Repulsa ao chapão

POR RUBENS NÓBREGA

Algo me diz que haveria forte reprovação de segmentos importantes da sociedade e do eleitorado paraibano se o governador Ricardo Coutinho viesse mesmo a fechar um chapão com o PMDB e o PT. Por mais contraditório que possa parecer, acredito que o acordão teria o efeito de gol contra junto à opinião pública mais politizada, mais consciente e, sobretudo, junto aos cidadãos independentes.
Por maior habilidade verbal que Ricardo e seus novos parceiros tivessem para explicar e justificar tal aliança, pouco ou nada do que dissessem removeria da inteligência de muita gente boa as dúvidas – em alguns a certeza – de que os acertos entre os envolvidos na negociação passaram por tudo, menos por um tal de espírito público; muito menos, pelo sempre decantado republicanismo.
Digo assim porque a primeira coisa que ouvi ontem cedo da manhã sobre o suposto fechamento da coligação PSB-PT-PMDB foram menções variadas, acompanhadas de sentida indignação, a uma pretensa oferta de milhões de reais (teve gente falando em R$ 20 milhões) e suposta promessa de toda a estrutura necessária a uma boa campanha para os proporcionais peemedebistas.

Com isso, seriam resolvidas todas as pendências e resistências dentro do PMDB à adesão do partido ao governador. Mas, pelo menos dessa vez, sendo verdade que teriam rolado mesmo propostas indecentes de lado a lado, não valeu a ‘máxima’ segundo a qual “quando peia ou dinheiro não resolve é porque é pouco”.
Particularmente, prefiro acreditar que o negócio não foi consumado porque ainda resta um pingo de coerência política e um tico de zelo pela história de um partido que um dia apresentou-se ao país como fundador de uma Nova República.

 

Tatiana seria a vice
De qualquer sorte, pode ser até que volte a existir, mas o fato é que não vingou o chapão tenazmente perseguido pelo governador, que teria exigido do PMDB o nome de Veneziano Vital para vice e depois cedeu à sugestão do nome da deputada Nilda Gondim. Mas tanto o filho como a mãe recusaram o papel e indicaram a médica Tatiana Medeiros, que em 2012 foi a candidata peemedebista à Prefeitura de Campina Grande. A Doutora, por sua vez, também não estaria disposta a ser companheira de chapa de alguém que critica e combate com muita contundência e convicção há três anos e meio.
Veto dos deputados

De qualquer modo, as alegadas dificuldades colocadas no caminho dos planos de Ricardo seriam mais facilmente removíveis não fosse o veto ao acordão formulado pelos Paulino (o deputado Raniery e o ex-governador Roberto), pelo deputado estadual Trócolli Júnior e o federal Manoel Júnior.
Os Paulino, até onde me foi dado saber, porque defendiam fervorosamente a candidatura própria; Trócolli e Manoel Júnior, porque defendiam ardorosamente levar o partido para os braços do senador Cássio Cunha Lima, o candidato a governador do PSDB.
Por último, mas não menos importante, voltou à cena o senador Vital Filho, que no final da noite do sábado teria desistido de disputar o governo pelo PMDB e na manhã de ontem mudou ideia ao receber garantias até da Presidente Dilma de que o PT paraibano vai se enquadrar e apoiá-lo, inclusive com um nome bacana para vice.

 

Mercadante e Falcão

Além de Dona Dilma, Vital conversou por telefone sobre o assunto com o ministro Aloísio Mercadante, da Casa Civil da Presidência da República, e mais uma vez com o presidente do PT, Rui Falcão. Nomeados informalmente depositários fieis das salvaguardas oferecidas ao senador paraibano, aqueles dois ficaram de enviar um membro da Executiva Nacional para acompanhar a convenção estadual que os petistas daqui pretendem fazer hoje conjuntamente com o PSB.
Pode acabar na Justiça

Se mantida e cumprida a palavra dada a Vital Filho, como já disse caberá ao PT estadual indicar o vice para a chapa encabeçada pelo PMDB. A consequência previsível desse ‘enquadramento’ é uma disputa judicial. Desde ontem, tanto o governador como o prefeito Luciano Cartaxo, de João Pessoa, articulador do apoio à reeleição
de Ricardo, estariam emitindo sinais de que podem recorrer à Justiça para manter a aliança PSB-PT.
Para tanto, têm um argumento muito forte: a participação petista no projeto ricardista, que tem como maior expressão a presença de Lucélio Cartaxo candidato a senador pelo PT na chapa do PSB, não apenas uniu dois terços do petismo paraibano em torno de uma causa como foi aprovada pela quase unanimidade (13 a um) na Executiva Estadual.
O problema, contudo, é porque lá em Brasília e em um certo prédio de apartamentos em São Bernardo do Campo (SP) mora um barbudo que também teria abençoado o apoio do PT à candidatura de Vital Filho a governador da Paraíba. Afinal, como se fosse pouco ele presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, presidente também as CPIs palanques que investigam negócios da Petrobrás. E por essas e por outras atualmente ele é nada menos que o senador do PMDB de maior prestígio no Palácio do Planalto depois do próprio Renan Calheiros, presidente do Senado.