Habilidade e sutileza

Por Rubens Nóbrega

Vital Filho mostrou ontem mais uma vez porque é de longe o parlamentar de maior prestígio da bancada federal paraibana. Dentro e fora do Congresso. Presidente de duas CPIs da Petrobrás (uma misturada com deputados e outra só de senadores), requisitou os serviços da Polícia Federal para apurar se procede, conforme denunciou a Veja, se atuais e ex-diretores da empresa teriam recebido por antecipação perguntas que lhes seriam ou foram feitas perante a Comissão do Senado. A providência é mais habilidade e inteligência do que propriamente necessidade.

Habilidade e inteligência para conter no limite do suportável o habitual escarcéu da oposição em torno de qualquer investida de publicações tipo Veja contra o Governo Dilma, Lula e petistas em geral. Esses três, não necessariamente nessa ordem, são odiados de paixão por grupos empresariais feito o Abril dos Civita, que edita a revista denunciante. De qualquer modo, acionar a PF é garantia de apuração republicana, mesmo sob o risco de a instituição gastar pessoal, tempo e dinheiro do contribuinte na busca do óbvio.
O óbvio é aquilo que o venerado colunista Jânio de Freitas, da Folha de S. Paulo, chama acertadamente de ‘escândalo da banalidade’, ou seja, a combinação mais do que previsível e presumível entre inquiridores aliados do governo e depoentes que exercem cargos de confiança do mesmo governo. “Perguntas de aliados do depoente, em CPI, jamais, em tempo algum e em qualquer país, fugiram a este princípio: destinam-se a ajudar o depoente”, escreveu JF ontem (em ‘O banal faz escândalo’, na FSP), acrescentando que nem teria sentido se fosse o contrário, entre aliados. Com isso, lembra-me que em toda inquirição do gênero, neste ou em qualquer outro planeta habitado por seres inteligentes, é natural depoimentos em tais circunstâncias serem previamente orientados, tal e qual fazem advogados com seus clien
tes.
E se alguém aí achar a combinação é estapafúrdia, de minha parte lembro a existência de um direito assegurado em nossa Constituição de que ninguém pode ser compelido a produzir provas contra si mesmo. No mais, para acreditar na Veja este colunista precisaria acreditar também que executivos de gabarito internacional feito Graça Foster e Sérgio Gabrielli precisariam de gabarito para responder a perguntas tipo levanta-bola de senadores governistas. Ou mesmo perguntas de senadores da oposição que, bem diz Jânio de Freitas, dependem de ‘reportagens’ denunciativas da grande imprensa rançosamente antipetista para dar sentido ao papel que julgam representar.

Dois recados

Outra faceta que admiro nas pessoas muito inteligentes é a sutileza. Daí admito uma variante nas intenções que cercariam esse caso. Vejamos… Vai que o senador Vital Filho aproveita a ocasião para passar dois recados bem sutis
ao governo do PT. Primeiro, de que não engoliu as supostas brechas que a direção nacional do partido de Lula, Dilma e Rui Falcão teria deixado de propósito nos procedimentos e documentos com os quais tentou amarrar o apoio do PT da Paraíba à candidatura do senador do PMDB ao Governo do Estado. Graças a esses buracos e vacilos, uma maioria apertadíssima do TRE encontrou anteontem elementos e argumentos para manter a coligação entre os petistas liderados pelo Prefeito Luciano Cartaxo, de João Pessoa, e os socialistas comandados pelo governador Ricardo Coutinho. É bem possível que tal decisão venha a ser reformada em instância superior, no TSE, mas até lá dá trabalho e ajuda a desidratar o projeto peemedebista.
Assim, aparentemente por não ter engolido a possível combinação do PT nacional com o estadual, Vital adiantou-se em botar a Polícia Federal na história das perguntas combinadas perante a CPI da Petrobrás que rola no Senado. Porque a PF, até onde sei, acompanho e acredito, não faz graça, não faz média nem jogo de governo. Quanto ao segundo recado, arrisco o seguinte: o gesto do senador manda dizer a Dilma, Lula e Rui Falcão que o homem adora ser prestigiado e respeitado, mas neste momento quer muito e precisa mais ainda ser temido. Afinal, já ensinava Pai Milão, meu avô paterno: a julgar pelos costumes e práticas vigentes no Brasil em geral e na Paraíba em particular, em política “o homem vale pelo mal que faz ou pode fazer”.