Análise: Pesquisas indicam que o voto começa a sair da barriga e está subindo à cabeça do eleitor

Por Josival Pereira

Análise: Pesquisas indicam que o voto começa a sair da barriga e está subindo à cabeça do eleitor

Difícil, no momento, se fazer qualquer prognóstico do que vai acontecer nas eleições gerais deste ano. Mas um ponto já chama a atenção e se sobressai em relação aos demais: são bem expressivos os índices de eleitores insatisfeitos e de eleitores que se mostram mais exigentes.
Neste último Ibope, divulgado nesta quinta-feira, por exemplo, a rejeição à presidente Dilma Rousseff (PT) bate os 43%, a de Eduardo Campos (PSB) chega aos 33% e Aécio Neves (PSDB) está ali, colado, com rejeição de 32%. São índices bastante elevados, como pouco se viu no Brasil.

A pesquisa aponta ainda que um quarto dos eleitores não está nenhum pouco interessado nas eleições, além de mais de 40% que estão pouco interessados.
Trata-se de clara e solene rejeição ao tipo de política que se pratica no país. Reprovação também à inoperância dos gestores em relação aos serviços públicos. São estratosféricos os números de reprovação da saúde (78%), dos impostos (77%), da segurança pública (75%), da política de combate à inflação (71%), da taxa de juros (70%), da educação (67%), do combate ao desemprego (57%) e da gestão do meio ambiente (52%).
Não se trata de uma reprovação apenas à gestão da presidente Dilma Rousseff. Nos Estados, as pesquisas apontam reprovação semelhante aos governadores.
Apesar da difícil previsibilidade, o quadro que se apresenta indica mudanças substanciais na postura do eleitor brasileiro. Parece haver um novo cidadão, um novo eleitor, se utilizando de elementos novos para avaliar os políticos e definir seu voto.
O marco das mudanças na cabeça do eleitor talvez tenha sido as manifestações de rua de junho do ano passado. Talvez as ruas tenham sido apenas o palco para revelação desse novo eleitor, que se mostra, em índices elevados nas pesquisas, um tanto indócil em relação aos políticos. Importa que o eleitor atual é diferente.
Alguns cientistas políticos costumavam afirmar que o voto, no Brasil, era definido no estômago. Eram as necessidades dos eleitores mais pobres que funcionavam como elemento definidor do voto e das eleições. Podia-se até comprar eleições com cestas básicas, remédios, tijolos e sacos de cimento, além dos programas sociais. A democracia passava pela barriga.
As pesquisas de agora, no entanto, revelam que mais da metade dos eleitores brasileiros parecem mais interessados nos serviços públicos e nos projetos de governo do que as ações de socorro ao estômago e suas necessidades pessoais.
O Ibope mais recente traz um dado de fazer cair o queixo: 53% dos brasileiros já desaprovam a política de combate à fome e à pobreza. Esse índice era de apenas 33% em 2011e de 49% na pesquisa de março último. Significa que está crescendo até a visão crítica em relação ao programa Bolsa Família, quase intocável até bem pouco tempo.
Na Paraíba, um dos principais temas da campanha até agora tem sido a postura, comportamento e atitudes pessoais do governador. Um item que não tem nada a ver com a barriga.
A impressão que vai se firmando é a de que a democracia brasileira está saindo do estômago e subindo à cabeça do eleitor. Ou seja, o eleitor está mais consciente e usando outros elementos, como a ficha corrida, a capacidade administrativa, a postura pessoal e a história, além dos projetos de governo, para definir o voto. E é dessa cabeça que ninguém sabe o que vai sair nas eleições de outubro, porque é algo novo, muito novo, na polícia nacional. Ruim para os políticos, mas bom para o Estado brasileiro, para a sociedade de uma maneira geral, para a democracia.

por Josival Pereira