Gilvan Freire
Afora Zé Maranhão, com seu acendrado amor ao PMDB, ninguém mais acredita na candidatura de Veneziano, que está cumprindo apenas uma estratégia de retirada em brevíssimo tempo. A saída, contudo, é ainda mais dramática do que a própria construção da candidatura, que foi feita de forma muito penosa atravessando os caminhos cobertos de gilete que lhe impôs o PT paraibano. O PT não tem pena do autoflagelo, como poderia ter pena de flagelar o PMDB, de quem não gosta?
Mas a via crucis de Veneziano começou lá atrás quando encerrou o segundo mandato de prefeito, ao final de 2012, deixando um acervo de problemas administrativos incompatível com o projeto de governar a Paraíba. Sua administração em Campina deveria ser o melhor espelho de sua candidatura, mas já não projetava mais a imagem do jovem audacioso que fazia tremer o solo campinense como um vulcão irritado. O chão agora já não treme mais, por razões óbvias.
ORA, SE O PRÓPRIO POVO DE CAMPINA DEMONSTRAVA-SE DESAPONTADO COM A ADMINISTRAÇÃO DE VENEZIANO, como imaginar-se que fora de Campina Veneziano conseguisse convencer a população eleitoral para um projeto de maior dimensão logo no campo administrativo, onde a experiência realizada seria o grande referencial?
Acontece que o nome de Veneziano vinha em disparada ascensão desde que balançou as redes de Cássio nos campeonatos locais por duas vezes seguidas, mas começou a fazer gols contra quando mais se lhe exigia desempenho em campo. Ademais, contrafeito porque Maranhão não lhe cedeu a candidatura em 2012, Veneziano e a família cruzaram os braços na campanha do velho artilheiro e foram cuidar dos destinos domésticos, endividando a prefeitura e desmantelando a gestão. Sobraram dois mandatos federais, uma queima da boa biografia e a derrota do PMDB ao governo – derrota que lhe condena à morte precoce agora.
DE FATO, SE VENEZIANO TIVESSE SIDO O VICE DE ZÉ MARANHÃO em 2010, o resultado da eleição teria sido outro, o desastre de sua administração teria sido transferido a seu vice, Zé Luiz, o resultado das últimas eleições em Campina não teria sido o mesmo, RC não existiria (para o bem e a paz da Paraíba), Cássio teria escapado com avarias (ou não escapado) e Maranhão – que hoje o protege sem armas – estaria armado até os dentes para fazer sua campanha de governador. Mas Veneziano, olhando apenas para seu próprio umbigo, superestimando seu carisma e lendo errado os recados das profecias, acreditou em moinhos de vento, como fez um dia D. Quixote de La Mancha.
DISSO TUDO, OBSERVAM-SE DOIS FOCOS DA CRISE QUE AFUNDA O VELEIRO DO PMDB, afora os erros cometidos pelo próprio Veneziano: o fato de Zé Maranhão ter deixado que Vitalzinho e o irmão conduzissem o partido no interesse deles dois, sem levar em consideração a opinião de outros líderes; e a traumática negociação com o PT, feita em clima de uma guerra suja na Paraíba e uma paz forçada vinda de cima – paz celebrada para ninguém cumprir com fidelidade nem aqui nem lá. O pacto celebrado entre o PT e o PMDB, a se vê pelo resultado da convenção peemedebista, é uma mentirinha para uns enganarem aos outros, numa tentativa desesperada de salvar Dilma dessa onda nacional de mau humor coletivo contra o PT e seu governo, ambos testados em popularidade ao lado da FIFA nas arquibancadas da Copa do Mundo. É hora de meditar sobre as melhores saídas e soluções que não contemplem apenas interesses familiares, e sim o sentimento partidário do maior partido da Paraíba. Sob pena de um desastre ainda maior.