O aliado mais importante do PT no governo federal será um de seus principais adversários nas eleições estaduais deste ano. Candidatos a governador petistas vão concorrer com peemedebistas em Estados que concentram 3 de cada 4 eleitores do País.
As relações entre PT e PMDB nunca foram exatamente de lua de mel, mas 2014 marca um afastamento significativo entre os dois partidos nas disputas estaduais. As alianças vão abranger apenas 25% do eleitorado, metade da taxa registrada na eleição de quatro anos atrás.
Os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, desde o início do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006), o número de apoios mútuos entre PT e PMDB nas disputas para governador vem aumentando constantemente. Mas esse fenômeno se concentra nos Estados de menos peso eleitoral.
Em 2002, os dois partidos não dividiram nenhum palanque estadual. Mas isso ocorreu por imposição legal: o TSE determinou a chamada verticalização das alianças, ao proibir coligações nos Estados entre partidos que, no plano federal, eram adversários.
Na época, o PMDB apoiou formalmente o candidato tucano à Presidência, José Serra, e indicou a candidata a vice-presidente na chapa, a então deputada Rita Camata (ES). Essa aliança inviabilizou qualquer acordo entre peemedebistas e petistas nas disputas para governador.
De lá para cá, e sem a regra da verticalização, o número de Estados em que um dos dois partidos apoiou o outro passou de 5 em 2006 para 9 em 2010 e 10 neste ano. Hoje as siglas estão juntas em vários Estados com eleitorado pequeno, como Alagoas, Tocantins e Mato Grosso.
A única exceção é Minas Gerais, onde o PMDB apoia o candidato petista, Fernando Pimentel. Em 2010, os dois estavam juntos não apenas em Minas, mas também no Rio de Janeiro, no Paraná e no Ceará, Estados que estão entre os dez de maior eleitorado no Brasil.
Base fragmentada. Esse afastamento é, muitas vezes, explicado pela dinâmica da política local, mas também reflete o esfriamento da relação PT-PMDB na esfera federal. Isso foi notado primeiro no Congresso e, posteriormente, nas discussões para formação de alianças eleitorais em 2014. Parte dos líderes peemedebistas passou a defender abertamente o rompimento com a presidente Dilma Rousseff e o apoio a seu principal adversário na corrida eleitoral, Aécio Neves (PSDB).
Os chamados dissidentes peemedebistas mostraram controlar cerca de 40% da cúpula do partido na convenção que aprovou, por 59% dos votos válidos, a permanência de Michel Temer (PMDB) como vice na chapa de Dilma. Em 2010, a aliança com os petistas foi aprovada por uma margem muito maior – quase 85%.
O PSB, integrante da base governista até meados do ano passado, se afastou ainda mais do PT nos Estados desde 2010, em função da mudança na conjuntura federal com o lançamento da candidatura do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos à Presidência.
Em setembro, o partido entregou os cargos que ocupava no governo federal e, de lá para cá, Campos tem feito críticas à gestão Dilma. Por ora, o candidato do PSB ainda poupa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem foi ministro entre 2004 e 2005.
Nas eleições estaduais de 2006, os dois partidos eram adversários em Estados que somavam 51% do eleitorado nacional. Agora, esse número passou para 88% – ou seja, quase 9 em cada 10 eleitores.
Interações
A chegada do PT ao poder federal impulsionou a “promiscuidade” do partido nas disputas estaduais. Quando faziam oposição ao governo Fernando Henrique Cardoso, os petistas só fizeram coligações regionais com 36% dos partidos existentes em 1994 e 52% das legendas de 1998. Em 2002, com a verticalização e Lula ainda candidato sem vitória no currículo, a taxa foi a 55%. E só cresceu nos anos seguintes: 64%, 73% e 77% em 2006, 2010 e 2014.
Já o PMDB sempre se relacionou com diversos parceiros: em 1998, o arco de alianças estaduais incluiu 93% dos partidos existentes. Na eleição seguinte, com a verticalização, a taxa caiu para 38%. Depois, foi a 89% (2006), 85% (2010) e 87% (2014). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.