A morte e a morte de Eduardo Campos e o circo da mídia sobre seu caixão

POR Eliabe Castor

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O Brasil é um país, definitivamente, carente de grandes homens públicos e, quando esses aparecem, surgem no cenário social e no imaginário coletivo como heróis, deuses, quase lendas e, aqueles que morrem de forma abrupta, eternizam-se como mártires de uma nação que depende, muito em parte, de mitos. Uma nação de banguelas!

Resguardando as características de cada um deles, e sem contestar seus valores e defeitos, aponto Ayrton Senna, na seara do esporte. Na esfera da política, João Pessoa foi um deles, ao ser baleado fatalmente por João Dantas na Confeitaria Glória, no Recife, em dia 26 de julho de 1930.

Outros existiram, como podemos observar. Em  24 de agosto de 1954 Getúlio Vargas, horas antes do seu suicídio, escrevera uma carta para nação e, em trecho comovente para época, e que ficou eternizado, diz:”… Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”. O clamor do povo também se mostrou nas ruas com Juscelino Kubistchek, que morreu em decorrência de um acidente automobilístico.

Em 1984, Tancredo aceitou o desafio de se candidatar à Presidência da República, com o apoio de Ulysses Guimarães. Em 15 de janeiro de 1985 foi eleito presidente do Brasil pelo voto indireto de um colégio eleitoral, mas adoeceu gravemente, em 14 de março do mesmo ano, véspera da posse. Morreu oficialmente de diverticulite.

Criança, chorei e quase enchi o meu quarto de lágrimas. Não sabia, efetivamente, o motivo do meu pranto, mas havia uma forte dor de perda. Mais tarde descobriria que, entre tantas vertentes para a minha crise e a própria comoção nacional, existia o fator midiático por trás de tudo.

A imprensa, ávida por “faturar” unidades monetárias, sempre explorou, e bem, esses momentos de dor. O último espetáculo que se vê é a morte e a morte de Eduardo Campos. Tal qual o célebre romance do bom baiano Jorge Amado em “A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água”, o pernambucano e ex-candidato à presidência da República, que  morreu em acidente aéreo, pela primeira vez, continuou a morrer até ser sepultado. O que não se percebe é o circo de horrores que fora instalado desde o momento que a aeronave que o trazia chocou-se no solo até o momento do sepultar.

De repente aquele homem que tinha 10% das intenções de votos e pouca penetração nos principais colégios eleitorais do país tornou-se uma espécie de líder. Um Sassá Mutema (Lima Duarte), da telenovela “O Salvador da Pátria”. Presenciei, a contragosto, um socorrista falar que viu os olhos azuis de Eduardo Campos no local do acidente e que iria votar nele. Isso tudo em rede nacional ao vivo.

Depois veio a superexposição da sua pessoa e família. Detalhes sobre o seu corpo carbonizado e esfacelado circularam nas redes sociais; apresentadores narravam como poderiam ter sido seus últimos momentos e, para o “grand finale”, seu velório e sepultamento com direito a cobertura similar a astros do rock que visitam o Brasil.

Ridícula a narração da mídia como um todo. Frases do tipo: “A viúva chora à beira do caixão”, “…seu filho mais novo está muito emocionado”, “…grande comoção durante o percurso que leva os restos mortais de Campos”. O que se esperar em momento de dor? Festa? Sejamos francos: nestes momentos o que vale é a imagem vendida para o povo, povo carente de homens públicos. De mulheres probas, enfim, seres humanos dotados de qualidades para administrar uma nação com o mínimo de ética.

Nessa “arte do grotesco”, quando a morte vira um grande negócio, dói saber que a mídia, de forma geral, dá uma dimensão além do que é realmente fato e notícia. Claro que o “evento” deveria ser registrado, mas colocá-lo como espetáculo é um tanto absurdo. Para terminar, digo, com toda a certeza, que nenhum desses homens relatados no texto iria “salvar” o Brasil.

Claro que importantes contribuições dariam, mas, parafraseando Ernesto Geisel, o país virá a ter políticas públicas voltadas ao povo de forma real “lenta, gradual e segura”. Não existe mágica ou Sassá Mutema para transforma o país em lugar justo. O “Salvador da Pátria” é pura ficção. Conversa de folhetim.

De resto, muita demagogia. Inimigos políticos chorando, abraçando-se e trocando delicados beijos, prefeitos, candidatos a governador, presidenciáveis e toda a sorte de políticos buscando um lugar ao sol. Ou melhor: uma boa pose e ângulo certeiro ao lado do Caixão de Eduardo Campos. Que descanse em paz ao lado de Arraes!!!!