ENTRE O RIO E O MAR

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DO PROF. DIMAS LUCENA

(429 anos de João Pessoa)

Nos idos de 1574 o cacique Potiguara Iniguaçu teve a sua filha seqüestrada pelo proprietário do Engenho Tracunhaém, localizado na Capitania de Itamaracá. O senhor de engenho a desejava e a tomou pela força, arrebatando-a da tribo. A resposta dos índios, historiadores indicam que aliados dos franceses que ambicionavam o nordeste e cá faziam incursões, foi um ataque ao Engenho e a destruição de todos.

Esse episódio entrou para a História como a “Chacina de Tracunhaém”. Essa reação e aliança poderia se alastrar e ameaçar o domínio de Portugal no território. A partir desse fato veio a reação da Coroa Portuguesa. Aliaram-se aos Tabajaras a após diversas expedições de guerra derrotaram os Potiguaras e a ameaça francesa. Mas era preciso ampliar a presença para garantir a posse territorial.

Assim, no dia 05 de Agosto do ano de 1585, a margem do Rio Sanhauá foi fundada a Cidade Real de Nossa Senhora das Neves. Nasceu sob a égide da beleza de águas poéticas. Nasceu sobre o pranto de índios explorados e massacrados. Nasceu sob a ambição sanguinária que aniquila corpos e almas. Nasceu sobre um por do sol que parte todo dia dando lições de beleza e harmonia.

A partir de 1930 quando ocorreu o assassinato de João Pessoa, então Presidente do Estado, fato que foi o “estopim” da Revolução de 30, em meio à comoção, ao sangue derramado e a força do contexto passou a ser denominada com o nome do seu líder.

A cidade que nasceu no rio muito depois andou para o mar. No seu desenvolvimento João Pessoa abraçou paraibanos do Brejo, do Cariri, do Curimataú, do Sertão que aqui vieram viver e plantar suas esperanças. Vieram contribuir com a diversidade cultural, com a força do trabalho e dos sonhos. Seria uma Paulicéia Desvairada de Mário de Andrade estadualizada.

Mas a cidade no seu aniversário (429 anos) não é só para ser comemorada, isso é alienação. É para ser pensada e lamentada também. Há miséria, analfabetismo (índice de 8,4% alto para uma capital), violência, desemprego, subemprego, problemas graves na mobilidade urbana, no meio ambiente, no transporte público, na moradia. Enfim, precisa de Planejamento, continuar avançando nas Políticas Públicas para ampliar os horizontes do futuro. É preciso enxugar lágrimas e ampliar sorrisos.

Nossa cidade é a “Porta do Sol”. É o ponto mais oriental das Américas. É o lugar “onde o Sol nasce primeiro”, onde começa a contemplar o mundo. Isso aconteceu – segundo as oniscientes musas celestes – porque o mar sentiu inveja do rio e, então, fez o sol aparecer vindo de suas águas, antes de qualquer lugar nascer em João Pessoa. Iluminando esse Jardim Encantado que Deus criou quando estava apaixonado.

Dimas Lucena