O doleiro Alberto Youssef pagou as passagens de assessores dos senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Cícero Lucena (PSDB-PB) de Brasília a São Paulo. O Estado teve acesso ao recibo da compra dos bilhetes aéreos, ida e volta, da companhia TAM, no valor de R$ 3.364,96. É o primeiro documento que liga diretamente o gabinete de parlamentares ao doleiro.
Os assessores Mauro Conde Soares, que trabalha com Ciro Nogueira desde o início de seu mandato, e Luiz Paulo Gonçalves de Oliveira, que assessora Lucena há oito anos, saíram de Brasília no dia 4 de janeiro de 2012, desembarcaram em Congonhas e retornaram a Brasília na mesma data. O boleto foi faturado pela Arbor Contábil, empresa da contadora do doleiro, Meire Poza.
Os dois deixaram cartões de visita com o timbre do Senado e contatos dos senadores com pessoas da confiança de Youssef. Ambos assessoram os senadores na área de Orçamento. Ou seja, acompanham a destinação e a liberação de recursos destinados pelos parlamentares a obras e projetos.
Após ser procurado pelo Estado, Ciro Nogueira convocou o funcionário para uma conversa e permitiu que o jornal a acompanhasse pelo viva-voz. Mauro Soares admitiu que viajou para São Paulo com as despesas pagas pelo grupo de Youssef, mas afirmou que o fez sem o conhecimento do senador. “Estou chocado com essa história”, disse Ciro Nogueira.
Antes da conversa com o senador, ele afirmou que “não se lembrava” da viagem. Ao final da conversa, o senador disse que iria demitir o assessor.
Já o senador Cícero Lucena e seu assessor não foram localizados pela reportagem. A assessoria de Lucena informou que ele estava retornando de viagem oficial para Cuba. O assessor não atendeu às ligações.
Fundo de pensão. “Eu viajei e não conversei com o senador sobre isso. Assumo meu erro. Eles tinham interesse no fundo de pensão do Tocantins. Eu tinha trabalhado para um senador de lá antes do gabinete do Ciro”, afirmou o assessor.
Para os investigadores, a movimentação tem outra explicação. Os dois assessores foram à capital paulista supostamente tratar de um fundo de investimentos criado por Youssef. Segundo as investigações, havia um acordo com políticos que receberiam 10% de comissão se conseguissem que fundos de pensão de prefeituras e Estados colocassem dinheiro num fundo de investimentos da empresa Marsans Brasil, em nome do doleiro. O nome do senador Ciro Nogueira foi citado na revista Veja do fim de semana como um dos políticos que se beneficiaram de um esquema de corrupção na Petrobrás.
O Estado revelou que empresas pagavam 3% de propina a políticos em troca de contratos com a empresa na área de Paulo Roberto Costa, que chefiava o esquema com Alberto Youssef. Lucena recebeu R$ 25 mil de doação na última eleição de uma empresa de Youssef.
Estadão