Alguém que carregava no coração o desejo de transformar a vida de seu povo

Nordeste ao chão

POR LAERTE CERQUEIRA

A notícia trouxe atonia e perplexidade. Muitos foram “ao chão” junto com a aeronave. Os laços eram, apenas, de esperança, de admiração e de expectativa, mas, mesmo assim, a tristeza se lançou em muitos brasileiros e nordestinos. A tragédia que matou o presidenciável socialista, Eduardo Campos, chocou e nos fez refletir sobre o potencial do imprevisível sobre nós. Do “destino” ardiloso e, ontem, dolorosamente, surpreendente. O avião em pedaços irreconhecíveis assustou mais do que o normal, porque dentro dele havia alguém em plena atividade, jovem, promissor que, nos últimos dias, estava, diariamente, expondo suas ideias e seus objetivos para o país. Era alguém “vivo” para a sociedade brasileira, para a mídia e para opinião pública. Símbolo de uma terceira via, de esperança.

Alguém que carregava no coração o desejo de transformar a vida de seu povo e, horas antes, havia escancarado essa vontade para milhões de pessoas.
Não há motivos para, agora, tornar Eduardo Campos um mito. Mas há muitos motivos para reconhecer a sua importância para o momento político que vive o Brasil. Reconhecer que é uma perda enorme e que o povo nordestino leva uma queda. Há motivos para dizer que o Nordeste voltou à estaca zero; para lamentar muito o fim da maior liderança política que nós tínhamos na atualidade. E não era qualquer liderança. Campos era a representação viva do Nordeste atual, sua mais fiel formatação: contraditório, conservador, moderno, ousado, resistente, petulante. Tinha um pouco de tudo isso. Era manchado pela velha política dos Arraes, seio de sua formação, e tinha o ranço e as marcas da oligarquia, mas, ao mesmo tempo, um estimulante e pulsante desejo deixar pra trás as práticas do atraso, dos privilégios e todas as mazelas que ainda nos faz pobres e com os piores índices de desenvolvimento humano do país.
Era um candidato à presidência que falava dos problemas do Nordeste e da Paraíba com propriedade. Lembro que na entrevista que fiz com ele, no dia 12 de dezembro do ano passado, quando veio receber o título de cidadão pessoense, o pernambucano mostrou total conhecimento sobre os nossas dificuldades. Registrou a importância de investir maciçamente no porto de Cabedelo; da necessidade de incluir a Paraíba no projeto de recuperação e expansão da ferrovia Transnordestina. Destacou que o nosso estado é, geograficamente, estratégico para região e tinha que ser olhado de maneira especial. Também ressaltou a importância de investir mais nas pesquisas em Campina Grande, polo de desenvolvimento tecnológico. Eduardo não veio com discurso pronto.
A região perdeu um líder. Independentemente de posições político-partidárias é justo registrar que vai fazer falta no debate sobre a modernização e eficiência da gestão pública. Mesmo que não fosse eleito, seria uma voz firme, autorizada e respeitada em defesa dos nordestinos. O Brasil perde um político acima da média. A política brasileira fica ainda mais pobre.

 

Título
O título de cidadão pessoense entregue a Eduardo Campos, em dezembro do ano passado, foi uma propositura do vereador Renato Martins (PSB).

Justificativa
Na justificativa, Renato afirmou que Eduardo foi responsável por viabilizar a construção da Estação Cabo Branco, na capital, quando foi Ministro da Ciência e Tecnologia.

Patrimônio
Quando deputado federal, Campos foi autor da lei que garantiu recursos para cidades que têm patrimônio histórico, artístico e cultural tombado, como João Pessoa.

Última visita
Campos esteve na Paraíba sábado passado. Em JP, foi ao condomínio de idosos, Cidade Madura, e disse que, eleito, criaria políticas públicas de saúde e moradia para a terceira idade.
Eduardo em Patos

Em Patos, Campos prometeu: “Nós assumimos no nosso programa de governo o compromisso de ter mais 2% do imposto de renda e do IPI para o fundo de participação dos municípios, para ajudar as pequenas cidades brasileiras a ter serviços públicos melhores, na saúde, na educação”. Declaração veiculada no sábado, no Jornal Nacional.

 

Manifestações
Vários políticos e autoridades externaram a tristeza pela morte de Campos. O presidente do TRE-PB, Saulo Benevides, registrou: “é uma perda para o processo democrático”.

Brilhante
Os candidatos ao governo da PB divulgaram nota de pesar. “Perdi um grande amigo, mas sobretudo perdemos um dos mais brilhantes políticos”, registrou Cássio C. Lima.

 

Transformador
Ricardo Coutinho, um dos mais fervorosos defensores do amigo, falou emocionado: “cumpriu sua rápida passagem pela terra de uma forma bastante digna, ousada e transformadora”.

 

Respeito
Tárcio Teixeira também se manifestou: “Nossas diferenças políticas não anulam nossa humanidade e o respeito aos sentimentos envolvidos em um momento tão difícil”.

 

Geração
Vital do Rêgo registrou que o trágico acidente “ceifou precocemente a vida de um dos políticos mais brilhantes da nossa geração”.