Segundo li ontem no portal MaisPB, do meu dileto Heron Cid, o governador Ricardo Coutinho chamou de falso, hipócrita e mentiroso o ‘debate’ sobre a terceirização do Hospital de Trauma de João Pessoa.
Para que o leitor não se espante, pensando estar diante de notícia segundo a qual Sua Excelência teria submetido a debate essa ou alguma outra iniciativa do Ricardo I, é bom esclarecer que em ricardês a palavra ‘debate’ significa crítica.
Assim fica mais fácil entender que o debate não existe, até por que o governador não admite debater coisa alguma do que faz ou decide fazer. E se ele não suporta debate, muito mais intolerante o é em relação a críticas.
Bem, mas se ele por acaso deu cabimento de se referir mesmo indiretamente a este colunista, devo esclarecer que os comentários sobre o assunto aqui publicados são muito mais a expressão de um receio do que uma manifestação crítica.
Temo, realmente, que a pretensa contratada, mesmo sendo a filial do Rio Grande do Sul da Cruz Vermelha Brasileira (CVB), não dê conta do recado, não tenha capacidade para administrar um hospital do porte e da complexidade do nosso HT.
Isso se realmente for a representante gaúcha da Cruz Vermelha, que, mesmo me parecendo ser a mais ou uma das mais idôneas entre todas as representações estaduais da CVB, ainda assim não mostra perfil nem embocadura de gestão hospitalar.
Digo isso porque visitei ontem o sítio da CVB-RS na Internet e não vi entre as missões, finalidades estatutárias ou objetivos da entidade algo que significasse gestão pactuada ou parceria para gerir hospitais públicos ou privados.
Dos objetivos da CVB-RS, aliás, o que mais se aproximaria do que faz um hospital como o nosso HT seria “serviços de socorro de emergência”. Mesmo assim, tais serviços a CVB-RS apenas organiza para socorrer “vítimas de calamidade”.
Bom, a não ser… A não ser que o contrato entre o Estado e CVB-RS considere toda a população paraibana vítima de calamidade, calamidade essa que seria o próprio governo Ricardo Coutinho. Aí, sim, faria o maior sentido semelhante contratação.
De qualquer sorte, como disse na coluna de sexta última, vamos torcer para o sucesso da iniciativa.
Afinal, alguma coisa na Nova Paraíba tem que dar certo, além dos negócios de Roberto Santiago, dono do Manaíra Shopping e, como diria o Professor Flávio Lúcio Vieira, “do coração republicano de Ricardo Coutinho”.
Mais uma preocupação
Mesmo correndo o risco de ser tachado de ‘falso, hipócrita e mentiroso’, insisto no ‘debate’ (na acepção que lhe dá o dialeto ricardiano) e continuo preocupado com esse negócio com a Cruz Vermelha, mesmo se for fechado com a filial gaúcha.
Porque, vejam bem, além de não encontrar nada entre finalidades e objetivos da instituição que lembre experiência em gerir um hospital, também não encontrei qualquer notícia sobre o suposto lance com a Paraíba.
Daí por que acrescentei aos meus temores mais uma preocupação: será que a CVB-RS está sabendo que vai assumir o Hospital de Trauma de João Pessoa? Será que foi mesmo com a CVB-RS que o Doutor Ricardo ou um representante seu negociou?
Bem, eu só não quero é ver acontecer aqui o que aconteceu, por exemplo, em Brasília, em agosto do ano passado, quando o Governo do Distrito Federal suspendeu um contrato que tinha com a Cruz Vermelha Brasileira, filial de Petrópolis (RJ).
Através desse contrato, o GDF havia terceirizado à CVB de Petrópolis (outra bem referenciada) a gestão das Upas (unidades de pronto atendimento, bem mais simples que um hospital de emergência e trauma).
Por que o DF cancelou?
Cancelou porque auditorias detectaram supostas irregularidades no contrato. E porque a procuradora Cláudia Fernanda de Oliveira Pereira, do Tribunal de Contas do DF, questionou a legalidade do contrato e pediu a sua suspensão. E por que ela pediu?
Segundo publicou o Correio Braziliense em 24 de agosto de 2010, a Doutora Cláudia pediu porque não se provou “por qual motivo (o governo) se socorre da terceirização, sem tentar investir na própria capacidade instalada”.
A procuradora criticou, particular e duramente, o fato de o governo do DF (então administrado por José Roberto Arruda, do Dem, preso e deposto sob acusações de corrupção), ter preferido “o trespasse de recursos para instituições privadas, à custa da frouxidão dos controles, em vez do investimento sólido em ações e serviços públicos de saúde”.
Não, não quero isso no meu Estado. E você?
E o forte da CVB-RS é…
Pelo que pesquisei, li e entendi, a CVB-RS é forte mesmo em ajudar na recuperação de pessoas dominadas ou arruinadas pelas drogas ou problemas existenciais, mentais etc.
Eis a razão de extensiva presença no portal da CVB-RS de informações sobre temas como alcoolismo, agorafobia, anorexia nervosa, estresse, transtornos psicóticos, demência, depressão e esquizofrenia, entre outros.
A propósito de esquizofrenia, quem cuida dela no portal da CVB-RS é o Doutor Roberto Wagner Gattaz e a descreve assim, em artigo lá publicado no dia 7 de maio passado:
– A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica endógena que se caracteriza pela perda do contato com a realidade. A pessoa pode ficar fechada em si mesma, com o olhar perdido, indiferente a tudo o que se passa ao redor ou, os exemplos mais clássicos, ter alucinações e delírios. Ela ouve vozes que ninguém mais escuta e imagina estar sendo vítima de um complô diabólico tramado com o firme propósito de destruí-la. Não há argumento nem bom senso que a convença do contrário.
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Por essas e outras, caríssimas e caríssimos, não só as mantenho como aumentam as minhas preocupações em relação a mais esse negócio do Ricardo I. Como também mantenho acesa a luz vermelha para esse contrato.