Como se vê, em vez dos 600 propagandeados, o acréscimo nos últimos três anos e meio foi de 105 novos leitos na rede hospitalar do Estado

Leitos: números também não batem

Por Rubens Nóbrega

Do Jornal da Paraíba

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Segundo estudo que me foi repassado pelo Professor Francisco Barreto, estudo esse elaborado por experiente gestor(a) de saúde pública, a informação do governo sobre expansão de leitos nos hospitais do Estado não resiste a uma simples checagem no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus). E o que não está no CNES/Datasus, nessa matéria, é porque não existe.
Leia com atenção, por favor, o quadro a seguir. Traz o número de leitos existentes em dezembro de cada ano no Estado (com exceção de 2014, cujos dados são de junho) por esfera de atuação. A fonte, indesmentível, claro, é o CNES/Datasus (http://cnes.datasus.gov.br).

 

‘Mortos que o digam’

Como se vê, em vez dos 600 propagandeados, o acréscimo nos últimos três anos e meio foi de 105 novos leitos na rede hospitalar do Estado. “E ressalte-se que este número não se traduz em aumento da qualidade do atendimento, como os mortos por macas retidas podem atestar”, destaca o(a) autor(a) da análise sobre a questão, com um adendo ainda mais preocupante, objeto das considerações a seguir.

 

Mortalidade materna

Além das vítimas da insuficiência de macas e da evidente incompetência de gestão para resolver um problema dessa natureza, a situação crítica a que chegaram os serviços públicos de saúde a cargo do Governo do Estado pode ser atestada também pelos parentes de mães pobres de recém-nascidos na Paraíba que morreram no parto ou até 42 dias após dar à luz. Veja porque nos comentários e informações da fonte que abastece a coluna e seus leitores. A partir deste ponto.
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Uma das metas dos Objetivos do Milênio/PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) é reduzir a pelo menos 35, no máximo, o número de mortes de mulheres durante a gestação ou 42 dias após o parto. Tudo isso mensurado por cada grupo de 100 mil habitantes. Nos últimos anos, assim como para as estatísticas de violência (que nos colocam em evidência de forma negativa em jornais como o Globo, ver edição de 10 de agosto de 2014), houve um brutal recrudescimento de mortes de mães paraibanas quando do nascimento de seus filhos.
Números da Tabnet/SES (Secretaria Estadual de Saúde), mostram que no período 2003 a 2008 o número de mortes de mães paraibanas por cada grupo de 100 mil habitantes ficou em 36,48, bem próximo do número alvo do PNUD. Segundo dados da mesma SES, esse número nos últimos anos saltou quase 70%, atingindo a média de 62,13 nos últimos três anos, sendo que em 2013 chegou a 78,2 mortes por cada 100 mil habitantes, ou seja, o dobro da meta estabelecida pelo PNUD.
Outro dado talvez explique estes números. Entre 2008 e 2014, a Paraíba perdeu 305 leitos obstétricos e pediátricos, destarte o número de leitos realmente criados na rede estadual. Pode ser. Quem sabe? O fato é que mães estão morrendo e medidas são requeridas para o enfrentamento desta situação. Entre essas medidas seguramente não está a propaganda que diz o que não é, o que não existe.

 

Calado como resposta

Mais uma vez, apesar de procurado com bastante antecedência (desde o último dia 14), através de i-meio, o Governo do Estado não prestou esclarecimentos sobre leitos e mortalidade materna. Enviei mensagem com o pedido diretamente para o governador. Ato contínuo, postei no Twitter comunicado dirigido a @realrcoutinho sobre a remessa. Aguardei até oito da noite de ontem. Nada recebi. Mas o que vier posteriormente, se vier, será publicado nos conformes.
Sobre Agevisa também

Aproveito para lembrar ao Governo do Estado que no mesmo pedido de esclarecimentos e/ou posicionamento sobre leitos e mortalidade materna enviei também questionamentos sobre a situação em que se encontram a Agevisa e seus servidores. Fico no aguardo de resposta até o final da tarde de hoje. O assunto será tratado na coluna de amanhã.