SOBRE HOMENS E MULHERES

POR CARLOS CHAGAS
  • Que nos perdoem nossas avós, nossas mães, nossas filhas e nossas netas, mas é uma aberração estabelecer quotas para mulheres se candidatarem a postos eletivos, conforme projeto do senador Anibal Diniz, do PT do Acre.

Como medida temporária, até se aceitam as quotas para negros ingressarem nas universidades.Trata-se de uma dívida histórica para com os menos favorecidos, já que o fim da escravidão deu dignidade mas não deu condições econômicas para nossos irmãos de cor.

Agora, estabelecer que metade das vagas no Congresso, nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras de Vereador sejam obrigatoriamente disputadas e preenchidas pelo sexo feminino será distorcer o direito de voto. A alegação do senador é de que as mulheres perfazem hoje 51% da população no Brasil, mas sua representação política não chega a 10%. Não seria melhor deixar a decisão para o eleitorado? E estimular as mulheres a se candidatar? Nenhuma está proibida. Se o número de candidatos masculinos é maior, deve-se ao fato de menos mulheres do que homens terem se apresentado às urnas. Estabelecer o mesmo número de vagas para os dois sexos seria forçar a natureza, já que apresentar-se candidata depende apenas delas. E dos votos que conquistarem, para exercer o mandato. O mérito de um representante do povo não depende do sexo a que pertence.

A distorção do princípio da livre representação fica evidente e nos faz lembrar três personagens: Jânio Quadros, Lula e Napoleão.

Jânio Quadros, porque quando na presidência da República, ao escolher um embaixador do Brasil para Gana, entendeu nomear um negro para o posto, já que nos representaria num país de negros. Carlos Lacerda, então rompido com Jânio, diante de vaga de embaixador na Suécia, indagou se seria nomeado um lourinho…

O Lula, em seu primeiro mandato, achou que como o Supremo Tribunal Federal não tinha ministros negros, indicaria um. Foi até muito feliz escolhendo Joaquim Barbosa, pois o que se exige para a magistratura superior é alto saber jurídico e reputação ilibada. Apesar disso, logo surgiram maliciosas observações: “não há no Supremo um ministro de origem japonesa e olhos puxados” ou “precisamos de um índio no Supremo”. “Não há um ministro anão. Nem um gigante.”

Quanto a Napoleão, vale registrar a carta que enviou a Josefina, de um dos campos de batalha onde deixou a Europa de joelhos. Escreveu que não era o senhor absoluto do mundo, como diziam os bajuladores, porque existia alguém que mandava nele e impunha todos os seus atos. Revelaria quem era, na próxima carta. Imediatamente, na corte francesa, movimentou-se a nobreza para identificar o todo-poderoso e até fazê-lo imperador, no lugar de Napoleão. Veio a revelação: seu supremo senhor era a natureza das coisas…

Pois é. A natureza das coisas indica que sendo homem, mulher, negro, branco, pardo ou índio, quem representar o eleitor deve ser, sem qualquer discriminação, alguém capaz de trabalhar para o povo e melhor desempenhar o seu mandato. Para defender os direitos dos anões ou dos gigantes, não é necessário ser gigante nem anão…