outras conseqüências presumíveis, expõe a Paraíba a um novo rebaixamento na classificação de risco da febre aftosa.

Impressiona como o nosso girassolaico governo tá nem aí. Pra vocês terem uma idéia, até mesmo uma prosaica Guia de Trânsito de Animais (GTA) é quase impossível de se obter, porque os responsáveis pela expedição do documento perderam uma gratificação de 200 reais que todo governo sempre pagou e o Doutor Ricardo cortou.

Como se fosse pouco, a maioria dos fiscais, formada por veterinários e zootecnistas, vive sob permanente insatisfação por receber bem menos que a minoria de agrônomos do Estado. Há isonomia de trabalho; de salário, nem pensar!

Nada que um bom plano de cargos, carreiras e salário não resolva, equiparando todo o pessoal do setor, o que seria da mais lídima justiça, como dizem os advogados. Mas aí a questão volta ao ponto de partida e estaciona diante da mesma, enorme e quase intransponível dificuldade: a ausência absoluta de interesse do governo pelo setor, que daria pouco ou quase nenhum retorno político-eleitoral a quem governa.

Primeiro, porque somos um Estado pobre de base agropecuária pobre. O setor primário mal chega a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) da Paraíba. Segundo, nenhum empresário do ramo, aqui no Estado, tem milho suficiente na mochila para sequer montar um parque de exposições. Shopping center, então, nem pensar!

O custeio real do HT

Um amigo da área de saúde já havia me dito, mas foi o deputado Manoel Júnior (PMDB) quem confirmou, pública e competentemente: não procede – para dizer o mínimo – a informação do governador Ricardo Coutinho de que a terceirização do Hospital de Trauma da Capital implicará economia de cerca de R$ 4 milhões por mês e, ao mesmo tempo, substancial aumento de atendimentos e cirurgias.

Exibindo documento com o brasão oficial do Estado, Doutor Manoel provou, com base no que foi gasto em 2010, que na média mensal o custeio do HT gira em torno dos R$ 4,5 milhões, jamais dos R$ 10 milhões apregoados, trombeteados e propagandeados por Doutor Ricardo. A informação do parlamentar eu peguei em entrevista que ele concedeu ao portal ClickPB, de João Pessoa.
Sobre esse modo de proceder, do qual se extrai objetivo muito claro de tentar justificar a contratação da suposta Cruz Vermelha para gerenciar o HT, encaminhei anteontem ao governador do Estado e ao seu secretário de Comunicação Social, o jornalista Nonato Bandeira, o seguinte pedido de informações e esclarecimentos:

– Senhor Governador, o deputado Manoel Júnior mostrou, com documento timbrado do Governo do Estado, que o custeio do Hospital de Trauma de João Pessoa não chega a R$ 5 milhões por mês, na média. O que Vossa Excelência tem a dizer sobre essa informação do deputado, considerando que para justificar a terceirização o senhor vem dizendo que o custeio do HT é de R$ 10 milhões, que vai economizar R$ 4 milhões com esse contrato com a ‘Cruz Vermelha’, que vai melhorar o desempenho e ainda aumentar o número de atendimentos e procedimentos?

Evidente que nenhuma resposta me foi enviada até agora. De qualquer forma e sorte, aguardo. Se chegar, quando chegar, publicarei qualquer explicação oficial, seja do governador, de algum secretário ou diretor do Trauma. Mesmo sabendo que a informação do deputado Manoel Júnior é indesmentível.

Desperdício de alimentos

Atentem para a valiosa contribuição do jornalista e professor Arael Costa que transcrevo adiante. Dá o que pensar e falar, além de exigir atitude do poder público. A idéia é da melhor cidadania e oportunidade. Que os governantes aproveitem, em benefício dos governados, em especial daqueles ‘que mais precisam’.

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Caro amigo, vendo, na manhã de hoje, em um dos muitos noticiários que as televisões nos disponibilizam, matéria sobre os alimentos fora do seu prazo de validade e sua consequente destruição, lembrei-me do quanto esses alimentos poderiam contribuir para minorar a fome de muitos, se fossem postos em prática alguns procedimentos, muitos dos quais dependendo apenas de vontades políticas verdadeiras.

Sabe-se que há alguns anos uma dama da sociedade baiana, tocada pelo exemplo de solidariedade da Irmã Dulce, criou uma instituição não governamental chamada Banco de Alimentos, cujo objetivo era e é colher do mercado de alimentos soteropolitano produtos já próximos do vencimento de seu prazo de validade para distribuí-los com instituições assistenciais e comunidades da área metropolitana de Salvador, mitigando, assim, a fome de muitos.

Essa idéia, simples e de forte cunho social, foi, infelizmente, copiada por muitos integrantes da comunidade política deste nosso sofrido e explorado Brasil e, como não podia deixar de ser, transformada em instrumento político, como se sabe ter ocorrido nesta Filipéia de N. Sra. das Neves, onde a Prefeitura da Capital criou tal instituição, que, para fazer jus a suas origens locais, foi logo envolvida no processo político, como já vimos há algum tempo atrás.

Hoje não se sabe como ela está, mas provavelmente pode aparecer nos noticiários oficiais como uma grande obra, embora se imagine que sua produtividade efetiva deva ser baixa, pois vive exclusivamente do erário público, vez que seu viés político não lhe dá aceitação e confiabilidade do mercado – natural fornecedor, nas condições a que já me referi (prazo de validade vincendo) e cunho político.

Por isto pensei ou, digamos, sonhei que instituições de alta confiabilidade como comunidades religiosas, sem distinção de denominações e segmentos paralelos (AEMP, por exemplo) da própria estrutura estatal poderiam se reunir e criar uma instituição não governamental que assumisse essa missão, quem sabe, até, conseguindo do poder público as isenções pertinentes que tornariam possível e atrativo ao mercado fazer doação, a essa entidade, de produtos com prazos de validade vincendos ou defeitos de embalagens que os fazem pouco atrativos nas prateleiras e balcões.