Candidatos reclamam que não há mais pudor em pedir R$ 50 mil, 80 mil, 100 mil por apoio

Pagamento antecipado

Por Laerte Cerqueira

Do jornal da paraíba

campanha

No muro das lamentações dos candidatos a deputado na Paraíba, um dos desabafos recorrentes é o da dificuldade de conseguir um apoio de graça: por amor a causa, pela fé política, amizade e crença na capacidade de representação. Os tempos são outros. A luta por uma vaga a deputado estadual ou federal está cada vez mais cara e não é apenas porque é preciso confeccionar camisas, bandeiras, adesivos ou contratar uma assessoria. As lideranças das cidades, vereadores, ex-prefeitos, representantes de grupos organizados já não avalizam um nome apenas por uma promessa de emprego, indicação na empresa do amigo ou pequenos benefícios familiares.


Candidatos reclamam que não há mais pudor em pedir R$ 50 mil, 80 mil, 100 mil por apoio. A contagem é mais ou menos assim, segundo alguns relatos: cada mil votos prometidos na cidade, região da liderança são pagos cerca de R$ 100 mil. Média de 100 reais por voto. E não tem essa de cheque pré-datado e nota promissória. A confirmação do anúncio só vai para as re
des sociais, portais locais e rádios, quando a mala estiver garantida. O pagamento é antecipado. Óbvio que nem todos esses líderes compactuam com a prática e nem todos os candidatos vão em frente com o negócio. Alguns porque não têm “bala”, mesmo. É o que se houve e se confidencia nas rodas.
Na prática, há uma crise profunda de confiança, que não se resume apenas à velha relação candidato e eleitor. É uma crise que eclode antes da fase de convencimento do povo. Ao condicionar o apoio ao pagamento antecipado, os “vendedores” deixam claro que não acreditam que a promessa será cumprida no futuro, mesmo com a segura perspectiva de poder. Estima-se que para se eleger um deputado federal será necessário 150 mil votos. Um deputado estadual, 70 mil. Segundo especialistas, os números são altos, o q
ue, sem dúvida, favorece quem já está no poder ou perto dele, quem tem dinheiro ou herda o capital eleitoral de um pai, tio, primo, mãe e irmão.
Muitos impõem a “condição antecipada” porque, em outras ocasiões, o emprego prometido não chegou, o contracheque (sem comparecer à repartição) não foi possível entregar, a licitação não deu para direcionar ou o cheque cruzado não tinha fundos. Resumo da ópera: a promessa já não tem mais valor nesse balcão de negócio e estamos diante da naturalização de mais uma prática nociva, difícil de provar, difícil de combater sem uma reforma eleitoral profunda.