Eduardo foi ao encontro de Maximiano e Arraes

Por  José Adalberto Ribeiro (jornalista)

Eduardo Campos

“Vou fazer a louvação/ louvação, louvação/ do que deve ser louvado/, ser louvado, ser louvado./ Meu povo, preste atenção/ atenção/ atenção, atenção//

E louvo pra começar/ da vida o que é bem maior/ louvo a esperança da gente/ na vida pra ser melhor/ quem espera sempre alcança/ três vezes salve a esperança!/

Louvo quem espera sabendo/ que pra melhor esperar/ procede bem que não para/ de sempre mais trabalhar/ que só espera sentado, quem se acha conformado”

Meu último artigo publicado neste Blog do Magno falava sobre a “Dudulândia”, minha metáfora para retratar o universo político de Eduardo Campos. A louvação agora é merecida e irrecusável, ao aproveitar o mote da canção de Gilberto Gil e Torquato Neto.

A imagem do líder está muito viva na imaginação de todos nós. Louvando quem bem merece, minha definição sintética é a seguinte: Eduardo foi um ponto fora da curva na política de Pernambuco e do Brasil. Um ponto fora da curva não se enquadra nas coordenadas convencionais, cartesianas, tradicionais. A “Dudulândia” era movida pela energia da obstinação e da esperança.

Repito a expressão “animal político” na dimensão essencial do filósofo Aristóteles. Ele veio das origens avoengas de Miguel Arraes, o animal político de dimensão nacional que se tornou referência de fidelidade às causas populares e foi além dos rótulos da esquerda.

Nesse capítulo das ideologias importam menos os rótulos que os compromissos com as causas da nacionalidade, da democracia, da cidadania, do humanismo e da solidariedade humana.

Lembro de uma paisagem humana que bem retrata a sensibilidade social de Eduardo Campos. Transcorria um evento em Palácio sobre programa de governo. Ao falar sobre questões sociais e violência, lá para as tantas Eduardo referiu-se a um noticia de que um bandido havia invadido um barraco ou casebre, atirado e matado uma senhora diante da filha criança.

Ele perguntou naquela hora que sociedade é esta em que vivemos, que pensamento satânico dominava um ser humano para cometer a crueldade de assassinar uma mãe diante da filha. Era o mundo cão das drogas que desumaniza a sociedade.

Era preciso ter natureza, para usar uma expressão característica dele, para enfrentar e querer mudar esta sociedade desumana. Ele lutou nos limites do seu domínio.

Uma vez, num dia de cumprimentos de aniversário, eu disse para ele em Palácio” Você é ninja” Ele respondeu: “Que nada, eu sou um lutador”. Lutava feito um ninja.

Dia desses Magno Martins, a quem me refiro em tom  de admiração e amizade como Mister MM, me contou um episódio sobre a “natureza” de Eduardo, sua disposição para trabalhar. Havia um compromisso político em Garanhuns e ele viajou para lá de avião, à noitinha. Mas, não tinha teto para pousar.

Ele então voltou para Recife e foi de carro para Garanhuns, chegando depois da hora, mas a tempo de honrar o compromisso. Pode parecer banal, mas poucos políticos se dispõem a enfrentar esses contratempos, principalmente fora de campanha eleitoral.

Conheci o ninja Eduardo na década de 1980, ele jovem deputado estadual e eu no batente do jornalismo político. Naquele tempo me referia a ele com a expressão “aqueles olhos verdes” assim como Arraes era o “mito”, o homem dos pigarro”.

Depois eu próprio disse a ele que ficava encabulado em usar aquela expressão “olhos verdes”, para não parecer pieguismo. Até que a expressão ficou popularizada.

Eduardo vem das tradições avoengas de Miguel Arraes e também vem das tradições paternas de Maximiano Campos, a quem também conheci através de Artur Lima Cavalcanti e com quem privei alguns breve momentos de convivência.

No seu livro de contos “As feras mortas”, da Editora Bagaço, 1964, que me foi presenteado com dedicatória por Maximiamo, está escrita a introdução “O Filho” a Eduardo e Antonio Campos”. É comovente relembrar nesta hora:

“Que seja assim: alegre sem desconhecer a tristeza, capaz de uma ilusão. Forte sem apedrejar derrotas, rebelde sem destruir a mansidão. Servo apenas do ideal e sonho, e rei da sua vontade. Amando as pessoas sem deixar que nenhum medo o faça desconhecer a liberdade”.

Eduardo foi ao encontro eterno com Maximiano e Miguel Arraes.