O “discurso do medo” exibido na propaganda do PT dividiu a cúpula do governo Dilma Rousseff. Enquanto parte dos ministros considerou necessária a peça publicitária montada pelo marqueteiro João Santana como forma de demarcar território contra os tucanos, outro grupo também influente nas decisões da presidente deixou clara a insatisfação com o tom sombrio do comercial.
No anúncio de um minuto que começou a ser veiculado na terça-feira, atores fazem o papel de homens, mulheres e crianças felizes — com emprego, remédios, carro e escola —, até avistarem eles mesmos desempregados, a pé, a pedir esmolas. No fim da peça, uma voz diz: “Não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo o que conseguimos com tanto esforço”.
O PT apresentará nesta quinta-feira (15/5) a propaganda partidária de 10 minutos com um jogral entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ressaltando os avanços do país nos últimos 12 anos, e a expectativa é saber se o tom da inserção de um minuto será mantido.
Não é a primeira vez que há uma nítida divisão no Planalto sobre os rumos do discurso de campanha petista. Em janeiro deste ano, o partido fez um ataque direto ao candidato do PSB, Eduardo Campos. Como da primeira vez, a discussão interna do governo é até que ponto o PT não está antecipando as investidas contra a oposição e, assim, expondo no limite o receio de perder a eleição. Para os defensores de João Santana, o marqueteiro sabe o que está fazendo ao ter em mãos pesquisas internas que mostram a necessidade de partir para o ataque o mais rápido, por mais que, por ora, a estrutura do comercial possa servir apenas para animar a militância petista. Em contrapartida, municia o discurso da oposição.
Para o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), o próprio debate gerado pela propaganda mostra que o partido acertou na estratégia. Sobre o tom sombrio da peça, ele acha que a tendência é um crescente de otimismo nas próximas inserções. “Eles estão querendo sepultar o que fizemos ao longo destes 12 anos. Não estamos incutindo o medo, apenas mostrando que a campanha deles se baseia em propostas vazias”, completou Costa.
“Desesperança”
Convidados ontem para uma sabatina durante a Marcha dos Prefeitos, o pré-candidato do PSDB, Aécio Neves, e o do PSB, Eduardo Campos, repetiram as críticas feitas na véspera. “Depois de 12 anos no poder, é isso que o PT tem a oferecer ao país? O medo, a desesperança? É o sinal de um governo que está em seus estertores”, declarou o tucano. Ao Correio, ele usou de ironia. “Os petistas estão, sim, com medo de perder o emprego dos companheiros”, provocou. Eduardo também atacou o tom pessimista da propaganda petista, lembrando que, em períodos eleitorais, aparecem pessoas dizendo que se “alguém for eleito, fará determinada coisa, e, se outra pessoa for eleita, não fará”. Correio Braziliense